Cap. 14

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Resolvemos passar no supermercado antes de todos nós irmos lá para casa, onde acomodaria melhor esse tanto de gente. Deixamos as meninas em casa e continuamos nós três com o percurso de carro. Estacionei o veículo no estacionamento fechado, já que não sabia se íamos ou não demorar, até porque a única coisa que sabíamos é que estávamos aqui para comprar bebidas e carnes.

— Vodka, Whisky, morangos, limões... — Romero, como bom bebum já foi logo listando as bebidas e as frutas necessárias para a noite de hoje, até porque ele é o dono das melhores caipirinhas.

— Eu pego as carnes, bele?

— Pode pá, pega lá — faço sinal de joinha com a mão.

Liguei para Nanda, perguntei o que estava faltando afim de ela responder enquanto estou no mercado.

— Sal grosso, açúcar... — entro no corredor procurando pelos mesmos.

Acabamos levando ao caixa três carrinhos pequenos cheios! Cada carrinho com a personalidade de cada um de nós. Dividimos o dinheiro, no final deu tudo certo. Colocamos as sacolas no porta-malas, então seguimos viagem de volta ao apê, umas meia-hora por conta do trânsito.

— E aí, Sacolé, como tá a vida amorosa?

— Na mesma, brother. E a sua?

— Ah, também. Acho que o único que deu sorte no amor aqui foi o pivete aí que tá dirigindo — Romero diz lá do banco de trás.

— Fazer o que, né, eu fui o escolhido — risos.

•••

— Vira! Vira!

Eu não sou de beber, mas mereço de vez em quando espairecer. Virei o copo de vodka pura de uma vez só, tentando ao mesmo tempo segurar a careta. Foi um pouco impossível. Na playlist de sertanejo na TV Smart começou a tocar um sertanejo bom, Henrique e Juliano. Todo mundo já correu para a sala para dançar, nem que fosse sozinho. Nanda foi a que mais se empolgou, aquela ali adora um sertanejo. Me puxou pelo braço, posicionando minha mão direita em seu quadril. Eu que não sou bobo nem nada já parti para uma dança com minha amada. Vi que Bernardo chamou Maia para dançar e Romero fez o mesmo com Ayo. Todos estavam em duplas.

— Ai, que saudade que eu estava de um rolê, assim!!! — Ayo grita assim que a música termina.

— Vamos tirar uma foto aqui e mandar no grupo da bagaceira, temos que recordar desse momento — chamo todo mundo já com o celular na mão, lá no alto.

Todos se ajeitaram lá atrás. Como eu estava concentrado demais em ver se todo mundo cabia no espaço e em não tremer, acabei que não notei as expressões de cada um naquela hora. Tiramos duas. Eles já queriam ver na hora, mas apenas Nanda, que estava ao meu lado no momento em que abri a foto que acabei de tirar, e eu, que vimos o resultado.

Se fosse combinado não sairia tão perfeita a foto. Sem brincadeira. Foi a foto mais espontânea da vida, e mais bonita também. Não costumamos tirar muitas fotos em rolês assim, mas as que tiramos sempre saem muito boas. Maia estava com crise de risos na foto, mas só fui notar o porquê quando olhei para as mãos de Romero em sua cintura, fazendo cócegas na minha irmã com a maior cara de garotinho travesso. Luciana estava com cara de assustada para cima, onde Clara se apoiava em seus ombros para aparecer na foto, minha prima mostrava língua com os olhos fechados, brincalhona. Bernardo mostrava a língua, um de seus olhos estavam fechados e fazia gestos de rock — como se ele gostasse do gênero. Ayo estava em suas costas com a maior cara de medo, porque provavelmente ele a balançou naquele momento. E para finalizar a foto mais que perfeita, Nanda me abraçava por trás, como se tivesse aparecido de repente. Suas expressões era de completa felicidade, até se pareciam com as minhas. Todos estavam super brincalhões, era notável.

— Deixa eu ver a foto.

— É, mano, dá aí.

— Mostra aí.

— Não, vocês vão ver essa foto super engraçada direto no grupo.

Bufaram em seguida. Eu não me contive em risadas, assim como minha noiva, assim que vimos as reações de cada um deles ao receber a foto em seus celulares. Uns reclamavam da aparência, das expressões, outros já davam risada e zoavam os que reclamavam. Sem eu dizer os nomes é óbvio quem ficou com cada reação.

