CAPÍTULO 41

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|| ALICE ALBUQUERQUE LIMA ||
(Suíça)

Quando Zack parou o carro na frente do aeroporto, parecia que meu coração ia saltar do meu peito, senti um medo tão grande, que fui obrigada a deixar qualquer vergonha de lado...

— Zack, eu... Eu queria... - Ele me olhou sem entender - Eu posso ficar alguns dias com você? Eu arrumo um emprego, e prometo que saio da sua casa. Eu faço qualquer coisa. Eu não quero ir pro Brasil.

— Você tem certeza? É uma chance de encontrar sua família, saber o que aconteceu com você.

— Eu sei que é estranho, mas eu tenho a sensação de que eu estava fugindo de algo, de alguém... Eu não sei explicar. Só de pensar em subir nesse avião sinto que posso desmaiar!

— Tudo bem. - Ele respirou fundo - Eu vou tentar te ajudar.

Duas semanas depois...

  Tudo parece estar finalmente entrando nos trilhos. Eu consegui arrumar um emprego como camareira de um hotel próximo, mesmo com o Zack insistindo para que eu não aceitasse, já que acabei de entrar no oitavo mês de gravidez, e o trabalho como camareira não é tão leve. Mas eu não podia recusar, preciso ajudar o Zack nas despesas, já que ele me deixou ficar até eu arrumar um emprego melhor e conseguir alugar uma casinha.
Sobre a minha memória, ainda não me lembro de nada, as vezes eu até tento fazer um esforço, mas tudo que consigo é sentir uma dor de cabeça horrível. Talvez eu nunca consiga me lembrar, mas confesso que já estou me acostumando com a nova vida.

  Já passa das seis horas da noite quando eu finalmente consigo sair do trabalho, hoje foi muito mais pesado que o normal, o hotel estava sem água, então tive que ficar carregando um balde pra todo lado. Oque me resultou uma cólica forte e uma dor nas costas infernal. Quando chego em casa, a primeira coisa que faço é entrar em baixo do chuveiro, sentindo a cólica se intensificando ainda mais, ficando quase impossível até respirar! Sai do banheiro e vesti um vestido azul e uma calcinha com muita dificuldade, calcei uma sandália qualquer, peguei um casaco, meu exames mais recentes e saí de casa.
Zack pegou o plantão noturno hoje, então estou por conta própria.
  A estação de metrô mais próxima  fica a duas ruas daqui, caminhei com dificuldade até chegar lá, e assim que cheguei na estação, mais uma dor insuportável me atingiu, pior do que da outra vez. Uma moça segurou meu braço e começou a falar coisas que eu não entendi. Senti algo quente descer entre minhas pernas, imaginei que fosse a bolsa, mas para o meu desespero, era sangue. Me desesperei, senti meu corpo mole e minha visão escureceu...

   Quando acordei já estava no hospital, sendo preparada para o parto da minha filha. Em um país estranho, com pessoas que não falam a minha língua e sem me lembrar nem do meu nome. E quando pensei que seríamos só eu e ela, Zack chegou. Ele segurou a minha mão e foi essencial para a chegada dela. Acho que eu não conseguiria sozinha.

|| HENRIQUE LIMA||
(Suíça)

Quando cheguei na Suiça ontem, tratei de ir a uma loja pegar o carro que Renan tinha encomendado pra mim, peguei e fui para o apartamento que a empresa disponibilizou. Passei o dia na rua enquanto a moça arrumava minhas roupas, conheci um restaurante, e assim que ela acabou eu voltei pra casa. Até tentei ficar em casa, mas resolvi ir até um bar que tinha perto do meu apartamento. Como esse bairro é frequentado por muitos turistas, as músicas que tocam no bar são americanas e até ouvi uma ou duas músicas brasileiras.

— Sozinho aqui? - Olhei para cima, e vi Cynthia parada me olhando -

— Cynthia? - Me levantei e a abracei - Me seguiu até a Suíça?

— Eu estou estudando na Inglaterra, vim pra um desfile de moda com algumas amigas. Volto pra faculdade amanhã.

