Música Dinasty - MIIA (Legendado)
Senti um toque não muito quente na minha pele. Era a mão da mãe dela... a minha ex sogra. Olho por cima do meu ombro direito. Seus olhos estavam parecendo vidro, lacrimejados, assim como os meus. A gente não conseguia dizer nada um para o outro. Só nós sabemos de verdade a dor que é perder a Nanda. Apesar da intimidade e do amor com ela, eu afirmo com todas as letras, só nós sabemos o que é morrer por dentro depois de receber a notícia da morte dela.
— Obrigada — sou surpreendido por um abraço dela. Logo em seguida outra pessoa chega, nos aconchegando em um abraço enorme.
— Você não tem pelo o quê me agradecer. Eu não fiz nada, não pude evitar nada. Eu juro que se eu pudesse...
Ainda no abraço, ela sussurra:
— Você pode não ter conseguido evitar a morte dela, mas foi você quem fez cada minuto desses últimos anos dela valer a pena.
— Era para ser, e não podemos fazer nada — o pai dela termina o raciocínio da esposa.
Eles já estavam conformados, ou a ficha deles ainda não tinha caído como a minha. Mas o que a mãe dela me disse me arrepiou de corpo inteiro. Será mesmo?
— Eu posso dizer melhor do que ninguém o quanto ela te amava e te queria por perto. Esse casamento era tanto o seu sonho como o dela. Mas o destino é cheio dessas — suas lágrimas escapam.
Era a hora de enterrar. Já haviam se passado duas horas da despedida e nem um de nós percebeu.
— Por favor, calma! Esperem! É a última vez que vou vê-la, não pode ser rápido assim. Só mais um momento — choramingo. Nesse instante já senti muitos olhares de dó para cima de mim. — Como em um minuto a pessoa pode estar falando com a gente, beijando a gente, nos fazer rir, e... no minuto seguinte ela se vai, sem direito de despedidas... por que a morte chega sem avisar, sem dar um curto prazo de tempo para vivermos o impossível e improvável antes do pior acontecer? Eu teria te levado para Paris, meu amor. Teríamos tirado aquela tão sonhada foto em frente à torre Eiffel. Teria viajado o mundo contigo, porque era um dos seus maiores sonhos. Teria tido quantos filhos você quisesse... mas agora que não posso fazer nada disso com você, só com você... — enxugo as lágrimas com as costas da mão direita, respirando fundo outra vez — eu não quero fazer com mais ninguém. Eu te amo tanto...!
Me ajoelhei no chão, mas ainda com as mãos apoiadas no caixão. Meu pai se aproximou, me abraçou forte por trás e me afastou um pouco do corpo dela.
— Você tem que deixá-la ir, filho...
Meus olhos se enchem de lágrimas, caem todas de uma única vez.
— Eu nunca mais vou sentir ela. Nunca mais vou poder abraçar ela, beijar ela. Como você diz com essa calma que eu devo deixá-la ir, pai? Como? Eu fiz tudo isso em vida, mas queria fazer mais. Mesmo sempre termos aproveitado com todas as forças cada momento, se abraçado e se beijado com toda a intensidade possível, ainda mais ontem e nessa madrugada, mesmo sem saber... eu nunca imaginaria que mais tarde não teria ela aqui comigo, que mais tarde eu não poderia fazer o que eu tinha costume de fazer. Que era ouvir e dizer um Eu te amo de volta. Abraçar ela toda vez que a gente se encontrava. Beijar ela a cada minuto. Sonhar e planejar o nosso futuro. Como eu posso viver sem isso agora, pai?
— Pode demorar, mas você vai ficar bem. Eu estarei com você o tempo todo. Você sabe que eu sempre estou.
Após fecharem a tampa do caixão e o som da trinca ter feito efeito, foi como se qualquer dúvida que restasse sobre a morte dela tivesse sido esclarecida. Como se a ficha tivesse caído totalmente, de uma única vez. Me ajoelho provavelmente pela décima vez em apenas duas horas. Começaram a descer e descer o corpo dela dentro daquela caixa de madeira. Naquele momento era como se fosse qualquer pessoa ali, mas não a minha Nanda. Não à minha noiva. Eu era, com certeza, a pessoa que mais chorava ali. Até mais do que seus pais. Vivemos a maior parte de nossas vidas juntos, só nós dois, tanto que chega a ser difícil nossas famílias sentirem a mesma dor que eu.
