Catástrofe 6

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- É bom te ver depois de tanto tempo, Jimin. - É a primeira coisa que Dra. Lee diz ao me receber em sua sala.

Apenas o período de férias se passou, mas tudo parece novidade para mim quando me permito entrar na pequena sala. As paredes brancas se contrastando com o chão de madeira escura. Ao lado, encostado na parede e próximo da porta em que acabei de passar, há uma mesa alta de vidro com algumas caixas que logo reconheço serem jogos infantis, papéis e lápis de cor. Também há duas poltronas, ambas numa cor clara de cinza, e que não preciso nem encostar para perceber que parecem ser bem macias.

- Faz tempo. - Respondo, rindo nervoso. Meu pai está na recepção, me esperando como disse que faria, e certamente deve estar lendo uma das várias revistas velhas sobre K-Idols e o mundo das celebridades.

A mulher de cabelos castanhos indica para que eu me sente em uma das poltronas, e logo percebo que, realmente, é muito macio! Ela faz o mesmo e sorri para mim, me pedindo um minuto para colocar o despertador no celular, para que a consulta não passe do horário. Dra. Lee é jovem, no auge dos seus vinte e seis anos, além de gentil e bonita. Talvez o fato da mulher em minha frente ser consideravelmente jovem me faça relaxar um pouco mais e repensar meu conceito sobre ela apenas estar fazendo seu trabalho e não se importar verdadeiramente com seus pacientes.

Afinal, se ela não se importasse, não seria formada em psicologia, certo?

- Muito bem, temos meia hora, como sempre. - Anuncioa, sorrindo para mim novamente. - E então? Como foram suas férias? Não veio para as consultas.

- Ah, sobre isso... - Começo, passando as mãos por meus cabelos, nervoso ao percebê-la tão atenta - Eu foquei minhas férias nos estudos, sabe? Então não saí de casa ou essas coisas.

- Não saiu porque não quis ou porque não se sentia à vontade?

- E tem diferença?

- Você pode não querer sair porque está cansado, por exemplo. Mas não sair porque não se sentiu confortável de estar em outro lugar que não seja sua casa por ter de se aproximar de outras pessoas é algo diferente. - Explica. - Você não saiu de casa porque sentiu que não precisava ou por estar desconfortável?

Suspiro.

- Não queria ver outras pessoas. Me sinto ansioso perto delas. - A vi concordar com a cabeça, me pedindo silenciosamente para continuar. - Pensar em estar com outras pessoas, pessoas que não converso e que não conheço, é desconfortável.

- E seu amigo? Taehyung, não é?

- Sim, é o Tae. - Sorrio. - Ele passou as férias na casa da avó, e ela meio que mora muito longe e quase não tem sinal lá. Não nos falamos durante as férias.

- E você sairia se ele estivesse por perto, Jimin? - A encarei. - Se sente confortável perto de Taehyung?

Claro que me sinto bem ao lado dele! Tae é meu melhor amigo há tanto tempo que não consigo nem contar, é como se fôssemos amigos desde que estávamos na barriga de nossas mães, e talvez realmente tenha sido isso. Nossos pais são melhores amigos de infância também, uma versão mais velha de mim e Tae se parar para analisar.

- Sim, eu me sinto bem perto dele. - Respondo rápido. - Mas prefiro quando estamos apenas eu e ele. Só nós.

- Por quê?

Oush, ora, porque... Porque eu... Eu apenas sinto!

- Não sei. - É o que decido responder, vendo que não tenho nenhum argumento para aquela simples pergunta. - Apenas acho mais confortável conversar com ele. Ele parece me entender melhor, assim como eu o entendo.. Ou acho que entendo.

- Compreendo. - Diz por fim, parecendo pensar sobre minhas palavras. - Mas você ainda está nos times de seu colégio, certo? - Concordo - E não conversa com nenhum de seus parceiros de time?

- É natural conversarmos sobre o treino. - Me remexo na poltrona. - Namjoon e Hoseok hyung me ajudam durante os treinos.

- Não, Jimin. Quis dizer conversar fora do treino, como amigos. - Paro para pensar sobre sua pergunta, mas a resposta continua sendo negativa, o que logo começa a me desesperar um pouco.

Eu estou naquela escola há dez anos, desde o primeiro fundamental, e a única pessoa que cheguei a me aproximar para uma conversa um pouco mais longa foi a tia da cantina. Logo lembro dos times de basquete e de vôlei, pensando no tempo em que estou lá e me dando conta de que, realmente, não houve avanço algum. Devo colocar Namjoon e Hoseok nessa lista? Porque... Bom, nós também só nos falamos no treino, e nem é com tanta frequência quanto parece.

Não fiz novos amigos, nunca aprofundei uma conversa, tampouco aceitei as várias vezes em que me chamaram para comer com eles no almoço ou sair para algum lugar para comemorar alguma vitória. Eu achei.... E-Eu achei que estava indo bem, que estava evoluindo! Mas agora percebo que não adiantou nada, ainda sou o mesmo garoto de antes. Estive enganado por todo esse tempo? Eu mesmo me enganei, pensando que estava melhor?

- Jimin - Ouço a voz calma me chamar, atraindo minha atenção mais uma vez. - Eu sei que você está se esforçando muito. Posso ver em seus olhos e consigo saber disso também pelas várias vezes que me contou sobre seus treinos e vezes em que Taehyung te levou para passear e você adorou. - Olhou em meus olhos, com semblante sério - Mas você precisa se esforçar mais um pouco.

- M-Mas eu... Eu achei que estava indo bem e... - Ela negou com a cabeça.

- Não pense negativamente e nem deixe que isso te desmotive. Não quero que se sinta pressionado e ache que está fazendo algo errado. Apenas estou preocupada, Jimin. Conversamos por dois anos e meio, queria te ver melhor do que isso.

- Desculpa. - É tudo o que consigo responder depois de algum tempo pensando em suas palavras e em todas as coisas de antes.

O que mais poderia dizer? Acabei de descobrir que eu sou um fiasco! Patético, Park Jimin, patético!

- Não precisa se desculpar, isso realmente leva tempo. Apenas achei que, por você estar cercado de muitas pessoas da sua idade, os resultados seriam melhores do que esses. - Disse por fim, logo desligando o celular quando o alarme tocou, anunciando o final da consulta.

Tão rápido?! Por quanto tempo eu fiquei pensando sobre o assunto?!

Vendo que não falaria nada e tampouco a olharia, percebo Dra. Lee se levantar e, logo depois, se abaixar em minha frente, atraindo meu olhar para seu rosto. Ela sorri, um sorriso bonito e que, ao meu ver, parece querer me passar conforto, talvez confiança. Eu sempre li e ouvi dizer sobre a seriedade e frieza dos psicólogos, descobrindo em algumas pesquisas -pois sou curioso pra caramba- que eles realmente precisam ser bem imparciais em determinadas ocasiões.

Entretanto, minha psicóloga parece tacar o foda-se para todas essas regras que existem no mundo dessa profissão, pois ela é tão... Humana! Ela se entrega tanto, se mostra tão preocupada comigo, tão esforçada a me compreender e empenhada em dizer as coisas certas!

- Vamos prometer uma coisa, certo? Só entre nós dois aqui. - Ela começa, erguendo seu dedo mindinho na minha direção. - Você vai se esforçar mais um pouco, sem se cobrar. Não vai faltar a mais nenhuma consulta, apenas se realmente precisar, e me contará tudo.

- Tudo... Tipo, tudo?

- Tudo, tipo, tudo o que você perceber que consegue e que eu preciso saber para te ajudar. - Responde, ainda com o mindinho erguido. - Prometido, Jimin?

Concordo com a cabeça, sorrindo um pouco quando entrelaço o meu mindinho no dela.

- Prometido...

Meu Ensino Médio "Nada" Clichê [EM PAUSA]Onde histórias criam vida. Descubra agora