C A P Í T U L O 14

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Cheguei em casa no dia seguinte e meus pais estavam na cozinha tomando café, sozinhos. Passei pra tomar água, mas se soubesse do que viria teria ficado com sede.

— Eu entendo que esteja gostando do Henrique mas você ainda é uma adolescente, e ainda nos deve satisfações. - Meu pai falou depois que eu sentei -

— Eu nunca deixei de dar satisfações a vocês, eu sempre aviso quando vou dormir com ele.

— Esta é a questão. Minha filha, você é tão nova, deveria estar aproveitando a vida, e não trancada em um apartamento transando. - Fico de boca aberta com as palavras dele -

— Quer dizer que te incomoda eu fazer tudo que vocês dois faziam quando a minha mãe tinha a minha idade? - Respondi, vendo minha mãe ficar perplexa e meu pai irritado -

— Alice! Não pode falar assim com o seu pai!

— Eu tô com sono, posso subir?

— Você está proibida de dormir na casa do Henrique, Alice. - Meu pai falou alto -

— Não pode fazer isso.

— Eu já fiz.

  Sai da cozinha com uma raiva absurda. Isso é ridículo! O Guilherme sempre dormiu fora de casa, e aí comigo eles fazem isso? Mas é claro, é sempre diferente pra mim.

  ...

Hoje completam três dias do meu castigo, e realmente meu pai levou isso a sério. O motorista fica na minha cola todo seu  tempo que consegue, e quando não consegue é porque eu estou na sala de aula ou em casa. Com muito custo hoje ele permitiu que eu vá a uma festa como Henrique, com a condição que eu durma em casa, claro.
  Antes da escola, arrumei uma bolsa com tudo que eu preciso pra me arrumar para a festa. Vou para a escola, assisto minhas aulas e a tarde, Henrique vem me buscar.

— Que roupa é essa? - Ele pergunta assim que eu entro, se referindo à minha roupa de educação física -

— Estava na aula de educação física.

— Vocês se vestem assim na escola? - Ele diz indignado dando partida com o carro -

— Estava na empresa? - Pergunto mudando o assunto -

— Sim, acabei de sair de uma reunião com o seu pai e com o Guilherme.

Nós compramos comida na rua e fomos para o apartamento dele. Tomei um banho e quando chego na sala, Henrique está conversando com uma mulher na porta. Ela tem os cabelos pretos e curtos, é bonita.
Vou até a cozinha, sem deixar de prestar atenção na conversa. Henrique não me viu, diferente da moça.

— Sua namorada? - Ela pergunta e ele me olha -

— Minha noiva. - Dou um sorriso ao ver a cara de espanto dela -

— Certo. Então eu já vou.

Eles se despedem e ele entra. Se senta à mesa e nós comemos. Conversamos sobre a escola, sobre a empresa e algumas outras coisas.
  Enquanto Henrique fazia algo no computador, eu comecei a me arrumar. Tomei um banho e fui para a frente do espelho pranchar o meu cabelo, depois de terminado, fiz uma maquiagem marcante. Escolhi um vestido sem mangas com um decote em V até a barriga, meio soltinho em cima e apertado em baixo, curto e preto.

— Essa foi a única roupa que você trouxe? - Ele perguntou saindo do banheiro apenas de cueca box -

— Sim. - Me sentei na cama pra colocar o sapato enquanto ele foi se vestir -

Henrique não disse mais nada, apenas andou até o closet e depois de um tempo saiu de lá ja vestido com uma calça jeans preta, uma blusa com estampa escura e uma jaqueta de couro preta por cima. Depois dos últimos detalhes nós saimos de casa.

Eu sei que ele está irritado com a minha roupa, é visível. Mas se eu não cortar de agora, imagine como será mais na frente? Meus pais são um exemplo de casal pra mim, mas eu não sei se suportaria alguém com o ciúme do meu pai. Não é o que eu sempre quis... Eu sempre quis ser livre, mesmo depois de encontrar um amor. Vivi presa de baixo dos olhos do meu pai durante a minha vida inteira, e agora que pretendo sair, espero que seja pra ser feliz.