A campanhia tocou. Todo mundo se entreolhou assustado, já imaginando o que seria. Fiz gestos para a Maia, que estava próxima à TV, para abaixar o volume do som, apesar de não estar muito alto. Fui em direção à porta, abrindo-a.

— Festa? — O vizinho de corredor questiona com cara de sono. Ele não era um vizinho ruim, na verdade quase não para em casa. Trabalha muito em uma empresa de roupas de marca, só não sei dizer qual. As olheiras eram visíveis embaixo de seus olhos, assim como a cara de sono, como quem acabou de acordar por conta do incômodo. Eu nunca vejo o horário que ele vai ou chega do trabalho, a gente sempre se desencontra. Mas apesar de tudo ele é um senhor de sessenta e dois anos bem conservado eu diria.

— Er... não exatamente. Estamos atrapalhando, senhor Carlos? Podemos abaixar o som, diminuir a gritaria. A gente nem percebe às vezes.

— Ô, jovem Miguel, você sabe que não sou de reclamar. Aliás, quase nunca nos encontramos por aqui. Mas gostaria de pedir isso mesmo, só por hoje. É meu dia de folga depois de duas semanas pesadas no escritório. Poderia me conceder esse pedido de um pobre senhor? — Brinca.

— Opa, mas é claro, senhor Carlos. Nos perdoe o incômodo, viu? Não era a intenção. Pode ir descansar.

Ele agradeceu e se virou, entrando em seu apê.

— Ah, mano, nem estávamos fazendo tanto barulho — Clara mostra estar chateada com o clima que ficou.

— Ah, a gente estava sim — Luciana ri, admitindo.

— Desculpa, galera, só vamos maneirar um pouco. O senhor Carlos é muito gente boa e nunca reclamou de nenhuma comemoração nossa. Vamos liberar essa para ele — digo. — É só diminuir o som e falar um pouco mais baixo, sei como é querer descansar depois de dias cansativos — dou uma risada sofrida, lembrando. 

— Demorou, é isso, galera. Vamos só amenizar, a festa ainda não acabou — Bernardo levanta um copo de caipirinha no alto fazendo com que todos comemorassem.

Como nós mesmos falamos, nós cumprimos. Abaixando o volume da música e da gritaria, o que não foi muito difícil, pois todos já estavam super cansados e tomando um bom vinho em taças, sentados em várias partes da sala, super reflexivos. A gente conversava sobre a nossa infância. Os bons tempos de infância.

Bernardinho, Ayo, Clara e Luci foram embora por já estar ficando tarde. Acompanhamos eles até o elevador e entramos de volta. Todos vão trabalhar amanhã, exceto Nanda e eu, que estamos de folga. Nanda trabalha como farmacêutica depois da facul, raramente tem folga, mas devido ao seu banco de horas ela conseguiu resgatar essas duas, hoje e amanhã. Inclusive amanhã ela vai não vai ter aula porque o professor teve uns problemas de saúde, e a aula é específica da matéria dele.

Romero já estava dormindo, bebeu o suficiente para causar uma pequena ressaca. Até duvido que consiga se levantar cedo para ir para a facul. Maia não estava se sentindo muito bem, então se deitou também.

Nanda e eu estávamos deitados nos sofá. Sua cabeça estava apoiada em meu ombro esquerdo, enquanto nossas mãos se entrelassavam. Nas vagas a gente segurava uma bela taça de vinho. As únicas luzes acesas eram as da varanda, na cor amarela. Em segundos uma chuva não muito forte começou. A casa estava escura o bastante para parecer até um encontro. Apenas a luz da lua ultrapassando a varanda e as luzes amarelas da mesma, que lembravam até velas. Na TV, sem que imaginassemos, começou a tocar uma clássica do U2.

Me levantei, a fazendo rir por já esperar o que eu fosse fazer. Estendi minha mão direita para ela enquanto a minha esquerda esperava ansiosa por trás, feito cavalheiro. Era evidente o quanto ela gostava da minha companhia, assim como eu gosto e preciso da dela. O brilho em seu olhar não escondia a magia do momento.

Para Sempre Desde SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora