C A P Í T U L O 30

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  Faz cinco dias que me mantenho forte durante o dia, e desabo na solidão da noite... Mas tudo bem. Eu nunca fui muito de deixar transparecer meus verdadeiros sentimentos e decepções. O lado bom de não ser a filha perfeita, é que ninguém espera que você sorria o tempo todo ou que esteja bem o tempo todo.

Hoje é o dia da formatura. E diferente das outras meninas, eu não passei o dia no salão e nem procurei o vestido perfeito por toda a cidade.
  Minha mãe não veio por pedido meu, a distrai pedindo que buscasse a Ana onde marquei com a irmã do Thiago. A última coisa que eu quero agora e ter que ouvir da minha mãe que eu não preciso ficar assim e que logo nos acertamos. Mas como ela não perde a oportunidade de desenhar um vestido pra mim, a empregada veio me trazer a caixa que ela enviou.
 
  Às quatro da tarde comecei a me arrumar. Tomei um banho, fiz uma maquiagem bem feita pra esconder as olheiras, fiz um babyliss nas pontas do meu cabelo e me vesti. O vestido é um cinza com bastante brilho, mas nada muito exagerado, com um leve decote, alças finas, longo e com uma fenda na perna, apertado da cintura pra cima, e com pouca roda na parte de baixo. Vesti um salto prata, coloquei uns acessórios, peguei uma bolsa que combine e sai de casa. Meu pai pediu para que o motorista viesse me buscar, e alguns minutos depois cheguei na escola.
 
O auditório está digno de um Oscar. Meus pais já estão em seus lugares. Acenei de longe e fui me informar onde pegava a beca da formatura. Quando cheguei no banheiro pra vestir, encontrei a Cynthia.

— Saiu da caverna? Te liguei o dia inteiro. Estava precisando de você e você sumiu. - Reclamou enquanto comecei a me vestir -

— Precisou de mim? Sabia que as vezes a imbecil que ajuda todo mundo, que se ferra mais que todo mundo também pode precisar de ajuda? Pois é! Eu precisei de alguém a semana inteira, mas me virei sozinha. Você deveria aprender a se virar também.

Ela me olhou incrédula. Olhei em volta e todas as meninas do banheiro estão olhando. Peguei o capelo (chapéu da formatura), e sai.
  Me sentei junto com os outros formandos e logo a cerimônia começou. Como sempre, com a diretora dando um discurso.

— Esse ano vocês puderam sentir na pele tudo que ouviam eu dizer em outros discursos de outras formaturas, e diziam que eu estava sempre exagerando. Foi um ano de decisões. Não pra nós, que vemos vocês indo e vindo todo ano, mas pra cada um de vocês. Foi o ano das certezas, e também de descobrir que algumas certezas estavam erradas! É a hora de decidirem qual caminho seguir, e não digo só no mundo acadêmico, mas na vida. Escolham com atenção, algumas escolhas feitas hoje, podem ser permanentes para o resto da vida. Tenham sabedoria ao trilhar seus caminhos e decidirem suas vidas. O futuro está nas mãos de vocês. - Todos batemos palmas -

Depois de mais algumas falas e outros detalhes, começaram a chamar nossos nomes, e eu fui uma das primeiras, vantagens da letra A. Recebi o diploma, apertei a mão dos professores, tirei fotos e esperei que os outros fizessem o mesmo. Fizemos tudo aquilo de jogar o chapéu pro alto e depois encontrei minha família. Fomos para o salão de festas que a escola alugou.
Está tudo perfeito. E como sempre, nossa mesa é a maior, já que não abrimos mão de nos sentar juntos.

Graças a Deus chegou a hora de irmos embora, e com muita insistência, fui pra casa dos meus pais. Já passa das duas da manhã. Fui direto pro meu quarto, tomei um banho, vesti uma camisola e desci pra comer alguma coisa.

— Você ainda vai me explicar direitinho o que você fez! - Ouvi meu pai falando dentro do quarto do Guilherme -

— Já disse que eu não fiz nada! - Parei perto da porta -

— Te conheço muito bem garoto! E seja lá o que você tiver feito, eu espero que tenha um bom motivo! Porque está destruindo a sua irmã.

— Pai, deixa que eu resolvo.

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