  Cynthia e eu bebemos alguns drinks (Alguns até de mais). Quando resolvemos sair do bar, vimos que ela não estava em condições de dirigir de volta para o hotel dela, e eu não estava em condições de levar ela até lá, e como meu apartamento é próximo, fomos andando, da mesma forma que eu vim até aqui.
  Nós subimos, sentamos no sofá e eu abri uma garrafa de vinho que estava na geladeira.

— Acho que deveríamos ir dormir. - Eu falei rindo -

— Só mais uma taça! - Ela gritou - Eu vou fazer xixi.

  Ela levantou e quando ia passar entre o sofá e a mesinha de centro, caiu em cima de mim, derrubando a minha taça e a dela.

— Desculpa. - Ela disse, mas não se levantou.

   Nossos rostos ficaram próximos e nossas respirações descontroladas. Percebi o olhar dela para os meus lábios, e senti a excitação tomar conta do meu corpo...

— O banheiro é no fim do corredor. - Falei e ela se levantou rapidamente. Percebi seu rosto corar.

— Obrigada.

  Ela saiu do meu campo de visão, errando um pouco os paços por conta da bebida.
   Me deito no sofá, tentando afastar os pensamentos da minha cabeça. Isso não pode acontecer nem em pensamento...

   Acordo no dia seguinte com uma dor nas costas infernal por culpa do sofá, mas nada comparado a dor de cabeça por conta do álcool. Maldito vinho suíço.
  Cynthia não está mais no quarto. Deixou somente uma mensagem dizendo "Estou bem e voltando para a faculdade. Obrigada e me desculpa." Tentei responder, mas ela me bloqueou. Isso não poderia ter acontecido de jeito nenhum...

   A filial da Empreendimentos Albuquerque na Suíça é uma bela empresa, acomodada em um prédio inteligente de última geração. Depois de me apresentar a algumas pessoas, minha assistente me levou até a minha sala. Débora, parece que ela é brasileira mas cresceu aqui. Graças a Deus Renan se atentou a este detalhe, porque eu realmente tinha me esquecido que não falo sueco quando pedi para trabalhar aqui, mas eu terei tempo para praticar a língua, não pretendo voltar ao Brasil tão cedo.

  Tentei não pensar tanto no que aconteceu com a Cynthia, mas foi inevitável... Me senti o pior homem do mundo, eu nunca faria uma coisa dessas, ela é prima da Alice, e não só por isso. Não tenho planos de ficar com alguém tão cedo. Jurei pra mim que eu só vou ficar com outra pessoa quando alguém despertar em mim pelo menos um pouco do sentimento que ela despertou...

   No fim do dia, entro no meu carro e me arrisco no trânsito, preciso aprender o mais rápido possível a me virar aqui, não quero ficar dependendo de motorista o tempo inteiro. Alguns minutos depois que entrei no carro, Guilherme me liga. Coloco no viva voz e o atendo.

— E aí, já quer pedir demissão?

— Não, acho que vou aguentar os primeiros meses e depois tiro umas férias. - Nós rimos.

— Logo vamos nos ver. Conheci uma modelo Sueca, se eu tivesse descoberto antes como essas mulheres são na cama eu mesmo teria ficado com a direção da filial.

— Sei, vou fingir que você não está arrumando um motivo pra vir atrás de mim.

  Quando olho para o outro lado da rua, vejo junto de um grupo de pessoas, um rosto familiar. Bryan, o amigo da Alice da faculdade. Ele desapareceu depois que ela morreu, mandou flores para os pais dela e nunca mais voltou, o que eu considerei bem estranho já que eles tinham ficado tão amigos. Tentei entrar em contato com a família dele algumas vezes, mas a mãe disse que não tem contato com ele a meses.

Henrique, tá me ouvindo? - Guilherme falou do outro lado da linha.

— Eu preciso desligar. Te ligo mais tarde.

  Estacionei o carro na vaga mais próxima e caminhei até o rapaz. Posso estar enganado, mas ele parece estar em situação de rua. Usa um cobertor em volta dos ombros e está em uma fila do que me parecem ser doações, junto com outras pessoas nessa situação.

— Bryan? - Ele me olhou assustado, como quem viu um fantasma. - Eu sou marido da Alice, sua amiga de Oxford.

— Por favor, me ajuda e eu te conto o que você quiser saber!

PERDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora