Só conseguimos sair do morro quase às nove da manhã. Como imaginávamos, o carro da mãe de do Hugo e o carro do Lucas estão destruídos. Mas eu não imaginava menos, já que estavam parados bem na rua da entrada.
Assim que colocamos os pés pra fora da casa do Thiago, o motorista para o carro na nossa frente.
— Vocês ligaram pra alguém? - Perguntei -
— Eu liguei. - Thiago disse parado perto da porta, um pouco distante - Posso falar contigo? É rápido.
Fomos até o quarto da Ana, onde ele começou a falar.
— Olha Alice, você é uma das minas mais maneiras que eu já conheci, e eu sou muito grato por você ter cuidado da minha filha. Pode vir visitar ela quando tu quiser, isso não mudou. Mas... Eu não vou mais permitir que você venha aqui por algum outro motivo que não seja ver a Aninha.
— Depois de hoje? Nem que me paguem. - Nós rimos -
— Se cuida tá? Você é demais pra esse morro garota. - Passou a mão no meu cabelo - Agora vai lá.
Deixamos o Hugo em casa, e depois seguimos para a casa dos meus pais, e como já esperávamos, todos os carros conhecidos estão parados pelo jardim.
Entramos em casa como três crianças. Cynthia e eu estamos descalças e de cabelos presos, Lucas sem camisa desde a hora da briga, já que a dele foi rasgada. Na verdade, estamos horríveis.
Todos estão na sala, não preocupados como das outras vezes, mas sim com raiva.— Sentem. Agora! - Tio Luan falou e nós obedecemos -
— Sabiam que vocês estão na TV e nos sites de fofoca? Sabiam que podiam ter morrido? - Tio Caio gritou -
— Eu nunca vi tanta irresponsabilidade na minha vida! - E por fim, meu pai começou - Você Lucas, se acha homem é? Então fala pra mim, o que nós íamos fazer se um de vocês levasse um tiro? E você Cynthia, responde pra mim? Tem alguma idéia do desespero que passamos? - Nós não falamos nada - E então Alice? - Parou na minha frente - Então agora você se acha adulta, uma mulher casada, dona dos seus atos. Quer que todos te tratem como adulta, mas não se porta como uma! - Gritou -
A bronca foi interrompida pelo barulho da porta se abrindo, dando passagem à Henrique e uma mulher. Cabelos castanhos cor de mel, ondulados até a cintura, bronzeada e vestida com um belo vestido vermelho e um par de saltos nos pés. Ela é deslumbrante, mas, o que toda essa deslumbrância faz perto do meu marido?
— Desculpem a demora. Essa é a Letícia, minha prima. - Henrique a apresentou e se sentou na poltrona, me olhando dos pés a cabeça -
Ouvimos mais alguns minutos de bronca e depois fomos liberados. Cynthia foi pra casa e Lucas também, enquanto Henrique, Letícia e eu entramos no carro.
— Com todo aquele climão eu nem consegui me apresentar. Prazer linda. - Letícia falou do banco de trás -
— Prazer.
Fomos em silêncio até em casa. Nem me dei ao trabalho de perguntar se ela vai ficar ou o porque de estar aqui. Quando chegamos em casa, fui direto para o banheiro, tomei um banho, me enrolei na toalha e sai.
O barulho das risadas que vem da sala é alto, caminho até o fim do corredor e vejo os dois rindo com uma garrafa de vinho na mão. Volto para o quarto e começo a procurar algo pra vestir.— Não deveria deixar sua visita sozinha. - Falei ao vê-lo parado na porta -
— Ela não é visita, é minha hóspede.
— Que seja. Mas eu gostaria de ser avisada na próxima vez que você trouxer alguém pra cá.
— Não tenho que te avisar nada. - Respondeu seco -
— É desse jeito que você quer?
— Não me venha com seus joguinhos, Alice. Eu cansei de correr atrás de você, de entender seus surtos, mas sabe qual é a verdade? Você é uma garota mimada, que faz de tudo pra chamar a atenção dos seus pais, e eu tenho pena do Thiago, que no momento, é uma cobaia pra você conseguir fazer o papel de menina rebelde. Então a partir de hoje, você pode fazer a burrice que quiser, por que eu cansei! - Ele disse tudo muito calmo, dizendo cada palavra com clareza e pura frieza -
Meus olhos se encheram de lágrimas, e ele? Virou os calcanhares e saiu do quarto.
