Música Goo Goo Dolls - Iris (Legendado)
- Tivemos todas as nossas primeiras vezes juntos, de tudo que possamos imaginar. Lembro que te conquistei com um pote de sorvete napolitano - risos. - E você deixou claro que não se toma só um dos sabores, mas sim os três juntos. Teimava em dizer também que cobertura só se fosse de morango, para todos os tipos e sabores de sorvete que existissem. Você adorava meus moletons. Tanto que nunca me devolveu o meu favorito, rosa com detalhes em preto. Apesar disso, eu até que gostava de te emprestar eles, mesmo que eu nunca mais fosse ver os mesmos em mim, mas sim no seu corpo. Na verdade eu adorava te ver só com um moletom meu no corpo. Você ficava tão sexy, mesmo com uma roupa que cobria metade do seu corpo para cima. Também teve o dia que eu flagrei você borrifando seu perfume nas roupas do meu guarda-roupa e nas minhas roupas de cama. Daquele dia em diante eu só quis ter você por perto, o tempo todo. Foi quando te pedi em namoro na sua festa de quinze anos. Eu era um jovem de dezesseis anos, morria de medo de iniciar um relacionamento. Ainda mais com alguém que não fosse valorizar o que eu tinha para dar, que era amor. Eu tinha medo de me apaixonar, tanto que demorei para confessar o que eu sentia por você, mesmo você me dando todos os sinais de que era recíproco.
Dou uma pausa, respirando fundo e enxugando as lágrimas que deixaram meu rosto, além de vermelho, molhado.
- Daquele dia para cá eu só consegui te amar mais e mais. Você era aquela pessoa que eu nunca imaginava perder, e só de pensar na hipótese eu já tremia. Eu sempre te dizia que me jogaria na frente de um trem por você. Se eu soubesse... - choro - eu teria feito diferente, meu amor. Eu juro! Meu maior medo era que você se fosse antes de mim. Eu sempre pedia a Deus para que se fosse para acontecer algo contigo, que acontecesse comigo, só comigo. Eu não suportaria a ideia de te perder. Eu amava o jeito como você admirava o pôr do sol, a lua brilhar, a brisa do vento bater nas árvores e as folhas caírem... O jeito como você cuidava das plantinhas do meu apartamento, na verdade foi por você que eu tinha cada uma delas, e... às vezes eu deixava elas mal cuidadas de propósito, só para você sempre ter que ir me ver. Eu adorava a forma como pensávamos igual. A gente completava tanto um ao outro que pareciamos irmãos ao invés de namorados. A gente tinha um dom de planejar nosso futuro e fazer ele dar certo. Mas... chegou no nosso casamento e ocorreu um erro. Se eu soubesse que não teríamos tempo de casar... sem dúvidas, eu teria casado contigo há muitos e muitos anos, nem pensaria duas vezes. Mas a gente pensou tanto em aproveitar a vida sendo apenas namorados, dizíamos ser muito novos para assumir responsabilidades, uma casa, uma família. Tínhamos medo do futuro também, acho que foi por isso que adiamos tanto essa data, e quando ela finalmente chega... quem não está disponível é você.
Toco suas bochechas, elas estão geladas, como eu já imaginava.
- Provavelmente você já não tenha muito sangue em seu corpo, e por isso você está tão gelada. Assim como ontem, quando te tirei do carro, de cabeça para baixo, toda machucada e sangrando. Eu te vários beijos, mas você já não estava mais entre nós. Eu sentia, apesar de tudo, eu sabia que você já tinha partido. Mas... eu não acreditava. Eu simplesmente não queria acreditar na ideia de não ter mais você comigo. Não ter você pegando no meu pé por causa da toalha em cima da cama, ou da falta de limpeza da estante... talvez até das briguinhas para escolher um filme para assistir na hora. Eu não suportava a ideia de não ter mais você me chamando de meu amor e minha vida. Você era tão carinhosa e amorosa comigo e com todos que até julgavam você uma pessoa que nunca brigava, e na real você não brigava muito mesmo. Era daquelas que gostou, gostou, mas se não gostou, toma cuidado. No entanto, nunca fez mal a ninguém. Nem mesmo uma abelha. Eu sempre dizia o quanto seus cabelos num tom de preto azulado a deixava elegante. Assim como seus olhos escuros, dos quais vi pela última vez abertos nessa madrugada. Chega a ser engraçado se eu contar para alguém sobre o que estávamos conversando ontem. Lembro de ter estranhado aqueles papos que você colocou em jogo de repente, fiquei perplexo. Você começou a se questionar se eu estaria com você até o seu último suspiro, se eu não te abandonaria nunca... e apesar de afirmar tudo com prontidão, eu fiquei pensando naquilo por horas. A gente contou um pouco do que nos fez se apaixonarmos um pelo outro, admiramos a lua e o brilho dela e das estrelas, a gente sentiu a grama ao nos deitarmos para admirar melhor o céu. A gente avistou aquela cidade do alto, com todas aquelas pequenas luzes em cada casa. As ruas estavam tranquilas, quase não passavam carros. Tudo aquilo pela última vez, e nem sabíamos. Entre tanto, eu não vou negar, estava sentindo como se tudo aquilo fosse acabar, como se fosse uma última vez, uma despedida, mas logo me fiz acreditar na ideia de ser paranóia. Você me disse que tinha acordado diferente, com muitos pensamentos na cabeça, questionamentos e reflexões. Você já sentia que era o seu último dia, mesmo sem saber. Daquela praça gostosa fomos para um lugar mais reservado. Tivemos a melhor noite de todas. A mais romântica também. A gente teve muitos momentos como o de ontem, muitos até melhores, na verdade. Mas... eu acho que o que fez a noite de ontem ser especial foi... por ela ter sido a nossa última juntos. Foi por a gente ter comemorado a quase realização do nosso maior sonho, que era casar e formar uma família. Estávamos tão ansiosos com o dia de amanhã... todos já tinham recebido os convites, já tínhamos as roupas prontas... faltava só acontecer.
Nesse momento não consegui segurar as lágrimas. Tanto que me agachei e coloquei as mãos no rosto, afim de ninguém ver o tanto que eu estava sofrendo, apesar de ser quase impossível, já que eu e ela era a atenção de todo mundo. Meu pai posicionou sua mão esquerda nas minhas costas, me dando força. Me levantei, voltei a olhar para ela, linda, como sempre.
- E... eu só estou um pouco mais conformado com tudo isso, porque você era uma pessoa iluminada, maravilhosa. Uma pessoa que levava alegria por onde passava. Deixava amor e carinho no coração das pessoas com as quais falava. Você era o tipo de mulher que todo homem sonhava ter, e eu tive a sorte e o privilégio de ter ao meu lado, me apoiando e me ajudando por todos esses onze anos. Você era linda, do primeiro ao último fio de cabelo. Da cabeça aos pés, até o último dedinho, a última unha. Seus olhos, seu sorriso, sua boca, suas curvas, seu estilo, seu jeito, eu amava tudo isso. Eu amava por sermos parceiros não só de beijos ou de cama, mas de almas. Eu amava chegar em casa e te contar como foi meu dia, na maioria das vezes cansativos, mas você me animava e fazia o resto do dia valer a pena. Eu adorava ouvir seu dia a dia também. Você brava porque discutiu com alguém no trânsito, por exemplo. Quando passava em alguma prova difícil na faculdade, da qual eu já tinha a certeza que você ia tirar de letra, já que você sempre foi determinada quanto aos seus estudos. Você queria ser uma psicóloga porque sempre colocou as necessidades dos outros acima das suas. Você queria ver todo mundo bem o tempo todo, mesmo que você não estivesse. A gente dizia Eu te amo como um bom dia, boa tarde ou boa noite. Era comum na nossa rotina de casal. E o que me conforta é que mesmo sendo hipócrita em dizer tudo isso quando você está na droga de um caixão, é que eu te disse tudo isso e muito mais em vida.
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Para Sempre Desde Sempre
RomansComo muitos jovens de vinte e três anos, Miguel e seus amigos adoram uma resenha. Bombeiro e com estabilidade financeira, ele só quer aproveitar a vida ao lado dos amigos e da namorada. Mas uma grande perda o faz ter que mudar radicalmente seu estil...