Yes No

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Após sair do trabalho, me dirijo para o próximo, uma grande doceria no centro da cidade. Foram alguns minutos de onibus até que me encontrasse no ponto certo. Encaro o vidro do local já me sentindo exausta, mas mesmo assim entro.

Annyeong Hoseok-ah. — Digo e minha voz sai cansada.

— Chegou cedo hoje, Sarah. — Diz e abre seu sorriso fofo.

Hoseok era alguém que poderia ser facilmente o melhor amigo da garota que eu era a alguns anos atrás. Gentil, carismático e animador eram as principais características do garoto de cabelo laranja. Ele era algo como uma grande esperança, e conseguia me trazer a sensação de ser a garota doce e ingênua de antes. E era exatamente por isso que eu procurava me afastar do mesmo para não criar laços. Eu não queria ser aquela garota boa novamente.

— Dona Cheng pediu para que mudasse o cardápio e os doces da demonstração. — Fala.

— Certoo. — Me dirijo à placa na entrada, pegando um giz cor de rosa e anotando o cardápio do dia com letras diferenciadas e desenhos fofos para chamar a atenção dos clientes.

Logo me dirijo ao balcão, decorando a bandeja com alguns bolinhos e trazendo brigadeiros coloridos a demonstração. Fiz arranjos em forma de coração, adicionando fatias de bolo de morango ao meio.

Woah, você tem talento para isso. — Hoseok me olha impressionado com um sorriso divertido.

— Você acha? - O mesmo concorda com a cabeça. — É um talento inútil na verdade.

Percebo o garoto me olhar estranho. Já estava acostumadas com olhares assim. A culpa não é minha por ter perdido interesse pelas coisas da vida. Tudo era um grande tédio, não se passava de uma caixinha de som quebrada, onde a bailarina não dança e a música não toca.

Saio dos meus pensamentos com o barulho de sino que soava na entrada. Dirijo meu olhar para a porta, me arrependendo no mesmo instante. Jungkook estava lá. Vestia sua típica camisa preta com os botões de cima abertos, mostrando algumas de suas tatuagens. Seu cabelo estava bagunçado. Segurava um cigarro entre seus dedos e me olhava com um sorriso de canto, não demorando para fazer um sinal com a cabeça para que eu fosse lá fora.

— Hoseok-ah eu já volto. — Digo tirando o avental amarelo.

— Espera. — Me segurou pelo braço. — Você conhece aquele tipo? — Senti seu olhar preocupado sobre mim.

— Sim.

— Você anda com pessoas estranhas.

— Eu sei. — Digo me dirigindo à saída e ouvindo o som do maldito sino soar novamente.

Vejo jungkook encostado em sua BMW I8 preto. Coisa boa não era. — Pensei.
O mesmo traga seu cigarro e vem em minha direção, logo sinto o cheiro de bebida que o rondava. Ele havia estado naquele lugar de novo.

— Você está fedendo.

— Eu venho te oferecer um emprego e é assim que você me recebe? — Diz e sorri percebendo minha expressão de surpresa.

— Emprego?

— Sim, num lugar que você conhece tão bem como a palma da sua mão.

Ok talvez eu estivesse com medo.

— Onde? — A curiosidade me domina.

— No 68.

— Vai me fazer trabalhar como stripper? — Digo rindo mas temendo que fosse verdade.

— Por mais que eu queira te ver naquelas roupas, não. Vai ficar apenas no bar e preparar alguns drinks. As bebidas você já conhece e se quiser pode acrescentar algo novo no cardápio. E de madrugada você pode dançar com as garotas se quiser. — Sorri malicioso. — Você trabalhará das dez até as quatro horas, é uma boa oportunidade.

— Você sabe que não posso trabalhar neste horário, tenho outros três empregos.

O mesmo vem até mim e sussurra um salário relativamente alto em meu ouvido. Eu não precisaria trabalhar nos três lugares, apenas o bar e eu conseguiria me manter. Ainda sobraria um dinheiro que eu poderia juntar.

O bar 68 era enorme e atraia um grande público, ainda mais por sua linda decoração de luzes coloridas de led e as variadas musicas que tocavam, sem contar dos dias temáticos em que havia uma decoração mais elaborada e as pessoas iam fantasiadas, era legal. Também era muito famoso pelos seus drinks preparados na hora. Além das pistas de dança, o lugar também tinha várias suítes preparados para quando o momento esquentasse. As strippers e dançarinas daquele lugar deveriam ser milionárias.

Sorrio animada e aceito a proposta do mesmo, que sorri de canto para mim.

— Te vejo hoje a noite? — Pergunta.

— Começo hoje?

— Quando quiser. — O mesmo pisca e entra em seu carro, não demorando para dar a partida.

Estranho seu ato mas não ligo, naquele momento eu realmente precisava de dinheiro, queria sair daquela casa e ter um espaço só meu, onde eu pudesse ter minhas coisas, onde eu pudesse chamar de lar.
Aproveito que estava ali e ligo para meu outro emprego, avisando a demissão. Apesar de não terem gostado muito, não me importei.

Eu realmente não me importava com a forma que fosse, eu só queria ganhar dinheiro e fazer minha vida, era tudo o que eu mais queria. E faria de tudo para conquistar isso.

Volto a entrar na grande doceria e Hoseok me olha preocupado.

— O que aquele cara queria?

— Me oferecer um emprego. — Digo sem me importar.

— Não tem cara de ser coisa boa, tome cuidado.

— Hoseok, cuide da sua vida. — Digo e saio de perto do mesmo, revirando os olhos. Não aguentava as pessoas me dizendo o que eu tinha ou não que fazer sem saber a real situação em que eu me encontrava.

Termino de atender alguns clientes para que dê logo meu horário. Apesar do bar 68 me dar enjoos às vezes, eu gostava da sensação de acolhimento que trazia quando estava tendo dias problemáticos.

Eu gostava do jeito com que aquele bar me fazia esquecer de todos os meus problemas, eu gostava de acordar em uma cama sem nem lembrar do meu nome, por mais errado que fosse. Eu gostava do lugar pelo simples motivo que ele me fazia esquecer de quem eu era, mesmo que fosse por algumas horas.

Por mais que me machucasse, eu gostava. Por mais que fizesse eu me arrepender de tudo no dia seguinte. Por mais que não, sim.

One Last Time | KTH Onde histórias criam vida. Descubra agora