Mas já chega, a partir de hoje eu não choro mais.
....Nos dois dias que se passaram, Henrique só falou comigo o essencial, quando ele chega da empresa eu já estou dormindo e durante o dia mal o vejo, exceto ontem, que foi quando ele chegou mais cedo pra levar a Letícia até o hotel em que ela ficou hospedada. Ela não me fez nada, mas é evidente que ela está muito feliz em saber que o Henrique e eu estamos brigados, já que ela não desgruda dele nem por um minuto, está sendo ótimo pra ela. Pior que a minha convivência com o Henrique, é a falta de convivência com a minha família. Não nos falamos desde o dia do baile. Soube que Lucas e Cynthia estão confinados dentro de suas casas, então eu não tenho muito o que reclamar, pelo menos posso sair a hora que eu quiser, mesmo que eu não queira ir a lugar nenhum. Pois é, tá tudo fudido por aqui...
Henrique: Vou jantar com a Letícia e uns amigos, quer vir? (20:15 PM)
Alice: Estou ótima sozinha. Tenha uma noite maravilhosa! (20:16 PM)
Eu jurei que não choraria mais! Mas sóbria é muito mais difícil. Então vamos encarnar a adolescente inconsequente que todos me rotulam.
Tomo um banho, visto uma saia jeans, uma blusa de glitter preta, um salto, solto meus cabelos e faço uma maquiagem simples. Chamo um táxi e em alguns minutos estou na boate que escolhi. Como Lucas, Cynthia e Hugo estão confinados, a única opção foi vir sozinha.
Me sento no bar e peço uma garrafa de vinho, vai ser uma longa noite....
No meio da garrafa eu estou, como posso dizer... Leve. Que se foda o Henrique, que se foda a minha família! Essa sou eu. A parte de mim que estava escondida por trás da filha perfeita que eu nunca consegui ser.
— Mais uma garrafa de vinho pra patricinha. Por minha conta. - Henrique disse ao barman, parando do meu lado -
— Como foi seu jantar? Sua prima comeu muito? - Perguntei - E você? Comeu muito. - Levantei uma sobrancelha e ele riu, entendendo o duplo sentido -
— Eu já posso te inscrever nos alcoólicos anônimos? - Se levantou do banco - Vamos pra casa.
— Sabe porque eu pedi vindo? - Enchi minha taça - Estávamos bêbados de vinho quando você me pediu em namoro. - Bebi um gole - Mas você nem deve se lembrar.
— Vamos Alice.
— Mas você não disse que não se importava mais? Que eu posso fazer o que eu quiser? Eu tô fazendo! - Falei perto do rosto dele -
— Certo então. Eu vou ficar aqui até você cansar, ou entrar em coma alcoólico. - Se sentou novamente e me entregou a garrafa que pediu -
Por pura pirraça, eu terminei a segunda garrafa, com Henrique me olhando o tempo inteiro.
...
O senhor estressadinho me colocou embaixo da água gelada! Que filho da puta.
— Eu não quero banho frio! - Gritei -
— Que pena. - Ele respondeu frio -
Fui cambaleando até a cama e me enfiei em baixo dos lençóis, enquanto ele se veste.
— Você gosta da Letícia? - Perguntei -
— Como é?
— Você não é surdo! - Eu ri. Efeito da bebida. -
— Você só precisa dormir... - Ele deitou ao meu lado -
— E de mim? Você ainda gosta? - Meus olhos estão quase fechando -
— Eu amo você... Pra sempre. - Beijou a minha testa -
VOCÊ ESTÁ LENDO
PERDIÇÃO
Любовные романы• É necessário ler o livro SEDUÇÃO (concluído) para que entendam a história desse! Do que adianta uma vida perfeita sem um pouco de loucura? Do que adianta viver na loucura, sem encontrar a pessoa que torna a vida perfeita? Dez anos depois, agora é...