Sem revisão
Uma semana depois as coisas estavam indo de mal a pior.
O desgraçado do Xandy tinha sumido do mapa depois que Clara denunciou o estupro. Todas as provas já estavam a disposição da justiça, mas até agora não conseguiram localizar aquele monstro.
A nossa vida estava um caos. Eu estava exausta. Ao mesmo tempo que queria estar ao lado da Clara apoiando nesse momento difícil, eu tinha minha vida cheia de problemas pra resolver.
Problemas que eu fui deixando para trás com medo da resolução.
Depois de um dia cheio, estava passando das sete e meia da noite, não iria trabalhar hoje, só queria chegar em casa e descansar.
O meu uber estaciona no mesmo lugar de sempre na entrada do morro, assim que tiro o dinheiro da bolsa pra pagar a corrida, vejo o carro sendo rodeado por homens armados. Meu sangue gela, e o motorista me olha apavorado.
__ Desce aí bonitinha, e tu pode da o pé e não voltar mais. __ um dos homens abre a porta traseira do carro onde eu estou e ordena. __ hoje é teu dia de sorte motora. __ o mesmo homem me puxa de dentro do carro com brutalidade.
Fico sem reação, às pessoas que estão por ali ficam olhando.
__ Dentinho quer ter uma conversinha de pé de orelha com a donzela. __ o homem responde minha pergunta sem ela se quer ter sido feita.
__ O que ele quer? Pra quê tudo isso? __ tento puxar meu braço mas não consigo, o cara é mais forte que eu.
__ Tem algumas coisinhas que tu precisa explicar pra ele. Vai te preparando. __ ele ri e vejo o olhar de deboche dos outros homens.
Que medo. Que ódio.
Só consigo chegar em uma conclusão com essa situação e meu estômago embrulha.
Eu sabia que uma hora isso poderia acontecer. Mas não sabia quais seriam as consequências finais.
Sou jogada com força após aquele homem abrir uma porta e a primeira pessoa que vejo é Iury, ele está machucado e sangrando, foi uma surra feia. Meu coração fica pequeninho vendo ele assim.
__ Cadê meu filho? __ Dentinho rir e vem pro meu lado.
__ Devia ter pensado nele antes de sentar pra polícia né porra? __ recebo o primeiro tapa, meu rosto vira e ele me segura pelos cabelos. __ vocês acharam que eu não ia atrás dessa história é? __ ele não espera que eu fale alguma coisa, me arrasta ainda segurando meus cabelos até está perto do Iury. __ Se tu não me contar a mesma história que ele, Iago vai ficar órfão.
Com outro tapa sou jogada ao chão.
__ o que você quer saber dentinho? __ pergunto me fazendo de forte, mas por dentro tô tremendo de medo. Apavorada mesmo.
__ Tudo. Tu passou alguma coisa do Morro pro teu macho, Iury garante que tu não é x_9. Mas eu não sei se acredito não. __ Ele se abaixa até onde eu tô. __ fala, __ grita __ o que tu falava pra aquele cuzão.
__ Eu não falava nada sobre o morro, Dentinho. Eu juro. Eu sou moradora daqui desde nova, jamais colocaria nossa comunidade em perigo, eu sei bem o que a polícia faz quando sobe aqui. O meu lance com o polícia era só seXo. A gente nem tá mais junto. __ ele rir sem humor.
__ O Iury sabia que um polícia tava comendo a mulher dele? __ nego com a cabeça.
__ Iury não sabia de nada. E nem precisava, eu não sou mais mulher dele. __ sinto outro tapa ardido no rosto, e com certeza foi mais forte, sinto o sangue na boca devido o atrito do dente na bochecha.
__ Onde que entra a putinha grávida dele? Vai dizer que não se conheciam? __ ele já deve tá sabendo de muito mais coisa do que eu imagino, com o medo de deixar meu filho órfão, decido falar tudo, desde o começo...
Eu já nem sinto mais a bochecha de tantos tapas que levei. Dentinho sai da sala depois de ouvir todo meu relato.
O estado do Iury me preocupa, ele mal consegue ficar com a cabeça levantada.
__ Tu tá bem? __ Pergunto baixinho, sentindo vontade de chorar.
__ Me perdoa, loirinha. Me perdoa tá..__ sua voz sai fraca, baixa. __ Eu não queria __ ele tenta falar, mas para pra tentar respirar. __ Eu não quis atirar em ti..__ lembro do dia em que levei o tiro, eu não queria confirmar que tinha sido ele, mas se o Eduardo tinha negado que tenha sido ele, então o tiro só podia ter vindo do Iury.
__ Iury, tá tudo bem, respira. __ ele respirava com muita dificuldade.
__ Cuida do nosso filho. Diz pra ele que o pai ama ele...__ meu coração acelerou.
__ Não começa com isso não. Tu vai dizer isso pro nosso menino pessoalmente viu. __ tentei sorrir mas tava quase impossível com a dor que estava meu rosto.
__ Eu sempre amei você, Giovana. Sempre. __ tentou puxar a respiração mais forte.
__ Não era pra isso tá acontecendo, é tudo culpa minha...__ seguro seu rosto nas mãos. __ Você vai ficar bem, tá. A gente vai sair dessa, o Dentinho vai te perdoar. Vocês se conhecem a muito tempo..__ era ingenuidade pensar assim. Mas eu não queria perder a esperança.
__ Eles não perdoam, tu sabe. Eu sabia como era quando entrei.__ neguei com a cabeça.
A porta foi aberta e Dentinho entrou acompanhado com mais alguns caras.
__ É, acho que chegou a hora de vocês. __ ele fala calmo pra quem está planejando matar alguém.
__ A culpa é minha Dentinho..deixa ela e meu filho por favor. __ Iury diz entre difíceis puxadas de ar.
__ Tu coloca a mão no fogo por ela né? __ Dentinho pergunta zombeteiro. __ sabe que teu futuro foi traçado por isso, e tu loirinha... __ ele me encara com raiva. __ Vai carregar a culpa disso pra sempre.
__ O que você pretende fazer? __ perguntei com lágrimas descendo nos olhos. Já imaginando o fim disso.
__ O Iury sabe que traição não tem perdão desde que topou entrar na tropa. Tu como mulher dele deveria saber também. Tua sorte é que os caras ficaram com dó do menino de vocês e te deram uma pena leve. Já o Iury __ fez um gesto com a mão. __ vai pagar com a vida.
Minhas pernas ficaram moles. Toda nossa história passou pela minha cabeça naquela hora. Eu olhei para o Iury e senti todo meu mundo ali. Não podia ser, não podia.
__ Ele é teu amigo Dentinho. __ ele me calou com um soco forte que me deixou zonza.
__ Bandido não tem amigo, Giovana.
__ Levem eles. __ dois caras me seguraram pelos braços. E mais dois saíram arrastando Iury, literalmente.
Lembro de implorar, por favor. Iury nem mesmo conseguia se defender. Talvez ele tenha aceitado seu destino.
__ Tu vai assistir de camarote, assim Quem sabe tu pode orar pela alma dele..__ eu fechei meus olhos, e implorei por um milagre.
__ me perdoa, Iury, me perdoa..Eu te amo...__ foram as últimas palavras que ele ouviu, antes das chamas tomarem de conta do corpo dele.
Ali eu vi o primeiro homem que amei com toda minha alma partir. Eu não estava preparada pra isso. E nunca esqueceria aqueles minutos de tortura que doeram mais que as pauladas que levei minutos depois nas pernas, nem mesmo o cabelo raspado me pertubaria tanto quanto o último olhar que recebi do Iury.
Meu primeiro amor havia partido.
[...]
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RECOMEÇAR
ChickLitEu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, recomeçar na derrota, renunciar a palavras e pensamentos negativos. Acreditar nos valores humanos e ser otimista. Cora Coralina.