CAPÍTULO 49

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2 ANOS DEPOIS.

|| ALICE ALBUQUERQUE ||

    Sinto o ar do inverno brasileiro contra meu rosto. Olho para baixo e vejo a troca de turno dos seguranças no portão principal, um pouco mais a direita, vejo o rapaz que limpa a piscina terminando seu trabalho.
   É engraçado pensar que a alguns anos atrás eu sentia calafrios só de pensar em viver dá exata forma como vivo hoje. Não vou mentir, as vezes eu imagino como poderia ter sido diferente. Eu poderia estar agora em Las Vegas com Cinthya e suas amigas ao invés de estar organizando bailes beneficentes, mas, depois que o devaneio acaba, eu penso que estou exatamente onde eu deveria estar. Diferente da minha mãe, os afazeres da casa e organização de bailes e jantares eu deixo quase que cem por cento nas mãos da governanta, enquanto eu, cuido da Cecília, faço minha faculdade, que a propósito agora é psicologia, vou a festas ou viajo com o Henrique quando estou cansada dessa rotina, e isso não me faz uma mãe ruim, ou uma esposa ruim, me faz ser quem eu sou. Passei muitos anos sentindo medo de viver como a minha mãe viveu, e hoje eu entendo que, ela viveu e vive como ela quis! Cada uma de nós sabe da sua própria realidade e como quer viver sua própria vida. Depois que comecei a pensar assim, a voz na minha cabeça que dizia que eu nunca seria uma "Senhora Albuquerque Lima" a altura, se calou.

   Já fazem dois anos desde que meus pais e tios foram para os Estados Unidos, e até o momento não tem previsão de retorno. Mas, está tudo bem... As vezes a saudade aperta um pouco mais forte, mas estamos sempre juntos. E me conforta saber que eles estão felizes. Meu pai e meus tios recebem relatórios mensais sobre a empresa, e agora eles pescam e jogam golf, da pra acreditar!?

  Vejo o carro de Henrique entrando na garagem e desço as escadas para recebê-lo. Quando desço as escadas, vejo ele entrando na sala, tirando seu paletó cinza e jogando no sofá. Ele tem os cabelos bagunçados e o olhar cansado.

— Dia difícil? - Perguntei.

— Ainda acordada meu amor? - Perguntou vindo até mim e me beijando.

— Cecília demorou pra dormir... Aconteceu alguma coisa?

— Tive uma reunião difícil com os chineses. Era o Guilherme que estava tratando tudo com eles, e na hora da reunião ele furou e eu tive que substituí-lo. Ele continua obcecado por trazes seus pais de volta ao Brasil.

— Você precisa de férias. — Falo colocando meus braços em volta de seu pescoço.

— Não podemos deixar a empresa. Guilherme não está com a cabeça no lugar.

— A Mayara cuida do Guilherme. E eu, cuido de você.

...

   Henrique já não está mais na cama quando eu acordo. O que se tornou muito comum nos últimos meses. Ele sai antes de eu acordar, e volta quando já estou indo dormir.
   Quando chego na cozinha, Cecília já está tomando café com a babá. Fico um pouco com elas e depois subo para me arrumar pra faculdade.

   O motorista me deixa na porta da faculdade e eu entro correndo, atrasada como de costume. Depois das minhas primeiras aulas, Jéssica, uma grande amiga que fiz desde o meu primeiro dia de faculdade, e eu, vamos até uma cafeteria próxima do campus para esperar nossa próxima aula.

— Eu fico me sentindo culpada, porque ele está sobrecarregado por causa dos problemas da minha família. — Falo assim que nos sentamos.

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