CAPÍTULO 52 - PENÚLTIMO CAPÍTULO

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Henrique não me ligou ou mandou uma mensagem desde quando o deixamos no quarto do hotel. Já passa um pouco das três horas da tarde e estou sentada em uma sorveteria enquanto Cecília se diverte comendo um sorvete de morango, ou tentando comer enquanto se suja inteira.

O clima está agradável, a cidade, que é sempre tão movimentada, hoje está um pouco mais tranquila.
Me lembro da última vez que vim aqui. Meu pai tinha uma viagem de trabalho e eu queria ir a um desfile que estaria acontecendo aqui na mesma semana. Renan Albuquerque em um desfile de moda? Exatamente! Ele odiou cada segundo, mas fez questão de ficar ao meu lado que o desfile terminasse. Foi a nossa última viagem sozinhos. Sinto meus olhos lacrimejando. Saudades de ter ele todos os dias por perto.

- Papai! - Cecília aponta para o outro lado da rua, onde Henrique está parado com um lindo buquê de rosas amarelas na mão.

Ele caminha até nós, dá um beijo no topo da cabeça de Cecília e se senta ao meu lado.

- Me desculpe. Eu sei que você só queria ajudar, mas é um assunto muito delicado pra mim. - Ele coloca uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.

- Acha que é só trazer flores que vai ficar tudo bem? - Brinco, sorrindo para ele.

- E quem disse que as flores são para você? - O olho sem entender. - Quero apresentar vocês a uma pessoa.

Entramos no carro que estava parado do outro lado da rua e Henrique dirige para um lugar com muitas árvores e um pouco distante do hotel em que estamos. No fim da pequena estrada, posso ver um portão com algumas siglas em inglês, mas pelo que pude entender, é um sanatório.

Ele parou o carro em um pequeno estacionamento onde tem alguns outros carros parados e nós fomos andando pela grama.
É um terreno enorme, com uma grande casa bem no centro. Em volta posso ver um jardim com muitas flores, cadeiras com algumas pessoas sentadas aproveitando um pouco do sol, e um pouco mais acima acho que consigo ver um lago.

Uma mulher vestida com um jaleco branco chega até nós falando em inglês, Henrique e ela trocam algumas palavras e ela chama uma outra mulher, dessa vez, brasileira.

- Senhor Henrique, é bom vê-lo. - A mulher fala gentilmente.

- Esta é minha esposa, Alice, e minha filha, Cecília. - Ela sorri para nós.

- Sua mãe irá adorar conhecê-las. - Ela falou.

A mulher nos guiou até o lago que eu pude ver de longe. Caminhamos juntos até uma mesa branca, onde tem uma senhora sentada. Com cabelos castanhos cortados na altura dos ombros, usando um vestido azul e com lindos olhos castanhos claros. A
Ela não me parece ter muito mais do que quarenta anos, e pesar de parecer cansada, é muito bonita. Ela está distraída enquanto põe toda a sua atenção em uma tela de pintura em sua frente. O desenho ainda não está terminado, mas parece uma paisagem de uma praia.

- Beatriz, o amigo do seu filho está aqui. - A mulher avisa a ela, que olha para nós sorrindo.

- Olá querido! - Ela abraça Henrique, que lhe entrega o buquê de rosas amarelas. - Ele sempre me trás flores. - Fala para a moça com o jaleco branco.

- Beatriz, estas são Alice e Cecília. São a esposa e a filha do Henrique. Se lembra que te mostrei fotos delas da última vez que vim te ver? - Ela olha para Cecília com os olhos brilhando.

- Minha neta... - Passa a mão nos cabelos da Cecília. - Sou Beatriz, é um prazer conhecê-las. - Ela diz me abraçando.

- É um prazer Beatriz.

- Como meu filho está? - Olho para Henrique sem saber o que responder. Ela não sabe que ele é filho dela?

- Ele está bem. Os médicos disseram que logo ele deve se lembrar de tudo. E aí ele poderá finalmente vir visitá-la. - Henrique diz a ela, que sorri e volta a olhar para Cecília.

- Ela se parece muito com ele. - Se refere a Cecília.

Ela volta a pintar seu quadro enquanto Henrique pergunta como ela está, e o que anda fazendo...

Ficamos por algumas horas junto com Beatriz. Até que uma enfermeira chega dizendo que é a hora de seus remédios. Então ela se despede de nós, e caminha para dentro acompanhada da moça. Parece que os remédios a deixam sonolenta, então é melhor que ela os tome já no quarto.

Caminhamos pelo jardim junto com a moça que nos trouxe até aqui, Stela. Que conversa com Henrique enquanto eu observo tudo atentamente.

- Ela sempre fica muito agitada quando sua prima vem aqui. Ela insiste em convencê-la a ir embora com ela, mas Beatriz sempre nega e diz que está ótima onde está. - Stela fala, aparentemente sobre Raquel.

- Fique sempre por perto quando ela vier visitá-la, por favor Stela. E ela está pintando? Me lembro que em minha última visita eram arranjos de flores que ela estava fazendo. - A mulher sorri.

- Ela tem um gosto muito diverso.

- Vou fazer uma transferência para comprarem mais coisas de pintura. E contratem um professor também.

- Henrique, nós já temos professores de arranjo de flores, artesanato, origamis, poesia e agora de pintura? Ela muda seus hobbies a cada mês.

- Faz bem para ela.

- Tudo bem. Preciso ver os outros pacientes agora. É sempre um prazer vê-lo. E foi um prazer conhecer vocês. - Ela sorri para Cecília e para mim.

Caminhamos em silêncio até o carro. Ele parece um pouco, pensativo... Não consegui entender a situação muito bem, mas sei que deve ser difícil para ele. Então ao invés de fazer qualquer pergunta, prefiro deixar que ele fale, em seu próprio tempo...

- Aposto que é um ponto de vista bem diferente do que a Raquel te contou. - Ele fala assim que saímos com o carro.

- Eu não fazia ideia... - Me sinto mal por desconfiar dele. - Henrique, ela não se lembra de você?

- Os médicos dizem que a morte do meu pai e a minha partida foram choques muito grandes. Ela desenvolveu síndromes e muitas crises sobre isso que hoje são controlados pelo tratamento. A minha volta, poderia regredir tudo o que os médicos fizeram até aqui. Mas mesmo assim nós tentamos, e ela não me reconheceu. - Ele encolhe os ombros. - Foi a Stela quem teve a ideia de me apresentar como amigo do filho dela, para que então eu podesse visitá-la sem causar problemas.

- Mas, ela mencionou um acidente com você... Ela acha que você é que não se lembra dela?

- Eu não queria que ela pensasse que eu a abandonei, de novo... Então, tivemos essa ideia. Ela acha que eu sofri um acidente e perdi a memória.as que estamos fazendo um tratamento, e assim que eu me lembrar de tudo, vou finalmente visitá-la.

- Os traumas que ela sofreu foram tão grandes que ela não se lembra do seu rosto... - Sinto uma lágrima escorrer dos meus olhos. - Porque você nunca me contou?

- Por mas que eu esteja cuidando dela agora, eu a abandonei para viver com o Pedro. Eu fiz isso com ela, e eu não queria que você me visse como uma pessoa ruim, outra vez.

- Amor, não é culpa sua. - Seguro sua mão. - Se você soubesse que isso poderia acontecer com ela, tenho certeza que jamais teria a deixado. O importante é que agora ela está bem.

- Não quero que ninguém saiba dela, Alice. Não quero ela exposta a qualquer risco. Se alguém souber dela, podem liga-la a nossa imagem, e eu não quero isso.

- Ninguém vai saber. - Ele beija minha mão.

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