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Jennie batucava no parapeito do terraço encarando a rua iluminada pelos os vários carros e pelos o faróis. Com o silêncio, conseguia ouvir as ondas da praia se quebrar, a brisa e o aroma fresco do mar em suas narinas a fazia se sentir viva.

"Nenhuma chamada perdida"

Olhava para o contato de Mary, querendo saber do seu sumiço estranho e repentino, nunca a deixava sem notícias e nem que fosse para terem uma briga, era melhor que nada. Olhou para o seu relógio, 21:00. Ouviu a porta do terraço se abrir e depois se fechar, lá estava a garota com uma bandeja na mão e com a cabeça baixa. Parecia concentrada, e realmente estava, Lalisa planejava cada palavra para não se atrapalhar, queria gaguejar o menos possível para não parecer uma analfabeta.

- O-bri... o-obrigada... - Lalisa fechou os olhos com força não conseguindo falar a frase que tanto ensaiou no chuveiro, ela ficou com medo da sua vizinha rir da sua cara, será que conseguiria agora - Obrigada p-por aceitar o m-meu pedido de de-desculpa.

Jennie ouviu quando ela soltou o ar pesadamente, sorrindo e caminhando até a sua - então - não mais desconhecida vizinha.

- Já disse na carta que está tudo bem. Não precisava se esforçar tanto. - ela realmente pensou que Lalisa responderia, mas não aconteceu, Jennie teria que se acostumar possivelmente com a falta de fala da sua vizinha - Hum, o cheiro é muito agradável!

- E-eu fiz... pra você. Espero que goste.

- Uau, tem muitos bolinhos aqui, eu e o meu irmão não vamos comer tudo isso, pode me acompanhar?

- A-acho que posso.

Lalisa olhou para mesma vista que Jennie encarava antes, sentadas juntas no parapeito as duas desfrutavam do doce que Lalisa vez, em silêncio, a loira não sabia o que falar, então queria muito que sua vizinha iniciasse uma conversa paralela, mas não tão pessoal para não responder possíveis perguntas desconfortáveis.

- Acha a vista bonita? - a morena não queria ser deixada no vácuo com uma possível pergunta, então aleatoriamente olhou para o mesmo lugar na qual sua vizinha olhava, também apreciando as luzes distantes.

- Sim, é e-encantadora.

Jennie se perguntava se ela tinha gagueira, ou era um nervosismo, ela não sabia o real motivo por Lalisa falar daquela forma. Talvez pela falta de comunicação durante anos.

- Tem medo de elevador? - a loira concordou com a cabeça mordendo mais um pedaço do bolinho e deixando a calda de caramelo derreter na sua boca, aquilo estava muito bom - Eu também ficaria assustada se estivesse sozinha, mas você estava lá, então não fiquei com tanto medo.

- A-ainda bem... nós duas não iríamos c-chegar em nenhuma conclusão assustadas.

- De fato, você está certa... - Jennie riu olhando para a sua vizinha que apenas sorriu.

Lalisa sorriu para alguém, depois de anos ela havia dado um sorriso - meio escondido e torto - mas era um sorriso sim. E ela havia gostado de praticar aquele ato, exercitar a sua mandíbula, e fazer a morena rir também havia sido legal.

- Não quero ser invasiva de forma alguma, mas não pude deixar de notar a sua dificuldade na fala-

- É... eu não... converso com alguém a um tempo... m-meio que eu esqueci c-como se faz isso... me des... desculpe.

- Tudo bem, isso vai melhorar depois de um tempo. - Lalisa olhou para Jennie quando a mão da morena repousou em seu ombro, trazendo uma sensação de conforto, e nervosismo - Aliás, seus bolinhos estão ótimos, gosta de cozinhar?

- G-gosto, gosto muito.

- Eu acho que eu não sou tão ruim na cozinha assim, bom, amanhã posso te trazer alguns cookies, são a minha especiaria.

Ao ouvir a palavra "amanhã" fez o coração de Lalisa se encher de esperança em ter mais um "encontro" com a sua vizinha. Era isso que ela queria, conversar com ela, conversar cada vez mais para que no dia que conhecesse Jennie, não ter esse mesmo problema que tinha com a sua vizinha, que era linda por sinal, Lalisa não deixou de notar a pequena pinta em sua pálpebra e achou encantador.

- Eu sou natural dos Estados Unidos, mas me mudei pra cá irá fazer uns dez anos, meu pai é dono de uma empresa aqui e tivemos que vir com ele.

- Gostava dos E-Estados Unidos?

- Ah sim, era legal lá, mas aqui conheci as minhas melhores amigas, Jisoo e Chaeyoung.

Lalisa também queria falar da sua melhor amiga, mas ela não tinha nenhuma, não tinha uma amiga ou sequer uma colega real para poder "apresentar" verbalmente para a sua vizinha. Ela olhou para a bandeja vazia na qual levará os bolinhos, gostou do vento que beijou a sua bochecha e as ondas calmas no fundo se quebrando como uma bela melodia.

Jennie olhava para a garota como se aquele momento já fosse presenciado por ela, bom, confortável e querendo que fosse repetitivo, poderiam ser amigas, poderia ajudar a menina com a sua gagueira, ela percebeu que o seu vizinho não era nenhum fantasma, e sim, apenas uma menina tímida na qual não conseguia falar.

A noite testemunhava uma nova amizade nascer.

E o universo testemunhava um novo amor a caminho.

Distante, muito distante ainda, mas a caminho.

- Então você acha Kong a ilha da caveira melhor que Godzilla?

- P-pensa comigo o K-Kong é muito mais forte que o G-Godzilla. Em uma batalha q-qual venceria?

- O Godzilla!

- Claro que n-não!!

- Ok, temos que parar em um dia e assistirmos todos os filmes dessa franquia eu vou te provar que Godzilla é melhor!

- Vo-você só não aceita o f-fato que o Kong é melhor.

- Eu se fosse você fechava essa sua boca antes que eu te taque lá embaixo!

Jennie falou em meio a risadas enquanto tentava olhar para a sua vizinha que tinha um sorriso pequeno no rosto, seus olhos acabavam se fechando quando ria e Lalisa percebeu aquilo e não deixou de olhar por um tempo. Dessa vez viram a neve começar a cair mais uma vez naquele dia, a rua estava parcialmente escura e quando Jennie viu, já se passavam das onze da noite, não havia percebido que o tempo passava tão rápido, e mesmo com a demora para formular as frases a conversa era maravilhosamente natural com a garota loira, e queria manter aquilo.

- Acho melhor voltarmos, está meio tarde e amanhã eu trabalho.

- C-claro, mal tinha percebido o t-tempo.

Rindo no meio do caminho até o seu apartamento, Jennie parou na porta da sua vizinha estendendo a mão para a menina que a olhou confusa.

- Prazer, me chamo Jennie. - Lalisa não deixou de notar a coincidência pelo o nome na qual a sua seguidora também carregava.

"Mas a cidade era parcialmente pequena, e no mundo existiam várias Jennie's".

- P-prazer, me chamo Lalisa.

Jennie a olhou por longos minutos, o mesmo nome... tudo se repete nesse momento. Jennie fez o mesmo pensamento.

"A cidade é pequena, e no mundo pode existir várias Lalisa's."

- Até mais, Lalisa.

- Até, Jennie.

Letras (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora