(44) Ela partiu-se.

133 14 2
                                    

Querida Mandy,                                                 3 de Outubro de 2006

Hoje senti algo que nunca pensei sentir na minha pequena vida de apenas 10 anos, algo tão destrutivo e depressivo que até o meu coração parou de bater por breves momentos, sem nenhum sentimento de compaixão mas apenas egoísmo. 

Estava num dia normal de escola com uma leve diferença, era um dia especial tinha a responsabilidade de ir pela primeira vez sozinho para casa. Desci a rua que se encontrava á frente da escola quando vejo uma rapariga a ser assalta por um homem maior muito mais velho que ás nossas idades juntas. Ela gritou mas ninguém ouviu sem ser eu, continuei imóvel sem fazer nada quando uma voz na minha cabeça me disse uma simples palavra: ' foge! ' os meus pés obedeceram e fugi na direção contrária. 

Sinto-me bastante mal quanto á rapariga, mesmo que fosse só eu poderia ter feito alguma coisa, pois quando cheguei a casa pelo telejornal, soube sobre a sua morte. O seu nome era Caitlin e era tão bonita e cheia de vida, devia ter feito alguma coisa. Sinto-me horrível.

Da tua querida testemunha de crime,

M. 

Essas palavras vieram-me á cabeça enquanto os seus braços se agarravam ao meu corpo e deixava todas ás lágrimas sair da sua alma. Ainda não tinha sido capaz de dizer uma unica palavra legivel aos meus ouvidos, apenas murmurios de dor e concordância de quando lhe perguntava algo. Ela estava mesmo em pura agonia. Chegou assim depois de sair.

- Amanda, o que é que aconteceu?  - perguntei, afastando-a dos meus braços mas ela volta a abraçar-se a mim, fazendo-me simplesmente olhar para ela nos meus braços.

Por momentos observei-a a fechar os olhos e a respirar fundo antes de abrir os olhos, sair dos meus braços e limpar as lágrimas debaixo dos seus olhos. A sua boca abriu mas resultou outra vez em ela fechar os olhos e respirar fundo.

- O meu irmão morreu. - soltou rápido com os olhos fechados.

- Desculpa Amanda... Eu não sabia.  - sussurei, puxando-a contra o meu peito e sentindo a sua cara a afundar na minha t-shirt.

- A culpa não é tua. Não digas aos rapazes, eu gosto muito deles e isso tudo mas sei que me vão tentar animar e não estou com paciência para isso.- disse com a sua voz abafada pela minha t-shirt.

Esta rapariga conhecia-nos tão bem que até assustava, sabia que a odiava-mos ver de qualquer maneira possivel sem ser feliz ao nosso lado.

Ela alevantou-se da cama do seu quarto, onde estavamos sentados saindo para o corredor e passando pelo corredor onde estavam os rapazes e que ela ignorou, descendo as escadas até á cozinha. Os rapazes seguiram á minha frente pelo corredor até á cozinha ficando a observa-la.

De todos os armários que se encontravam na divisão e que desarrumou, finalmente pareceu encontrar o que queria tirando uma garrafa de vidro que rapidamente levou á boca. De todos nós o Calum foi o primeiro a reagir á imagem deprimida da Amanda.

Correu o que faltava até ela batendo na garrafa que tinha na mão para chão que se partiu em mil bocados. Eu sabia que ela tinha esse problema mas nunca pensei que fosse verdade, simplesmente o ignorei.

- Que raio Calum! Lá por achares que sou uma cabra isso não te dá o direito de partires a minha garrafa. - gritou, olhando para o chão.

Os olhos do Calum arregalaram tal como a nós os três. Ai, estava uma coisa que eu não sabia. Isso explica o facto de ela ter saido hoje de manhã á pressa.

- Anda cá... - sussurou, pondo os braços á volta dela mas ela rapidamente o empurrou para longe.

- Para que é que me queres recomfortar? Admite! Tu odeias-me, pará de ser falso! "- gritou mais uma vez passando as mãos pelos seus cabelos.

O Calum tentou aproximar-se mais uma vez mas ela pega na faca que se encontrava em cima do balcão, apontando-a para ele que parou mal viu o que se encontrava na sua mão.

- Tu,  não te aproximes! - exclamou, apontando-lhe a faca.

Estava aterrorizado com o facto de a ver assim, nunca pensei que ela chegasse a este ponto, nunca pensei que estivesse tão detorada por dentro. Que tivesse essas inseguranças todas contra nós.

Passei as mãos pela cara, sentindo as mãos do Luke nos meus ombros. Fazendo-me tirar as mãos da cara e olhar para ele.

- Ela partiu-se. - sussurrou o Luke ao olhar-me nos olhos.

' Ela partiu-se. ', foi o que me bastou ouvir para tudo fazer sentido. Ela já estava á beira de se partir depois da nossa ultima discussão, bastou a perda de algo maior para a racha se quebrar. O meu pior pesadelo estava a realizar-se, eu deixa partir-se em mil bocados, devagar mas de rápido acontecimento.

Passei entre o Calum e a mesma. Ela simplesmente fica a olhar para mim fixamente, os seus olhos pediam-me para a perdoar assim que a via num do seus momentos mais fracos. Eu ia apoia-la não podia ter medo dela, de nós.

- Anda cá. - Murmurei ao pegar na faca que tinha na mão ao puxa-la para um abraço, sinto a mesma a chorar contra o meu ombro ao esticar a faca ao Calum por detrás das minhas costas e sentia o mesmo a afasta-la da minha mão.

Pousei as duas mãos nas suas costas assim que a abraçava por completo. Os seus braços apertavam com força a minha volta. Pousei um beijo no seu cabelo e soltei um suspiro ao pousar o queixo no seu ombro.

- Eu nunca te vou intender. - Murmurei para mim próprio.

- Como assim não me intendes, Michael? - A mesma questionou confusa ao olhar para mim assim que se afastava dos meus braços.

- Tu tens problemas Amanda, eu não consigo lidar com eles, desculpa. - Afirmei.

Rapidamente tapei a minha boca com as mãos. Foi o que me saiu. Foi a primeira coisa que me veio de cabeça fria. A Amanda estava a chorar por ter ouvido as minhas palavras. O meu coração por ter feito tal ação partiu-se em dois. Ela deu pequenos passos na minha direção e para meu espanto, deixando-me sem reação só sinto o seu punho a bater na minha cara.

Ela por momentos olhou para o meu nariz a sangrar e sorriu pelo seu optimo trabalho. Amanda sempre foi um bocado esquesita, era dificil de amar mas para mim era tão claro como água que amava a pequena rapariga de cabelos rosa que se encontrava á minha frente.

- És um idiota Michael Clifford e sempre serás. - suspirou, limpando o seu punho ás calças

O Ashton dirigiu-se a mim examinando o meu nariz, enquanto a Amanda subiu as escadas provavelmente para o seu quarto.

- O que é que acabou de acontecer aqui? - perguntou o Calum, passando ás mãos pelo seu cabelo.

- Fizeste merda, meu. - Ouvi o Ashton dizer.

Dei voltas no meu lugar como um maluquinho com as mãos na cabeça e olhei para eles com medo da resposta á pergunta que estava a ecoar na minha cabeça mas que sabia perfeitamente a resposta.

- Eu perdia, não foi? - perguntei, olhando para os meus melhores amigos á minha frente que me olharam espantados com a minha pergunta.

Simplesmente pela sua cara percebi, a resposta á pergunta. O Ashton conseguiu soltar uma simples frase que me fez soltar tudo o que estava a sentir cá dentro.

- Desculpa, meu. - e com essas palavras o meu mundo desabou.

DEAR AMANDA, • mgc (EM EDIÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora