Catástrofe 15

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Estou no vestiário, logo após o treino. A maioria dos jogadores já saíram, sobraram apenas cinco, contando comigo. Já estou quase pronto, a única coisa que falta é minha camiseta e estarei pronto para pegar o ônibus e ir para casa, dar comida para o Glub, me jogar na minha cama e fazer carinho no Miau.

- Jimin-ssi. - Tomo um susto pelo quase grito e olho para o lado, vendo Jungkook na entrada do vestiário, caminhando na minha direção com toda sua confiança e tranquilidade.

E, claro, com aquele maldito sorriso.

- Ah, Jungkook. - Eu quero perguntar o motivo dele estar ali, mas logo lembro que ele, por alguma razão, ficou para assistir ao treino. Não que eu ache ruim ele ficar, Jungkook faz o que quiser! Mas ainda é... Diferente. É diferente alguém querer me fazer companhia sem que esse alguém seja Taehyung. - Não vai pra casa?

- Eu não tenho nada para fazer, de qualquer forma. - Da de ombros, se apoiando num dos armários ao lado do meu e me encarando. - Prefiro sua companhia. - Nego com a cabeça, rindo. - EI! OLHA!

- O-O que?

- Você sorriu! Você riu de algo que eu disse! - Começa a quase gritar, atraindo o olhar de alguns meninos que ainda estão pelo vestiário.

- Mas... Do que está falado?! - Fecho a porta de meu armário com mais força do que o esperado, já pronto para fugir desta situação o mais rápido possível. - E-Eu sorrio, ok?! Todo mundo sorri.

- Ah, claro que sorri! Mas é a primeira vez que te faço sorrir, sinto que estamos começando a virar amigos, finalmente. - Seu sorriso cresce tanto que penso que seus lábios podem se rasgar a qualquer momento.

Sem argumentos para debater, e envergonhado demais para continuar no mesmo lugar, rapidamente coloco minha mochila nos ombros e vou caminhando apressado para a saída, mas claro que Jeon Jungkook vem atrás de mim, ainda falando animado comigo e repetindo o fato de eu ter sorrido para si. Quanto tempo se passou desde que Jeon começou a conversar comigo? Quase duas semanas? Sim, deve ser isso. Eu não posso mentir e dizer que não gosto de sua companhia, já me acostumei, arrisco-me a dizer que até estou começando a gostar desse jeito espontâneo dele, mesmo que não consiga demonstrar muito bem por questões um tanto óbvias. Jungkook é, sim, um bom amigo. Mesmo que ele ainda esteja tentando algum tipo de aproximação e eu dificulte as coisas, posso saber ele é alguém bom pela forma que trata os hyungs.

Durante esse tempo que nos aproximamos um pouco mais, surpreendentemente eu acho que estou mais comunicativo do que antes com o pequeno grupo, não tanto, mas um pouquinho. Ainda tenho receio de falar algo estranho, de fazer alguma coisa que me faça parecer um imbecil... Mas meu maior medo é a porra do TOC. É complicado explicar o que sinto, porque é tão automático! Parece que se eu não arrumar as coisas meu corpo fica agitado como se eu tivesse entupido até o meu cu de cafeína. Fico inquieto, parece que pode acontecer alguma merda se aquilo não estiver exatamente e milimetricamente reto.

E cá entre nós? É um cu tudo isso. Se eu mesmo sei que é estranho, quem dirá eles! Por isso eu tento me segurar ao máximo, distrair minha mente fazendo qualquer coisa, desde começar a pensar nas letras das músicas até cantá-las baixinho, me acalma um pouco. Conversar também me ajuda a desviar a atenção, mas como eu ainda não sou tão comunicativo quanto gostaria e tenho receio de atrapalhá-los, fico apenas prestando atenção nos outros.

É, uma verdadeira merda.

- Então tudo bem? - Escuto a voz de Jungkook ainda próxima de mim e saio de todos aqueles pensamentos. Quando volto para a realidade percebo que já estamos do lado de fora, caminhando lado a lado para a saída da escola. Viro meu rosto na direção do garoto, tentando entender do que porras ele está falando. Falhei. - Você não ouviu, né?

- De-Desculpa. - Suspiro. - Estava com a mente l-longe...

- Tudo bem. - Concorda, rindo um pouco. - Eu disse que falaria com os garotos sobre o cinema. Se eles concordarem em ir neste sábado seria ótimo, porque acho que vai estar um pouco mais vazio. - Diz enquanto continuamos nosso caminho, quer dizer, eu estou indo na direção do ponto de ônibus e Jungkook apenas me segue.. - Poderíamos nos encontrar lá no shopping, perto do cinema mesmo. - Me olhou - Tudo bem?

- Sim, tudo bem. - Respondo rápido antes que minha mente crie alguma paranóia e me faça ficar inseguro mais uma vez. - Qual horário?

- Eu vou ver quais sessões vão ter e te mando mensagem. - Diz por fim e eu concordo. Mas, de repente, ele para na minha frente, retirando o celular do bolso e me entregando. Claro que não entendo caralho nenhum e que minha cara está completamente confusa.

- O que?

- Me passe seu número, Jimin-ssi. - Pede, com aqueles olhos grandes se direcionando para mim repletos de esperança. - Assim eu posso te avisar sobre os horários e...

- E...?

- E talvez isso nos ajude a evoluir nossa amizade? - Seu tom sai um tanto com dúvida, talvez uma pergunta. Pego o celular de suas mãos, ainda um pouco vacilante e sem saber ao certo o que pensar sobre sua última fala. Rapidamente deixo meu número e salvo como "Park Jimin", entregando-o logo em seguida para ele. Jungkook ri um pouco. - Obrigado, Jimin-ssi.

- Você realmente gosta de me chamar assim, não é? - Deixo a pergunta escapar com facilidade, arregalando os olhos assim que ele me encara, assustado.

- Não gosta? Desculpa, eu-

- Não! Não d-disse que não gostava. - Tento concertar, mas me atrapalho mais ainda. - Só... Você me chama muito assim. - Volto a andar, logo chegando até o ponto de ônibus com o garoto logo atrás de mim. - Pode me chamar assim.

- Certo. Ah, Jimin-ssi, eu- - Jungkook para de falar quando seu celular toca. Num ato automático eu olho para o aparelho ao mesmo tempo que ele, que atende logo depois. - Oi? -Sua feição está um pouco mais séria, e nunca pensei que fosse presenciar o Jeon sem aquele sorriso imbecil que me dá vontade de socá-lo. Vejo o momento em que ele parece olhar ao redor, parecia procurar algo em meio ao silêncio que fazia. Tomo um susto quando ele finalmente volta a falar: - Tá, tá bom. Pare de me ligar assim.

Ele finaliza a ligação, ainda parecendo procurar alguém. Estranho? Para um grande caralho! Mas quem sou eu para julgar alguém, não é mesmo? Ouço o menino ao meu lado suspirar, impaciente, e logo em seguida Jungkook se levanta e se vira para mim, com as mãos dentro dos bolsos da calça do uniforme, voltando a me lançar um sorriso, mas esse é pequeno, quase inexistente.

- Vou precisar ir, Jimin-ssi. - Diz e eu apenas concordo com a cabeça. - Irei falar com os garotos e te falo tudo mais tarde. Converse com o Taehyung.

- Certo. - Concordo mais uma vez. - Até amanhã, Jeon.

Seu sorriso aumenta, agora parecendo um pouco mais natural do que antes. Pode parecer estranho, mas reparo um pouco mais em seu sorriso nesses poucos segundos, e reparo que eles são até que... Fofos. É, posso chamar assim, é um sorriso fofo, parece de uma daquelas crianças que aprontam para um caralho e deixam os pais a ponto de arrancarem os próprios cabelos. Jeon Jungkook tem um sorriso fofo, como a de uma criança endemoniada que só faz merda.

Mas ainda quero socá-lo.

- Até mais, Jimin-ssi. - E então, ao mesmo tempo que vejo meu ônibus se aproximando, vejo-o se afastar.

Até que hoje não foi tão catastrófico, mas sim, estranhamente... Bom.

Meu Ensino Médio "Nada" Clichê [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora