Em fração de segundos a criançada já correu em minha direção. Eu estava feliz por poder ter realizado o sonho do aniversariante de conhecer um bombeiro pessoalmente em sua festa, que desde sempre sonhou ser com o tema de tal. Eu conheci o Arthur pela internet. Na verdade, os pais dele. Os mesmos me chamaram nas redes sociais ao verem algumas fotos minhas vestido como bombeiro e dizendo que era um, além das legendas, na bio. Fizemos uma vídeo-chamada que durou em torno de uns cinquenta minutos em uma noite de quinta-feira, folga minha. Naquele dia eu estava sem o uniforme, mas cheguei a pegar ele para mostrar por vídeo ao garotinho. Os pais acompanharam toda a vídeo-chamada, monitorando o filho e fazendo parte da conversa em diversos momentos. No final da ligação, ao me despedir e ver que pelo garotinho ele ficava ali uma noite inteira conversando comigo, disse que qualquer dia eu iria visitá-lo, mas como uma criança esperta, ele não acreditou tanto, por conta dos diversos obstáculos que teríamos que enfrentar para se encontrar. Mas encerramos a vídeo-chamada com o coração quentinho, principalmente eu. Me sentia realizado só de ver que uma criança daquela idade era fanática e totalmente apaixonada pela profissão que eu exerço, da qual também é seu sonho.
— Tio, tio, você apaga mesmo o fogo das casas?
— Tioo, você já salvou alguém na água?
— Titio, você gosta de ser bombeiro?
— E salvar pessoas?
— Se alguém desmaiar, você salva?
Acabei gargalhando com a afobação das crianças, como se não acreditassem que estavam vendo um bombeiro fora de filmes e séries.
— Bom, vamos sentar aqui que eu respondo e explico melhor para cada um de vocês, está bem? Vamos lá.
Sentamos onde eu estava apontando, uns dois metros de distância do ponto anterior. Haviam muitos puffs, o suficiente para a quantidade de crianças que tinha na festa. Sentei no chão, ficando quase da altura deles sentados.
— Então, primeiro vamos nos apresentar. Meu nome é Miguel, e esse como vocês já viram, é meu amigo Arthur — ele sorri com brilho nos olhos. — Agora é a vez de vocês. Vou apontar para cada um e cada um diz o seu nome.
Eles concordam com a ideia, fazendo o que propus. Ao todo eram mais ou menos dezessete crianças. Praticamente a sala dele toda na escola mais alguns amigos vizinhos, pelo que me contaram.
— Se eu não me engano, a Melissa me perguntou se eu apago o fogo das casas mesmo — ela assente toda sorridente esperando por uma resposta ansiosa. — Simm, Mel, bombeiros apagam o fogo não só de casas, mas também de prédios e vários outros ambientes. Também me perguntaram se eu já salvei alguém na água. Foi você, né, Paulo? — Ele também sorri alegre, assentindo. — Sim, Paulo, eu já salvei muitas pessoas em afogamentos. Principalmente quando eu trabalhei em um clube, sempre tinha gente se afogando — finjo cochichar e eles caem na gargalhada.
— Então você sabe nadar, né?
— Sim, sim. A gente aprende e prática isso tudo antes de sermos bombeiros.
— Você gosta de ser bombeiro? — Júlia reforça a pergunta da qual já esperava a resposta a alguns minutos.
— Claro, Júlia — sorrio. — A gente tem que gostar do que faz. Por exemplo. Qual a profissão que a sua mãe tem?
— Minha mãe é costureira em uma loja.
— Então, para isso ela tem que gostar de tecidos e de costurar, né? — Assente. — É a mesma coisa. Parece chato trabalhar, mas quando você ama o que faz, é como se você não conseguisse mais viver sem aquilo. Você começa a ir porque gosta, não porque tem que trabalhar, entende? Eu amo o que faço, e é assim que deve ser — sorrio. — Próxima pergunta?
Passo meu olhar por cada criança até chegar no Iago.
— Calma aí, primeiro o Iago que levantou a mão primeiro. Pode perguntar, Iago.
— Na verdade eu ia perguntar se você gosta de salvar pessoas, mas acho que sim, né? — Risos.
