PERDIÇÃO

C A P Í T U L O 3

 — Conheço você. - Ele disse - Amiga da Cynthia.

— Alice. - Eu digo - O que faz na sala do meu irmão?

— Eu tinha hora marcada com ele, meu tio é patrocinador da empresa e eu vim resolver alguns assuntos. Me mandaram esperar e aí aconteceu esse apagão.

— Parece que tiveram algum problema na luz. - Caminhei até uma poltrona e me sentei, de frente pra ele -

— Você é irmã do Guilherme?

— Sim.

— Se quiser eu posso sair...

— Não precisa.

— Então... Desculpa por ter feito aquilo com a sua amiga, é que ela tava bêbada e eu não queria que ela fizesse nada que se arrependesse depois. - Ele disse depois de um tempo -

— Relaxa, você fez bem... Ela nem perguntou de você hoje. - Nós rimos -

— Então, Alice. Quantos anos?

— Alguns meses pra dezoito.

— Típica adolescente rica. - Ele ri - Ansiosa pra completar maior idade e brilhar sozinha com a fortuna da família. - Que cara ridículo -

— Eu não sei se as patricinhas que você está acostumado são assim, mas eu quero fazer dezoito anos pra ser independente.

  Ele arqueou uma sobrancelha e me olhou.
As luzes se acenderam e eu ouvi a voz do Guilherme do lado de fora. Me levantei e fui até o frigobar, peguei uma garrafinha de água e bebi.

— Desculpa por te deixar esperando. - Meu irmão entrou e apertou a mão do Henrique - Henrique Lima, certo? Sobrinho do Álvaro Lima.

— Isso mesmo. Tive uma surpresa quando cheguei, achei que a reunião seria com Renan Albuquerque.

— Ele viajou ontem. - Eu fiz uma tosse falsa pro Guilherme me notar, coisa que ainda não tinha feito - Ah, você tá aí. Se quiser me esperar pra irmos embora junto, vou sair as três.

— Tá bom... - Encolhi os ombros -

— Fica sentada aí que eu já termino aqui.

Me sentei no sofá de couro e fiquei mexendo no celular enquanto eles foram pra mesa do Guilherme. É impossível não ouvir a conversa deles né. Parece que o tio do Henrique quer ser acionista da empresa, e não patrocinador apenas.

  Não pude deixar de entrar no Instagram e procurar pelo nome Henrique Lima, e é o primeiro que aparece. Ele mora em Londres, pelas fotos, ou morava, não sei...

— Vamos Alice? - Os dois estão em pé na minha frente -

— Vamos.

  Henrique entrou no seu carro e foi embora, assim como Guilherme e eu. Paramos em um restaurante e fizemos nossos pedidos.

— Que inferno. - Ele disse olhando o celular -

— O que foi?

— Renata está aqui perto, vindo pra cá.

— Porque não termina logo com ela? Tá na cara que não a ama mais.

— Não é tão simples...

— É só terminar e pronto.

— Ela não aceita, e é mais fácil ficarmos juntos... É complicado.

Alguns minutos depois Renata chegou. Se eu e ela nos damos bem? Bom... Digamos que ela se aproximou de mim por causa do meu irmão, e até nos dávamos bem no começo, mas depois que ela alcançou seu objetivo, ela mostrou sua verdadeira face. Sem contar que ela é um carrapato, meu irmão é um galinha, e muito. Mas ele não foi assim sempre... Ele ficou assim depois que ela começou a surtar, fazia escândalos com as amigas dele, via coisa onde não tinha, já arranhou o Guilherme todo em uma briga. Nós duas já caímos no tapa várias vezes, ou seja, nenhuma das duas faz mais a mínima questão de pelo menos fingir que gosta da outra.

— Nem avisa, podia ter ido me buscar no salão. - A naja chegou, dando um beijo no meu irmão e se sentando -

— Coloca um chip. - Murmurrei bebendo um pouco de água, Guilherme me atravessou com o olhar -

— Como vai Alice? - Ela pergunta cínica -

— Quer mesmo saber? Por que não estamos entre os meus parentes, não precisa fingir.

— Tem razão, vou fingir que você não existe. - Ela deu uma risada - Já aluguei meu vestido pra festa da empresa.

— Que bom. - Guilherme respondeu chamando o garçom - O que vai querer?

— Só um sanduíche light.

Terminamos de comer, e o que era pra ser um almoço tranquilo com o meu irmão mais velho, se transformou em uma conversa que eu não fiz a mínima questão de participar ou prestar atenção no assunto.
 
  Guilherme e eu buscamos o Miguel na casa do amigo e fomos todos pra casa. Falamos com a mamãe e com o papai na vídeo chamada e eu fui tomar banho. Agora tô aqui jogada na cama. Hugo deve estar hibernando, e a Cynthia tá não sei a onde com a tia Elen, um lugar que não pega celular.

— Se arruma, vamos jantar na casa da tia Duda. - Miguel disse da porta do meu quarto -

— Quem disse isso?

— O Guilherme, ele tá achando que é o nosso pai.

Nos arrumamos e fomos pra casa deles, ou seja, eu vou encontrar o Lucas depois da festa, e nós vamos ter que fingir que nada aconteceu!
  A tia Duda abre a porta e nós nos sentamos.

— Mudança de planos, o tio de vocês queimou o peixe! - Tia Duda grita da sala para que o tio Luan escute - Vamos todos jantar fora!

— Já podemos ir. Como vamos fazer as divisões dos carros? - Tio Luan disse enquanto desce as escadas -

— Eu vou no meu com as meninas e você vai no do Guilherme com ele e o Lucas. - Tia Duda respondeu -

  Eu adoro sair com a minha madrinha, ela é um amor, não grita com ninguém além do tio Luan e com o meu pai.

  Chegamos no restaurante e com muito custo conseguimos uma mesa, está lotado. Fizemos nossos pedidos e ficamos esperando. Lucas não falou comigo durante todo o jantar, mas tudo bem, eu é que não vou insistir, o que eu fiz foi o certo e um dia ele vai perceber que nós dois não passamos de um erro.
  Como nossa comida demorou muito a chegar, nós saímos do restaurante quase à meia noite e fomos direto pra casa. Chegamos e já fomos logo dormir.

O resto da semana passou tranquilamente. Meus pais chegam em alguns dias e a escola está mais chata do que nunca. Logo logo vamos entrar em semana de provas, e a única coisa que me tranquiliza é saber que faltam poucos meses para as férias.