" Algo está errado", penso observando Beatriz se afastar. Pois antes de descer ela parecia tão feliz, mas ao longo do almoço Bia se manteve calada, com um olhar distante e um semblante preocupado, além disso mal havia tocado na comida.
Eu sabia que ela não estava assim, por causa do David ou porque não tinha telefonado para os seus amigos. Havia outra coisa pertubando-a.
Como num piscar de olhos, tudo ficou claro para mim. Charlie tinha dito algo a ela, pois foi nesse intervalo de tempo, que eles estavam sozinhos, que Bia havia mudado. E eu já podia imaginar o que ele tinha falado.
Conhecia muito bem meu amigo e entendia que estava tentando me ajudar, mas ele não podia ter contado.
Lentamente, giro meu corpo na cadeira ficando de frente para Charlie. Meu olhar paira sobre ele, que estava concentrado degustando seu último pedaço de peixe grelhado.
- Diga que você não falou para ela sobre o Paulo....sobre a Débora...? - Pergunto balançando a cabeça e logo em seguido estreitando meu olhar na sua direção.
Ele me encara com uma expressão perplexa no rosto e levou alguns segundos para responder.
- Eu nunca contaria isso a ela ou a ninguém. É sua história, não minha. Então, cabe a você falar dela ou não.
- Diz ele parecendo ofendido.Sabia que ele estava sendo sincero. E admito que foi uma tolice de minha parte ter duvidado de sua lealdade, pensado por um segundo que ele pudesse ter falado sobre meus pais.
-Desculpa não quis ofende-lo. -Digo rapidamente.
Ele solta um longo suspiro de descontentamento e coloca seus talheres sobre o prato, depois o empurra para longe. Em seguida, Charlie apoia seus cotovelos sobre a mesa e junta as mãos na altura do seu queixo.
- Eu conversei com Bia sobre você, mas não contei sobre seus pais... - Ele admite serio.
Por alguns segundos, nenhum de nós dois ousou falar absolutamente nada. Charlie fitava-me aborrecido, mas também havia preocupação em seu olhar. Foi ele que resolveu a quebrar o silêncio primeiro.
- Você é como um irmão para mim, assim como o Tales. Eu faria qualquer coisa para vê-los felizes. - Ele afirma curvando-se para frente e olhando no fundo dos meus olhos - Mas estou cansado de ver os dois serem consumidos por lembranças ruins do passado.
- Charlie...
- Já basta! - Diz ele batendo sua mão na mesa interrompendo-me - Agora, você irá me ouvir. Já chega de fugir. - Diz ele levantando um pouco seu tom de voz, visivelmente exaltado.
Fiquei calado diante da reação dele. Nunca tinha visto Charlie agir dessa maneira. Ele era sempre tão calmo, controlado, mas sua fisionomia mostrava uma irritação que nunca vi antes.
- Eu não estou fugindo. Só não consigo esquecer tudo que aconteceu. - Digo fazendo uma careta, pois as memórias dolorosas me trouxeram um gosto amargo na boca.
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Almas Marcadas (Quadrilogia Mulheres Negras - Livro 2)
RomanceBeatriz Silveira, quando menina viu sua vida virar de cabeça para baixo. Após a morte de seus pais ela teve que morar com uma família acolhedora. Foi então, que ela descobriu o quanto o ser humano pode ser terrivelmente cruel. Agora com 24 anos Bia...