— Simm, como respondi a Júlia, faz parte do amor à profissão. Toda profissão a gente tem que trabalhar com o público, as pessoas. Por isso nós devemos gostar das pessoas. Automaticamente, respondendo a sua pergunta, eu A M O salvar pessoas — todos riem. — Vocês acreditam que eu já ajudei uma senhora em um incêndio e meses depois eu descobri que ela morava na mesma rua que a minha?
— Ela é sua amiga agora? — Arthur sorri.
— Sim, ela é minha amiga. Toda vez que a gente se vê ela fala comigo, até demais — risos. — Ela até me dá bolo quando faz, e olha que ela faz sempre.
— Humm, que delícia — Wendy se derrete só em pensar.
— Tio, e se alguém desmaia em um lugar que você está, você ajuda?
— Simm, é claro. Quando somos bombeiros e estamos em um lugar que alguém desmaiou ou sofreu algum acidente, a gente pode ajudar essa pessoa até que o resgate chegue, se precisar, já que somos treinados para isso.
Depois de MUITA conversa e MUITO responder perguntas, das quais eu tenho que admitir que adorei, os pais de Arthur o chamaram para tirar fotos com todos, assim como as crianças. Eu também não fiquei de fora, participei de todas ou quase todas as fotos. Algumas zoando, como as que mirei o extintor nos convidados e eles faziam cara de espanto para mim. As últimas fotos eram minhas com Arthur, depois de eu já ter tirado também com seus pais. A gente brincou bastante na hora das poses, nos divertimos muito em cada foto.
Ao final de tudo, depois de terem cortado o bolo, do qual o primeiro pedaço foi para mim (sim, fiquei super feliz com isso), e também ter brincado em cada brinquedo com as crianças, chegou a hora de me despedir. Achei que seria só uma participação na festa, que não seria nada demais, mas acabou que fiquei até mais tarde por lá. Fui embora antes de muitos convidados, até porque amanhã de manhã eu teria compromissos, mas estava muito divertido, foi tudo melhor do que eu imaginava. Se eu já estou super feliz por esse dia, imagina só o Arthur, não vai parar de pensar no dia de hoje por muito tempo haha.
Entrei no carro já tirando a parte de cima e a mais pesada do uniforme, jogando no banco de trás, junto com o capacete. Eu com certeza terei que tomar outro banho, sem condições.
•••
Abri a porta de casa, os três estavam deitados no sofá assistindo um filme do qual eu ainda não tinha identificado o gênero. Imediatamente seus olhares foram para mim, mas nenhum deles sequer abriu a boca. Apenas esperavam por respostas que já deveriam ter sido respondidas desde o início.
— Estou morto — mostro exaustão.
Deixei o capacete no chão, próximo a porta, arrumando os cabelos molhados de suor com as mãos. Como se nossos subconscientes escutassem um ao outro, Fernanda já exclamou.
— É, vai tomar um banho primeiro — risos.
Todos ali na sala riram, inclusive eu. Entrei debaixo do chuveiro após me despir. Aquela sensação da água quente passando por todo o meu corpo... nossa! Tudo que eu precisava. Curvei um pouco o pescoço para frente, permitindo que a água quente "massageasse" minhas costas ao entrar em contato com as mesmas. Por um segundo me senti nas nuvens, que sensação maravilhosa!
Desliguei o chuveiro, já pegando a toalha no suporte, envolvendo-a na cintura. Saí do box secando os cabelos com outra toalha azul. Me olhei no espelho, e não é por nada não, mas estou em uma das minhas melhores fases. Miaw, hein. B r i n c a d e i r a KK.
Penteei os cabelos apenas para desembaraçar, logo em seguida eu passei as mãos e deixei com um aspecto de úmido bagunçado, bem natural. Estendi as toalhas na área de serviço assim que me vesti com um conjunto de moletom preto.
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Para Sempre Desde Sempre
RomansComo muitos jovens de vinte e três anos, Miguel e seus amigos adoram uma resenha. Bombeiro e com estabilidade financeira, ele só quer aproveitar a vida ao lado dos amigos e da namorada. Mas uma grande perda o faz ter que mudar radicalmente seu estil...