A terra foi sendo jogada pelos coveiros. Cada grão daquela terra caindo por cima do caixão era como uma facada no meu peito. Era a certeza de que eu não veria mais ela. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo naquele momento e comigo.
— Eu te amo, eu te amo, eu te amo — digo em meio ao choro. Jogo uma rosa vermelha no meio de toda aquela terra, que rapidamente foi coberta e desapareceu do nosso campo de visão.
— Estou aqui, você tem a mim — minha figura paterna se abaixa na minha altura, ajoelhado, e então dá um beijo no meu pescoço, me abraçando em seguida. — Você sempre terá a mim.
— Eu sei, pai, eu sei — seguro seu braço com força, me apoiando no mesmo.
Quando toda a terra cobriu o túmulo e o caixão já estava a sete palmos do chão, me aproximei. Toquei aquela espécie de areia marrom. Aquela que, junto com a morte, tirou de mim quem eu mais amava.
Já não poderíamos fazer nada a não ser visualizar o túmulo e jazigo com as informações dela. Ao analisar todos os jazigos ao nosso redor, percebo que cada um já foi importante para alguém. Cada um teve uma história, um amor, vários amigos e uma família que os amavam muito. Cada um se foi em diferentes etapas da vida. No caso a Nanda era a mais jovem entre tantos e tantos mortos entre trinta e cinco e setenta e dois anos. O que me fez novamente questionar Deus. Por que ela? Tão jovem, com uma vida inteira pela frente. Poderia ser qualquer outra pessoa desse mundo. Sim, estou sendo egoísta ao dizer que eu queria que fosse a namorada de qualquer outro sujeito ao invés da minha. Mas é tão complicado quando é a nossa vez de perder. Apesar de meu pai sempre ter me ensinado que ganhar não é tudo na vida e que por diversas vezes vamos perder ao longo dela, eu não estava preparado para perder a minha vida.
Muitos já tinham ido embora. Já fazia uma hora que ela havia sido sepultada, mas eu estava lá, sentado ao seu lado e rezando para qualquer pessoa lá do céu acolher ela da melhor maneira possível, pois ela merecia mais do que ninguém ir para um lugar bom e tranquilo depois de tudo de genuíno que fez nessa Terra com tudo e todos que a conheciam.
Meu pai e a Sarah estavam próximos a mim, ao mesmo tempo que me davam espaço. Meus amigos, minha irmã, todos estavam perto da entrada, lá longe. Se eu tivesse um único pedido agora seria permanecer aqui ao lado do túmulo dela até que ela voltasse para mim. Os pais dela estavam abalados, sentados em um dos bancos que ficavam um pouco afastados dos túmulos.
— Filho... você não quer ir para casa e...
— Não, pai. Só me deixe com ela por um tempo. Eu preciso ter a certeza que estive com ela em todos os momentos até o seu último suspiro. Eu prometi. Ela me fez prometer.
— Você esteve em todos eles.
— Quando eu prometi isso eu falei da boca para fora porque eu jurava que eu iria antes dela, mas agora que aconteceu eu tenho que estar em todo o processo. Ela não vai voltar, mas se realmente existe um Deus, se realmente ela for recebida lá em cima, que ela esteja vendo que nunca, em nenhum momento, eu abandonei ela.
Estava ventando. Meus cabelos voavam um pouco, apesar de não serem tão grandes. A tarde inteira esteve fria e sem sol. Um nublado parecido com a fumaça de um churrasco de domingo. Não teve sol nem por um minuto do dia. Até o dia estava triste. É como se lá de cima eles soubessem que o meu mundo perdeu as cores vivas de antes. Eles estão respeitando o meu luto.
Fernanda Ferreto Munhoz
2013⭐ Eterna em nossos 2036✝️
corações
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Para Sempre Desde Sempre
Roman d'amourComo muitos jovens de vinte e três anos, Miguel e seus amigos adoram uma resenha. Bombeiro e com estabilidade financeira, ele só quer aproveitar a vida ao lado dos amigos e da namorada. Mas uma grande perda o faz ter que mudar radicalmente seu estil...