C A P Í T U L O 10

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Esses três dias que se passaram desde a minha "fuga" foram os piores possíveis Os dias na escola tem sido intensos, como perdi muita matéria demorei esse tempo pra repor.
Hoje em especial não é meu dia, tive que ficar sozinha. Hugo não veio e a Cynthia está organizando as coisas pra viagem do fim de semana. Pois é, com tudo que aconteceu temos uma viagem em família marcada. Vamos para um resort em Salvador. Já que meu pai não pode sair do país. É aniversário da tia Elen e essas viagens são quase uma tradição pra ela. De qualquer forma vai ser só mais uma semana ignorando meus pais, só que agora longe de casa.

Sinceramente eu não sei se vou aguentar essa convivência. Se esses três dias que passei em casa foram insuportáveis, imagine todos os outros dias. As vezes eu só queria não ter ouvido nada daquilo, mas aí eu penso que nunca saberia de nada e a minha raiva aumenta! Por que não poderíamos ser uma família normal?

- Senhorita, chegamos. - Cleber, o motorista, falou. Eu nem tinha percebido -

- Obrigada Cleber.

Sai do carro e entrei em casa. Não tem ninguém na sala. Subi as escadas e ouvi barulhos vindo do quarto dos meus pais, parei na porta e vejo minha mãe arrumando malas com várias roupas jogadas pelo quarto.

- Filha. Já fez suas malas? -perguntou dobrando alguma coisa -

- Separei algumas roupas.

- Alice. Não quer conversar?

- Não, mãe. Não quero estragar ainda mais o clima dessa viagem.

Entrei no meu quarto, tomei um banho e comecei a colocar algumas roupas na mala. Meia hora depois já está tudo arrumada e eu jogada na cama.

- Entra. - Respondi ao ouvir a batida na porta -

Henrique abriu a porta e entrou. Com um semblante sério. Fechou a porta novamente e ficou me olhando. Me levantei e pulei no seu colo, o abraçando.

- Eu ia te ligar agora! Tá tudo uma loucura aqui em casa... - Sai do colo dele -

- Quando ia me contar que vai viajar? - Ele me interrompeu -

- Eu, ia te ligar agora, na verdade.

- Quem vai viajar com você?

- Toda a família, tios, primos, irmãos. Mas por que, o que aconteceu?

- Vai viajar com o Lucas, Alice? - Ele colocou as mãos no bolso da calça -

- Eu não vou viajar com o Lucas. Vou viajar com a minha família.

- Acho que me enganei com você. - Ele ia sair, mas eu o segurei pela blusa -

- O que você quer dizer?

- Curte a sua viagem.

Ele saiu. Me deixando sem explicações, sem o direito de dar uma resposta. Mas essa é a questão. Qual é a resposta? Qual é o motivo disso? Ciúmes? Eu ir com a minha família? Ou ele simplesmente enlouqueceu?
Me sentei na cama e olhei pro nada... Pensando em nada... Não consigo chorar, nem dizer nada. Eu apenas estou cansada de tudo isso. Família, cobranças, responsabilidades. As pessoas dizem e fazem coisas na minha vida como se fosse um parquinho. Brincam, e quando cansam vão embora. E eu tô cansada disso!

A noite caiu, trazendo com ela a minha decisão de sair pra beber. Sim, sozinha. Eu sempre fui rodeada de amigos, mas ultimamente eu tenho sido a minha melhor companhia.
Vesti uma calça jeans preta rasgada, uma bota de saltinho preta, um top branco, peguei minha bolsa, fiz alguns retoques e saí de casa. Como não tem ninguém em casa eu economizo explicações.
Pedi um carro até um bar no centro da cidade e em alguns minutos eu chego. As ruas estão movimentadas e o bar cheio. Me sentei, pedi um martíni e fiquei mexendo no celular até minha bebida chegar.
Depois de umas três taças eu vejo uma pessoa conhecida se sentar na minha frente. Lucas se sentou na minha mesa e sorriu.

- Então agora você sai sozinha, mocinha? Se meu tio souber disso...

- Eu não tô nem aí pro seu tio. - Respondi bebendo meu drink -

- Posso te levar pra casa? - Ele se sentou na minha frente -

- Eu posso chamar um táxi.

- Vai me dizer que agora que está namorando, não pode mais sair com o primo?

- Tá, tanto faz... - Terminei minha bebida - Quero outro.

- Eu acho que você já bebeu de mais, não é? - Ele tirou uma nota de cinquenta da carteira e colocou na mesa - Vamos? Está chovendo.

Revirei os olhos e me levantei. Realmente está chovendo muito, e eu nem tinha percebido. Entramos no carro do Lucas e ele começou a dirigir. Pegamos um trânsito no meio do caminho, mas logo chegamos na minha casa.

Quando abrimos a porta, demos de cara com meus pais vestidos com roupas de dormir, falando com o chefe da nossa segurança.

- Olha quem eu resgatei. - Lucas disse assim que entramos -

- Alice! - Minha mãe me abraçou - Você tem que parar de ficar sumindo!

- Eu tô viva.

- Obrigado, Lucas. - Meu pai disse depois de dispensar o segurança - Está de carro? Quer dormir por aqui? Está tarde.

- Não, tio. Eu vou pra casa, minha mãe deve estar preocupada.

- Pelo menos alguém se preocupa com a mãe aqui. - Meu pai disse me olhando -

Nos despedimos de Lucas e eu fui pro meu quarto. Tomei um banho, vesti um pijama e fui pentear meu cabelo, quando meu pai entrou.

- Nós precisamos conversar. - Ele disse entrando -

- Precisamos?

- Olha só Alice, eu te dei o seu tempo de refletir, mas agora já chega! Eu sou o seu pai.

- Pai? O pai que escondeu de mim e dos meus irmãos que é um criminoso? Você sabe quantas vezes eu já discuti com repórteres e com várias outras pessoas por você? Pra mim era impossível o homem que me criou ser esse monstro que diziam. Mas agora olha só pra você. - Já senti meu rosto molhar com as lágrimas -

- Alice, você tem todo o direito do mundo de ter raiva de mim. Mas apenas de mim! Ou você acha que eu sou o único que sofre com essas suas loucuras?

- E o que você quer que eu faça? Que eu finja que nada aconteceu?

- Filha, é claro que não. Eu só quero que você me apoie, me perdoe e acredite que eu mudei! Não me orgulho das coisas que eu fiz mas não me arrependo. Eu fiz de tudo pra proteger a minha família, e faria de novo. Mas eu juro pra você, que não cometo um crime à mais de doze anos. - Ele segurou meu rosto - Eu amo vocês mais que tudo, Alice. Será que você consegue me perdoar? Ou pelo menos tentar?

— Sem mais segredos?

— Sem segredos.

O abracei com força. É a primeira vez que tivemos uma conversa tão intensa. E eu finalmente consigo ver o homem que eu vi a minha vida inteira. O meu pai.

PERDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora