Capítulo 8

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Milena permanecia parada em frente ao orfanato chamado Brilho Celeste, um lugar que gostava de vir às escondidas duas vezes por semana. Sua tristeza era apaziguada ao estar perto das outras crianças que sabiam o que era a rejeição ou a perda de um ente querido, fazendo a mágoa dela parecer a coisa mais insignificante do mundo. Já fizera muitos donativos, gostava de ajudar, principalmente estar perto dos orfanados como uma amiga que mais a consideravam como uma mãe. Pois eles a tratavam assim toda a vez que a viam.

Era um bálsamo ficar ali. Ainda mais que Diogo não a acompanhava, chateada por suas ações. Fingira que tudo estava bem, aceitando o passeio extraordinário que aconteceria quando ele voltasse de acampar. Mas uma sensação de ausência a invadiu com essa ideia de não ficar ao lado dele. Queria casar, ter filhos e ser uma esposa ajudando o marido, não só no lar, como também, uma companheira nas finanças. Até cogitara pedir ao pai um emprego. Realmente, desejava dar o seu melhor. Contudo, o namorado rico e famoso parecia evasivo em relação a ideia de casamento, deixando-a um pouco frustrada. Jamais vira qualquer atitude dele para ter um compromisso sério além da cama.

Como estaria em um período longo de feriado sozinha, ajudar no orfanato seria uma atividade muito gostosa.

Ao adentrar à construção, encaminhou-se até a sala da diretora, onde Magda, um mulher de 53 anos, sentava-se à mesa lendo alguns papeis, entretida sem nem piscar os olhos.

- Com licença - Milena disse.

A diretora Magda levantou a cabeça e, ao constatar que era Milena, seu rosto que antes transmitia seriedade e ocupação, atenuou-se, surgindo um sorriso doce e delicado dos lábios.

- Milena, que bom que você veio - exclamou -, hoje as crianças, jovens e adolescentes estão agitados!

- Por que?

- Toda vez que um menino ou uma menina é adotado fica uma comoção enorme, ansiosas para encontrarem um lar também.

- Mas isso não é bom?

- Não. Depois vem aquela sensação de melancolia. Aquela dor de ter sido deixado para trás, vindo, logo em seguida, aquela sentimento de frustração. Não é fácil ser abandonado pelos pais que morrerem ou porque não quiseram ter responsabilidade com os filhos.

- Isso é horrível.

- Por isso, você está aqui, para apaziguar essa dor. E, o que pretende hoje?

Milena abriu o zíper da bolsa retirando o livro Reinações de Narizinho e mostrando para Magda.

- Vou ler para eles.

- Maravilha! Fique à vontade.

- Obrigada.

Ela saiu da diretoria, dirigindo-se até o pátio.

À medida que se aproximava, uma cacofonia de vozes era ouvida de inúmeros orfanados. Aquilo acalentou o coração de Milena, feliz, sendo útil quando achava que nem sabia se comportar numa festa elegantíssima que a sua mãe costumava dar às vezes ou ter o faro para os negócios como o pai.

O período de estudo havia acabado e havia um monte de órfãos que corria de lá para cá brincando e alguns em grupinhos conversando. Meninos e meninas, garotos e garotas de várias idades que tinham algo em comum, à espera de ter uma família. Alguém que os amassem sem se importar com as diferenças, aceitos e nunca mais terem aquele medo de serem abandonados.

Assim que Milena chegou ao pátio, as crianças que já a conheciam, logo vieram em um rompante, cercando-a entusiasmadas pela visita, eufóricos em ter a atenção dela.

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