  A festa é no salão de festas do condomínio onde o aniversariante mora. Está tudo lindo, neutro e bem enfeitado. Mesas para convidados, pista de dança, bar, mesa do bolo. Henrique e eu fomos cumprimentar o aniversariante, Ricardo.

— Olha só, o cara mais ocupado do mundo veio? Que honra! - Ricardo brincou assim que paramos perto dele -

— Parabéns, seu palhaço. - Os sois riram e Henrique o abraçou - Essa é minha noiva, Alice.

— Alice Albuquerque? - Ele apertou minha mão e eu fiz sinal positivo com a cabeça - Eu sou o arquiteto que fez o ateliê da sua mãe, conheço você.

— Acho que me lembro de você também, trabalha com a Bianca, a decoradora.

— Sim, inclusive ela deve estar chegando. - Nós rimos - Fiquem a vontade.

Ele foi falar com mais algumas pessoas e nós ficamos sentados em uma mesa. Henrique pegou dois driks para nós e não conversamos sobre nada! Ele realmente ficou com raiva pela minha roupa.

— Henrique Lima? - Uma morena de cabelos cacheados parou na frente dele. Ela é linda, e sua roupa mais ainda! -

— Catarina Mendes? - Se levantou e a abraçou com uma intimidade, bom, incomum - Achei que estivesse na África naquele projeto.

— O projeto terminou à um mês e eu voltei! - Ela sorri - Não reparei que estava acompanhado. Tudo bem, linda? - Ela me cumprimentou de onde está -

— Tudo sim, linda. - Sorri para ela -

— Vamos marcar algo só com o pessoal da escola? Estava marcando com o Ricardo outro dia, mas sabe como ele é. - Henrique disse -

— Claro que vamos. Eu te ligo pra acertarmos tudo.

Eles se abraçaram e ela saiu. Olhei bem séria para a cara dele enquanto ele finge que nada aconteceu e bebe seu wisky.

— Engraçado que você faz questão de me apresentar como sua noiva pra todos, agora quando uma ex namoradinha sua aparece você finge que eu nem existo.

— Ela não é uma ex namorada. E eu não fingi que você não existe. - Respondeu me olhando -

— Nunca transou com ela?

— Já, mas não eramos namorados. - Ele disse depois de um tempo calado -

— Vou ao banheiro.

Me levantei e sai pisando firme. Fui ao banheiro só pra me olhar no espelho mesmo. Retoquei meu batom e sai. Quando chego na mesa, percebo que Henrique não está. Me sento e o procuro olhando pelo salão, quando acho, ele está conversando com mais quatro amigos perto do bar. Se passam dez minutos, vinte, meia hora e por fim, uma hora. Uma hora que estou sentada sozinha nessa mesa, apenas observando esse idiota rindo e conversando com seus amigos.
  Pego minha bolsa, saio do salão e fico parada na porta esperando o táxi que chamei. Isso é o cúmulo pra mim! Ele me convidou pra vir, pra fazer essa palhaçada comigo?

— O que tá fazendo aqui fora? - Ouço sua voz atrás de mim -

— Indo embora, vou deixar você curtir a sua festa.

— Para com isso anjo. Me desculpa, eu só fiquei irritado com a sua roupa. - Ele me abraçou por trás, mas eu fiquei imóvel -

— Vai curtir a sua festa, Henrique. Eu vou pra casa.

— Alice, tem como a gente conversar? - Ele segurou meu braço quando viu que o carro chegou -

— Não. Não temos nada pra conversar agora.

Puxei meu braço e entrei no carro rapidamente. Em poucos minutos o motorista parou na frente da minha casa. Eu paguei e desci do carro. Que ótimo, nenhum segurança no portão. Estou trancada do lado de fora. Tiro meu celular da bolsa para ligar pra alguém vir abrir, mas sinto alguém colocar um pano molhado no meu rosto que me fez ir desmaiando aos poucos, até não ver nada.

PERDIÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora