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EVE BASTEN POVMeu coração chegou a bater mais rápido. Eu finalmente teria a resposta para o comportamento instável de Justin, a resposta que eu sempre me questionei internamente.
Ryan olhou por cima do ombro para se certificar de que seu amigo não estava mais ao redor e que não tinha mais ninguém ali, apenas eu e ele. Ele respirou fundo enquanto pensava na melhor forma de me contar o que eu pedi.
— A verdade é que... Ele... — ele bufou antes de pigarrear. — O Justin é diagnosticado com TEI, transtorno explosivo intermitente. Com outras palavras, ele é como uma bomba relógio acionada pelo mínimo movimento e que está pronta para uma explosão a qualquer momento.
Minhas pernas bambearam e eu me sentei no sofá como se não pudesse sustentar meu corpo de pé por mais tempo. Arregalei os olhos com a informação que tinha acabado de receber enquanto as palavras de Ryan ecoavam na minha mente. Justin sofria de um transtorno mental, essa era a resposta para a minha pergunta. A resposta que eu não gostaria de ter recebido.
Por mais que eu já tivesse entendido que as coisas não estavam tudo bem com ele eu não podia imaginar que seria algo nesse nível, não mesmo. Eu não conhecia aquele transtorno mas pela forma como Ryan falou eu já sabia que não era algo simples e isso me causou arrepios.
— Como? — estava atordoada. — O que isso causa nele? Excesso de raiva? Deixa ele violento?
— Justin tem impulsos agressivos quando o transtorno se manifesta. As mínimas coisas que saem do seu controle fazem ele sair do sério, a forma como ele manifesta sua raiva é desproporcional aos motivos. — Ryan afundou suas mãos nos bolsos da calça de moletom. — Ele vai acumulando os sentimentos e emoções dentro dele até que ele explode, e quando a explosão acontece ele fica cego de raiva, não consegue se controlar mais, não consegue recuperar o controle da sua própria mente. Quando ele está na borda do seu limite apenas uma palavra mal interpretada por ele já é um estopim. — esclareceu. — Mas depois que toda a merda está feita e a explosão aconteceu ele se arrepende, ele se sente mal mas é algo que ele não pode controlar.
E aquelas informações me fizeram enxergar peças do quebra-cabeça que antes eram invisíveis aos meus olhos e então eu consegui encaixá-las, com cenas passadas repassando em minha mente e me permitindo analisar a história com outros olhos.
A primeira vez que aconteceu, quando ele me atacou na boate e parecia um animal selvagem e faminto que tinha acabado de fugir da jaula mas no dia seguinte não conseguia nem mesmo olhar diretamente nos meus olhos e só agora eu entendia o motivo, ele tinha tido uma crise violenta e tinha vergonha da forma como ele agiu. Ou naquela vez em que ele saiu no soco com Ryan em mais um excesso de raiva e só se acalmou quando foi sedado à força, eu estava com ele quando ele acordou e a primeira coisa que ele fez ao abrir os olhos foi me perguntar se havia me machucado, provando que estava fora de si antes, e eu me lembrava até hoje do seu olhar de arrependimento pelo que havia acontecido. Nessa vez eu me lembro que ele sumiu por alguns dias, viajou para fora da cidade, provavelmente para se recuperar do que tinha acontecido em sua mente.
Agora tudo se encaixava, mas era um encaixe doloroso.
— Como isso começou? — questionei. — Como... Como foi o início disso? Como vocês descobriram?
— Quando Justin era um adolescente ele já frequentava alguns bares no Canadá, teve um dia que ele estava apostando em um jogo de sinuca em um bar do bairro e acabou perdendo, o cara que ganhou começou a zombar pela sua derrota e aquilo foi a gota d'água para a raiva contida dentro dele. Justin colocou todo seu ódio para fora e começou a bater no cara descontroladamente, só parou quando ele estava morto. Foi a primeira vez que sua raiva se manifestou daquela forma e foi seu primeiro assassinato. Acontece que o pivete que ele matou era membro de uma gangue local, não era uma gangue poderosa mas ainda assim era metida com alguns crimes no bairro que a gente morava. Os caras da gangue do defunto foram vingar a morte do amigo mas Justin não estava em casa, só a mãe dele estava lá então, infelizmente, foi ela quem pagou o preço. — Ryan contou e eu abri a boca em choque. — Justin sabia muito bem quem tinha matado sua mãe quando a encontrou morta em casa, ele não pensou nem duas vezes antes de ir atrás do resto da gangue. Justin os matou, os três que restavam. Então imagine, um garoto de 16 anos matando quatro caras na porrada. É como se sua raiva fosse seu nitro e quando ela está ativada ele fica três vezes mais forte.
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The Target
FanfictionA pior perda é a perda de si mesmo. Quando você mesmo não se reconhece mais, quando as decisões tomadas para a sua vida não partem de você, quando suas atitudes não coincidem com a pessoa que você realmente é. Quando seus pais são assassinados por a...