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Por mais que a vida tenha lhe oferecido tudo do bom e do melhor, Jennie ainda assim não estava satisfeita com algo. Sempre se sentia vazia, tão incompleta que não entendia como poderia ser tão estranho. Seu apartamento era bom, lindo, espaçoso, luxuoso, nada lhe faltava, nada que era material. Tinha boas amigas, poucas mas eram as melhores, sempre recorria a Chaeyoung e a Jisoo quando não se sentia bem ou confortável para algo, não se sentia bem com ela mesma. Sua autoestima era um problema, mesmo sendo linda, não via isso quando se olhava no espelho.

Não achava o seu cabelo meio curto bonito, não achava tais covinhas adoráveis, não achava sua pele clara atraente, não gostava das curvaturas do seu corpo. Ela não gostava dela mesma. Mas o seu sorriso enganava a todos, muitas coisas enganava aos outros e até ela mesma.

Jennie tinha tudo o que uma pessoa queria, uma casa boa, um carro luxuoso, uma namorada linda e um emprego ótimo na agência de moda mais conhecida da Rússia. Mas ela não era completa digamos que, queria o seu brilho de volta.

- Podíamos sair para jantar essa noite, Jen, o que acha?

- Adoraria, Mary, mas estou com alguns modelos de vestido para analisar e com certeza irei ficar bastante tempo nisso.

- Vou pedir uma pizza então - sua namorada falou sem se importar muito com o cansaço de Jennie, que queria apenas ficar sozinha, tomar uma boa taça de vinho enquanto analisava cada desenho feito pelo um estilista amador.

Jennie amava Mary, como se fosse uma pessoa única e que não teria outra igual no mundo. Elas se conheceram na escola, ainda meio novas para saber e distinguir o que era um amor, mas Jennie se jogou de cabeça querendo, em segredo, ser amada por ela. Mary era uma garota meio popular, e a única coisa que Jennie queria era ser sua amiga, apenas uma conversa simples, até que de tanto desejar isso, viraram melhores amigas por fim virando um namoro - sem rótulos - mas era algo forte.

O que Mary não pedia que Jennie fazia chorando?

O que era estranho para as duas - em comum- o fato de terem uma vizinha estranha, poucos contatos quase nenhum, a menina loira não tinha uma vida boa, Lalisa já não se considerava uma pessoa viva.

Algumas dores do passado, a fizeram reagir ao mundo de um jeito estranho, de um jeito meio assustador e bizarro. Não falava, não chorava, ela praticamente não sentia mais nada. Ficava trancada no seu quarto o dia inteiro, escrevendo em um blog famoso no local. Vladivostok, uma cidade pacata da Rússia, guardava duas meninas que tinham nada em comum, mas algo entre si. Como a necessidade de ser ouvida e entendida, apoiada, e valorizada. Separadas apenas por uma parede de concreto, cada uma com um segredo escuro, um segredo que precisava ser desvendado, um segredo na qual as duas se sentisse confortável para falar, e tivesse a certeza que depois daquilo, ninguém mais sairia correndo, de vergonha ou algo assim.

Lalisa achou interessante a pesquisa sobre as estrelas cadentes que cairia naquela semana, no porto de Vladivostok, queria ir, mas não queria ver ninguém, conhecia algumas pessoas que tinham os mesmo interesses que ela, mas não queria ter contato. Sabia que a vista pra baía Zolotoy Rog era magnífica, mas a socialização não era algo pelo qual ela queria passar.

"O destino é algo vago, vazio, e sem explicação, por mais que a nossa maior vontade é controlar esse artefato, não podemos, não controlamos nada, nem a nossa respiração, nem as nossas lágrimas, nem o nosso coração. Você pode controlar você mesma?"

Publicado por: _Cygnus97_

Ela ficou satisfeita com a sua publicação, se sentia bem naquele blog, podia ser ela, podia ser verdadeira e demonstrar a verdade aos seus seguidores, ou apenas uma opinião diferente. Ela ouviu a porta principal se abrir e desligou a única luz que iluminava o seu quarto, abaixou a tela do seu notebook e prendeu a respiração.

- Lalisa? Lalisa, está acordada? Trouxe comida japonesa para você.

Ela odiava o seu pai, odiava tanto que pedia a sua morte constantemente, o que ele fez não tinha perdão, e o seu pedido depois do ato assombrava Lalisa dês do acidente. Era um ar tão forte em cima dela, que assustava e fazia a garota tremer.

- Tudo bem, estará no forno se sentir fome - então o homem andou em direção ao quarto pegando uma foto de sua ex esposa, se culpava, mantinha o remorso, mantinha a cabeça baixa, ele quase não aguentava olhar para a própria filha, por ser idêntica a mãe.

Aquela morte parcialmente planejada, envolvendo tantos arrependimentos da parte Andrei, ele amava a sua mulher, claro que amava, mas após descobrir a traição de Kira, ele jurou a sua morte e a morte do seu melhor amigo Nikolai. Mas aquele assassinato virou culpa quando Andrei se arrependeu, na quinta facada, quando ele notou que a sua mulher estava sem vida, tentou fazer de tudo para trazê-la de volta, mas quando viu que não era possível, pensou de um jeito frio e calculista de como se livrar das provas e do corpo, mas o que ele não esperava era que a sua filha de doze anos tivesse ali, escorada na porta, vendo tudo, a poça de sangue e o jeito como o seu pai acabava com a vida da sua mãe. Lalisa tinha apenas doze anos quando seu pai deixou de ser seu super herói, apenas doze anos quando a sua melhor amiga a deixou com um monstro, dês de então ela se isolou de tudo, não foi mais a escola, não saia mais de casa, e não emitia nenhum som, uma só palavra a dez anos. Sua única amiga se mudou de país após receber uma oferta de intercâmbio para os Estados Unidos, Sofya e Lalisa depois da sua ida nunca mais se falaram.

- O que você tanto vê nesse celular, amor?

- Hum, apenas alguns post's de uma conta que eu sigo, essa pessoa escreve coisas bem profundas, deveria segui-lá.

- Como se chama a conta?

- Cygnus97.

Jennie sorriu em divulgar aquele blog tão bem produzido para a sua namorada, a menina sempre se sentia abrigada ao ler aqueles textos, e sonhava um dia conhecer o autor ou a autora daquelas obras primas tão bem produzidas. Nunca havia visto alguém com tanta habilidade para aquilo, ela achava incrível.

- Uau, bem nada haver essas publicações.

- Hey, não fale assim, Mary, Eu gosto muito dessas publicações.

- Aonde você vê graça aqui?

- Não é pra ser engraçado, e sim reflexivo. Não tenho culpa se o seu conhecimento ou gosto seja tão reprimido ao ponto de não entender esses textos.

- Está me chamando de burra?

- Fica ao seu critério - Jennie respondeu já tendo a sua paciência arrancada pela a sua namorada, que também já não estava no clima, o temperamento explosivo de Jennie não agradava nem um pouco Mary, que sentia a cada dia o desgasto de namorar com aquela garota tão meio descontrolada. - Está tarde, é melhor você ir.

- É eu também acho.

Jennie se perguntou o que havia de errado com ela mesma, porque não conseguia se controlar? Ou porque deixava seus surtos tomar conta de toda a situação?

"Você pode controlar você mesma?"

Ela sentiu conforto naquela frase, pois ela sabia que em alguma parte não era a única que se deixava levar pelos os sentimentos.

Letras (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora