C A P Í T U L O 9

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Três dias depois e eu finalmente tomei coragem de ir até os meus pais. Refleti e conversei bastante com o Henrique sobre isso e cheguei a conclusão de que eu não posso fugir disso a minha vida inteira. Eu quero acreditar que o homem maravilhoso que me criou ainda está ali. E pra isso eu preciso encará-lo como eu nunca fiz!

  São seis horas da noite e Henrique já está voltando da empresa. Terminei de me vestir e alguns minutos depois ele chegou.
Saimos do prédio, entramos no carro e depois de um tempo no trânsito, chegamos. Não avisei a ninguém que eu vinha, mas pela quantidade de carros na garagem, parece que eles adivinharam. Segurei na mão do Henrique e abri a porta.
  Guilherme está no sofá com Cynthia e Lucas, minhas tias e minha mãe sentadas na mesa com semblantes péssimos, parece que minha mãe não dorme a dias. Meu pai anda de um lado para o outro no celular, e tio Caio e tio Luan estão encostados na escada. Nenhum deles me viu ainda...

— Alice! - Lucas falou e todos me olharam -

Minha mãe correu até mim chorando e me abraçou com força.

— Eu pensei... Eu pensei... - Ela não consegue terminar a frase por causa das lágrimas -

— Tá tudo bem. Eu tô bem. - Sussurrei -

— Você ainda vai matar a gente! - Guilherme falou me abraçando forte - Henrique? - O olhou sem entender.

— Longa história. - Henrique respondeu -

Falei com todos e respondi várias perguntas. Meu pai apenas me olha com os olhos vermelhos e sem dizer nada.

— Nós precisamos conversar. - Falei indo até ele -

— E como precisamos.

Henrique ficou na sala com todos, enquanto eu fui até o escritório com o meu pai. Deus do céu, parece que meu coração vai sair pela boca! Ele se sentou por trás da mesa e ficou me observando. Quando me sentei ele começou:

— Que loucura foi essa? Tem noção de como nós ficamos? De como a sua mãe ficou? - Ele disse quase gritando -

— Se você descobrisse o que eu descobri, tenho certeza que faria muito pior.

— O que quer dizer com isso, Alice?

— Eu ouvi vocês, pai! Você, o tio Luan e o tio Caio. As acusações da tal Suelen são verdadeiras! - senti as lágrimas começarem a escorrer enquanto ele me olha perplexo - Eu passei a minha vida inteira achando que você era inocente de todos esses boatos. Defendia você na frente de qualquer pessoa. Mas você me enganou, pai.

— Sinto muito que tenha ouvido tudo.

— Sente muito? Eu descubro que o meu pai é um assassino e você sente muito?

— Eu não sou um assassino, Alice. Se eu fiz tudo o que eu fiz, foi por um motivo.

— É? Então me dá um motivo.

— Sua mãe. Já matei para protege-la. - O olhei perplexa, paralisada -

— Nas denúncias diziam que você era dono de uma boate de prostituição e que a mamãe trabalhava pra você. É verdade?

— Não.

— Não mente pra mim! - Ele respirou fundo -

— Sua mãe trabalhava sim, em uma boate de prostituição. Eu a conheci lá, aconteceram muitas coisas e eu à tirei de lá. Depois que ficamos noivos eu comprei a boate. Mas uma coisa não tem nada haver com a outra! Sua mãe não trabalhava pra mim, eu nunca prostitui ninguém.

— A minha vida foi uma mentira! - Me levantei da cadeira chorando -

— Não, Alice. A sua vida foi perfeita! Eu te dei tudo! Menos as verdades que você não tinha que saber.

— Perfeita? Você sabia que eu tenho depressão por não me sentir a altura de vocês? - Ele passou a mão no cabelo e respirou fundo - É, você sabe. Você só ignora isso. - Cheguei até a porta -

— E como fica tudo isso agora? - Me virei para olhá-lo -

— Fica tranquilo, não vou contar.

  Saí do escritório secando as lágrimas. Na sala, todos estão sentados conversando, provavelmente enchendo o Henrique de perguntas.

— Vamos? - O chamei -

— Aonde você vai, Alice? - Minha mãe perguntou se levantando -

— Pro mesmo lugar que eu estava. Mas relaxa, eu não vou sumir de novo. Amanhã tô de volta. - Henrique se levantou -

— Não Alice. Você passou quase uma semana fora de casa! - Minha mãe insistiu -

— Deixa ela ir. - Meu pai disse parado no canto da sala -

  Abri a porta e nós saímos. Fomos o caminho inteiro sem dizer nada. Hora ou outra o Henrique pergunta se estou bem, mas é só isso.
  Chegamos no apartamento e eu fui direto pro quarto dele arrumar minhas coisas. Comecei a pegar as roupas e dobra-las. Henrique entrou no quarto, me abraçou por trás e afundou o rosto no meu pescoço.

— Vou sentir sua falta. - Ele sussurrou -

— Mas ainda podemos nos ver, não é? - Me virei pra ele, passando meus braços em volta do seu pescoço -

— É claro. Só que não vai ser a mesma coisa. Dormir sem você, acordar e não te ver. Acho que me acostumei.

— Henrique, você se lembra do que nós dissemos no carro? - Perguntei e ele arqueou uma sobrancelha -

— Sobre?

— Nada... Esquece. - É evidente que ele não lembra -

— Não me lembro de nada depois do meu pedido de namoro. - Ele disse rindo - Achei que não se lembrava, por isso não falei nada.

— E eu achei que você não lembrava. - Sorri pra ele -

— Então? E por favor, se for dizer não, que seja por um motivo diferente de " Está muito cedo ". - Nós dois rimos -

— Sim.

— Sim? - Ele me olhou sorrindo como um bobo -

— Eu passei tempo demais fugindo disso... Nas depois que te conheci, vi que era a minha maior certeza. - Nos beijamos -

  Passamos a noite juntos e no dia seguinte Henrique me deixou em casa cedo. Ouvi as vozes deles vindo da cozinha, mas eu subi direto pro meu quarto. Peguei uma roupa e fui tomar banho. Me vesti, peguei a mochila e desci as escadas, e agora todos estão na sala.

— Oi filha, quando você chegou? - Minha mãe disse sentada no sofá -

— Agora pouco. Tô atrasada pra escola.

— Eu te levo, tô indo pra empresa. - Guilherme falou -

  Saimos de casa e entramos no carro dele, já preparando a minha cabeça pra conversa que ele obviamente vai puxar.

— Está namorando o Henrique Lima?

— Com tudo o que aconteceu, você me pergunta isso?

— Eu já sei o motivo do seu sumiço, Alice. Meu pai contou. - O olhei séria. Ele sabia - Sinto muito que tenha tido outra crise. - É, ele não sabe. -

— É... Foi isso mesmo. - Resmunguei olhando pela janela -

— E então?

— Sim, nós estamos namorando.

— Nossa... Não acha ele um pouco velho pra você?

— Não acha a Renata um pouco vadia pra você? - Me arrependi imediatamente. Meu irmão não tem culpa dos erros do papai - Desculpa... Eu só tô estressada.

— Relaxa. - Ele sorriu -

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