Piloto

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Maven's point of view

— Você é um homem muito gentil - Disse aquela senhora enquanto apertava levemente a minha mão e carregava um olhar agradecido.

— Eu faço o que posso e acho justo. Nosso reino é caótico, não custa nada levar um pouco de esperança para os que necessitam. - Disse enquanto colocava o último saco de grãos em cima de sua mesa

— O inverno foi cruel conosco, sabemos que o solo lamacento de Palafitas já não é favorável a qualquer tipo de cultivo mas com as chuvas e temperaturas baixas, a situação ficou ainda mais difícil mas eu tenho certeza que vamos nos levantar - Ela disse de maneira convicta - Como posso chama-lo? — Perguntou direta e cheia de curiosidade

— Pode me chamar de Thomas - Eu disse com a mesma convicção apesar da evidente mentira, afinal eles não podem saber quem realmente sou - Receio que terei que partir, eu preciso ir até mais pessoas - Eu disse sem querer soar rude e me dirigi até a porta.

— Mais uma vez obrigada e que os deuses o acompanhe.

Saí pela porta de trás para que ninguém me visse, assim que passei pela porta pude sentir a chuva tocar a minha roupa. Apesar da chuva estar extremamente forte, não me importei pois nunca tive a oportunidade de senti-la assim, não cabe a um príncipe descomprir seus deveres reais para aproveitar e sentir uma simples chuva, a sensação de liberdade invade meu peito por mais momentânea que seja.

Andei distraído até a floresta onde deixei Flame, minha égua, amarrada a uma árvore. Estava me aproximando do local quando claramente ouvi galhos sendo pisoteados e cedendo ao peso da pessoa, automaticamente senti a temperatura do meu corpo subir e as centelhas do fogo surgirem em minhas mãos mas precisava me controlar pois não sabia do que se tratava, ou quem.

De longe pude identificar, uma moça de estatura mediana se aproximava de Flame que logo ficou inquieta e a cena ficou levemente cômica quando a garota pediu desesperadamente para que a égua ficasse quieta novamente, obviamente, não aconteceu. Comecei a me mover em sua direção, seu olhar parecia inquieto e assustado, comecei a entender o motivo.

A garota queria furtar o meu cavalo, vi o exato momento em que começou a tentar se desvencilhar da corda que mantinha a égua presa e senti que era o meu momento de intervir, corri em direção a elas e só assim ela se deu conta da minha presença. Sua primeira reação era de se esperar, a garota simplesmente correu.

— EI - Gritei enquanto corria atrás dela

Dei graças a Arven pelo treinamento pesado que ele sempre exigiu de mim, aquelas manhãs correndo em volta do jardim e da sala de treinamentos estão fazendo sentido agora.

A garota parecia ágil e pela sua sua estatura, conseguia se mover com facilidade pela floresta escura mas por diversas vezes, ela parecia desesperada e acabava tropeçando nas raízes expostas das árvores, o que me fazia ganhar ainda mais tempo para alcançá-la, seu último vacilo foi crucial para que ela fosse ao chão e eu conseguisse segurar um de seus braços para evitar qualquer chance de fuga de sua parte.

A floresta estava escura demais para que eu conseguisse ter qualquer vislumbre da sua aparência ou da expressão que ela carregava agora, mas tenho certeza que ela deve estar assustada.

— Me larga! O que você acha que está fazendo? - Ela se debatia desesperadamente na tentativa de me fazer soltá-la. - Eu achei que alguém tinha abandonado ela ali, a culpa não é minha se você é descuidado - Afrontou.

— Quem em sã consciência abandona um cavalo daquele jeito? - Perguntei e ela voltou a se debater por alguns segundos para depois parar.

— Não sei, UM IDIOTA - Gritou e eu fiz questão de tapar a sua boca para evitar mais gritos.

— Eu creio que se a senhorita continuar gritando, vai arrumar um problema porque não era eu que estava tentando roubar um cavalo a alguns minutos atrás - Expliquei e retirei a mão da sua boca.

— Me solta, seu pervertido - Insistiu enquanto tentava me dar cotoveladas a todo custo - E quem é você? Todo estranho com essa máscara e essa capa, ninguém te avisou que ninguém se veste mais assim? - Comentou sobre o meu jeito de me vestir, era a única maneira que eu tinha de sair do palácio sem que todos vissem quem eu era e toda a minha tentativa de ajudar o povo de Norta fosse por água abaixo.

— Realmente você não tem jeito, garota - Falei levemente frustrado e já sem paciência - Vou ter que te denunciar de todo jeito - Falei e a larguei plantada na floresta para ir em direção a Flame.

— Por favor... - Parecia relutante em falar e eu parei de caminhar para ouvir o que ela tinha para dizer- Eu precisava fazer aquilo, é para ajudar a minha família, a situação não está fácil... Nunca foi - Colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha em sinal de puro nervosismo e ela tocou no meu ponto fraco, não posso virar as costas para isso.

— Eu sei, não é fácil para ninguém aqui em Palafitas. Será que tem algo que eu possa fazer por você? - perguntei tentando ser simpático.

— Só se você puder me arrumar dinheiro, muito dinheiro. - Falou desacreditada.

— Dinheiro não, mas um emprego... - Deixei no ar.

— Aham... - Falou desconfiada - E onde exatamente seria esse emprego? - Desdenhou.

— Em Summertown, no Palacete do Sol. Acho que posso arrumar algo para você na cozinha. O dinheiro não é muito mais acho que já ajuda e você pode pegar alguma coisa para comer quando ninguém estiver olhando.

— Você está falando sério? Como você conseguiria me colocar para trabalhar lá? Quem é você?- Sua voz carregava pura curiosidade

— Sou Thomas, trabalho lá também, como...Bom... - Gaguejei - Não importa. Conheço alguém que pode te colocar para dentro, você só precisa confiar em mim e me dá seu nome. Amanhã eu peço para liberarem você na entrada de serviço. - expliquei

— Sou Mare Barrow - disse com um sorriso largo e encantador.

— Ótimo. Esteja lá às sete da manhã. Para a organização da Prova Real, sua descrição é de extrema importância. - Supliquei

— Isso é perfeito! Não sei como agradecer.

— Só para de roubar, tá? - Pedi preocupado.

— Pode deixar - Ela disse parecendo estar envergonhada.

— Vou indo então. Boa noite, Mare.- Disse e sorri por baixo da máscara.

— Boa noite, Thomas.

Voltei até onde Flame estava e tomei meu rumo de volta ao palacete, não costumo sair dando emprego para todos os vermelhos que necessitam de um, mas nesta noite, senti que devia isso a Mare por mais desonrosa que fossem as suas atitudes, ela tinha motivos puros. 


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Com muito amor e carinho,

N & L.


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