(21) Amanda, sua cabra inteligente.

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Querido Michael,
Dia 5

Sei que não te tenho respondido ás cartas mas isto tudo têm me feito mal. Felizmente o Harold está ao meu lado. Não sei se a Amanda te falou dele, é o seu pai biológico e já nos separa-mos á uns bons anos mas com isto tudo temos ficado próximos.

Nestes últimos dias tenho pensando em ti, por favor diz-me que não deixas-te a tua vida para ir atrás da minha filha?

Tu também tens uma Mãe que deve estar a morrer de preocupação, amigos que também devem ter saudades e uma vida para ser vivida. Se isto tudo ocupar a tua vida, peço que desistas e a vaias viver.

Daisie.   

Dobrei a carta pelos seus antigos vincos, guardando-a no bolso das minhas calças. Observei por uns momentos tudo á minha volta. Poucas pessoas encontravam-se no gigante de metal: apenas eu; um homem de gravata que preenchia o silêncio gritando para o telemóvel; uma velhinha com o seu neto e uma rapariga que murmurava silenciosamente a letra de uma música que estava a ouvir.

Os meus olhos desceram até ao peito da rapariga, nada mal definido. Rapidamente escondi a minha cara quando vi que a sua t-shirt era da banda.

Ela olhou para mim durante uns instantes, talvez por me ter sentido a observar e admirou-me mais alguns segundos antes de anuir negativamente, voltando a concentrar-se na música.

" Esta é a última paragem, todos os passageiros façam o favor de sair. " Ouviu-se a voz ecoar pelo comboio.

Rapidamente puxei o capuz mais perto da minha cara, saindo pelas portas do comboio apressei-me a sair do edifício degradado em direção a um café, onde toda a gente se encontrava vidrada na TV.
Os meus olhos não resistiram em pousar no ecrã, vendo a minha cara lá reflectida.

" Ao que parece Michael Clifford continua desaparecido, faz hoje 6 dias. Alevantou todo o dinheiro da sua conta. A sua banda recusa-se a dar concertos sem o determinado guitarrista. Será que isto é o fim da banda 5 Seconds Of Summer, que ainda mal começou a chegar ao estrelato? "

Puxei o capuz mais perto da minha cara, esboçando um sorriso leve.

" Desculpem rapazes. " Sussurei, pousando ás mãos no balcão. " Prometo que isto não vai demorar muito. "

Pedi o que queria e sai rapidamente com medo que alguém me reconhece-se. Talvez a Mãe da Amanda tivesse razão, estava a ser demasiado egoísta por deixar estas pessoas todas para trás para ir atrás de uma rapariga que nem conheço. Assim do nada sem avisar ninguém mas tenho de admitir quando foges ao princípio é difícil mas depois é como um vício, o sabor a liberdade. Talvez a entenda.

Comecei a sentir pequenas gotas a abater sobre o meu corpo. Decidi tirar o casaco, uma boa constipação é um bom castigo. Sentei-me numas pequenas escadas pelo caminho, simplesmente deixando a chuva violentamente ensopar o meu corpo.

Até deixar de sentir ás gotas sobre mim, elevei a cabeça lentamente para ver a senhora do café com um chapéu de chuva a proteger-me.

" Então rapaz? " Exclamou, esboçando-me um sorriso. " Não se pagou a conta da água, lá em casa? "

" Que eu saiba, não. " Respondi  amargamente, voltando a abaixar a cabeça.

" Anima-te rapaz! " Exclamou, fazendo-me voltar a olhar para ela. " Tenho uma coisa para ti. "

Amanda, sua cabra inteligente sabes sempre como me surpreender! A mulher sorriu-me, entregando a carta que tinha na sua posse, vendo logo a bela letra manuscrita da Amanda a exibir o meu nome. A quarentona ofereceu-me o chapéu de chuva que aceitei de bom grado e apressou-se a correr para o edifício estupidamente torto, a que chama café.

Rasguei o papel fino do envelope como uma criança pequena no dia de natal, começando a ler a carta que saudades tinha da sua letra e da sua ironia.

DEAR AMANDA, • mgc (EM EDIÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora