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Nenhuma das duas conseguiram pegar no sono naquela noite, o pensamento ligado como um fio invisível de semelhanças, pensavam uma na outra, Lalisa mesmo com toda a sua raiva não parava de pensar naquele sorriso e principalmente naqueles olhos tão encantadores, mas do mesmo jeito que se recordava das coisas mais linda daquele mero relacionamento não oficial, conseguia muito bem se lembrar da dor, do que realmente fez acabá-lo com um simples estalo de dedos. Jennie não deixava de derrubar lágrimas ao lembrar da garota com a sua fala meio complicada, não deixava de lembrar das suas bochechas ganhando uma tonalidade rosa ao ficar tanto tempo se encarando antes de selarem os lábios, não parava de se culpar e se arrepender por ter colocado sua suspeita toda em cima dela, que não tinha nada haver com o caso.

A morena se remexeu na cama olhando para o teto com os olhos embasados, suspirando fundo diversas vezes, se continuasse assim não conseguiria reconquistar o amor e a confiança de Lalisa, não ali deitada em sua cama, sem ao menos pensar em fazer nada. Sem ao menos tentar fazer nada. Pegou o seu celular, querendo e precisando de uma única mensagem da loira pairando sobre o seu visor, mas não havia nada, nada além de uma curtida em seu primeiro post.

Curtido por: _Cygnus97_

Aquilo já era algo - pequeno - mas que não deixava de ser uma luz de esperança. Olhou para a caixa de mensagem vendo a primeira conversa, a qual se tratava ser com Lalisa, pensava se mandava algo, talvez mandaria, mas desistiu ao pensar que ainda era cedo, e que o melhor era dar um tempo e um espaço a loira, que iria aos poucos, um passo de cada vez. 

Lalisa chegou a delegacia assim que recebera a ligação de Yuki,, alegando que havia achado uma solução "neutra" para toda a situação, então quando se deu conta, lá estava ela na sala de interrogatório mais uma vez. O homem de pele morena entrou tirando sua arma da cintura como havia feito na noite passada, mostrando a Lalisa papéis, nas quais as condições eram aceitáveis.

- Eu discuti a questão com o meu superior, Lalisa, e a única coisa menos pior que a prisão, é essa casa de restituição para pessoas que adquiriram traumas durante a infância. Dei a condição de um mês para a sua estadia, mas não consegui reverter o tempo. Serão quatro meses nos quais você ficará lá, com direito a visita a cada dois fins de semana. Lá você conhecerá pessoas boas e que vão te livrar desse peso que a tanto tempo carregou, é isso... ou a prisão.

- Eu vou - a menina falou de um modo quase desesperado, assentiu para Yuki confirmando suas palavras e provando que não havia sido da boca para fora, ou pelo o completo medo - Eu vou para essa restituição.

- Ótimo. Iremos buscá-la as cinco em ponto. Antes disso... gostaria de ver o seu pai?

Lalisa pensou, mas pensou muito antes de assentir positivamente. Ela foi guiada até uma outra sala, enquanto Yuki lhe dizia que Andrei seria transferido para Dudinka, a uma cidade vizinha que teria uma proteção e uma segurança maior, Lalisa apenas pensava como seria sua vida a partir daquele momento. Então o monstro que assombrou a sua vida durante anos se pôs ali na sua frente, com as mãos algemadas e com uma feição claramente diferente do que Lalisa sempre viu.

- Ira se juntar a mim? - o homem perguntou de uma forma baixa fazendo Lalisa negar com a cabeça - Conseguiu responder em liberdade?

- Vou para uma restituição, passarei quatro meses lá.

- Wow... melhor que aqui eu creio... - o silencio se instalou no local, Andrei claramente envergonhado por estar tanto tempo ao lado da sua filha, a filha que mal conhecia agora, igualmente a Lalisa, que mal o conhecia juntamente - Espero que... possa me perdoar, sei que isso não tem perdão, mas eu... eu me arrependo.

- Parece que todos que me machucaram agora se arrependem - Lalisa falou lembrando automaticamente de Jennie - Mas o que aconteceu agora já foi, e você não pode mais trazer a mamãe de volta, nem os anos que passei trancada no quarto, você não pode fazer mais nada a não ser se arrepender, não é? Espero que... fique bem.

- Eu também espero que você possa recuperar alguma parte da sua vida, a parte que eu tirei, e que você possa viver como uma pessoa normal. Me desculpe por tudo, filha... fique bem.

Lalisa apenas derrubou uma lágrima solitária antes de se levantar e caminhar até a saída, antes disso, ela colocou sua mão no ombro do seu pai, olhando uma ultima vez para ele, os dois assentiram antes de cada um seguir o seu destino claramente doloroso. Aquela foi a primeira vez que Lalisa sentiu vontade de abraçar seu pai, uma sensação de aperto em não saber o que viria a seguir, então ela parou e correu novamente até o homem que já estava sendo guiado até a sua sela, olhou no fundo dos olhos verdes do cara e o abraçou, de uma forma apertada tendo a melhor sensação do universo quando sem jeito ele fez o mesmo. Seu suspiro foi de puro alivio naquele momento.

Jennie recebeu a ligação de Chaeyoung que ajudava Lalisa a arrumar suas coisas para que ela fosse embora, e não demorou até que a morena estivesse em tal apartamento, chegou sem fazer barulho algum, sua melhor amiga apenas apontou com a cabeça que Lalisa estava no quarto terminando de dobrar suas roupas. A morena entrou no quarto colocando a mão na boca em ver a loira ainda de costas para ela, secou as lágrimas caminhando até ficar centímetros de distancia da mulher, que reconheceu um perfume doce, que era o seu favorito. Lalisa se virou encarando Jennie, como se todas as vezes que se encontravam fosse as mesmas do que a primeira. 

- Quatro meses...?

- É isso ou a prisão - a loira respondeu sem manter o contato visual por tanto tempo - Não vou ser mais um problema na sua vida.

- Você nunca foi um problema na minha vida, Lisa... você sempre foi a solução para tudo... entenda isso.

- Você também precisa entender que eu estou magoada, estou com raiva de você, por não ter confiado em mim... p-por ter me usado naquela noite...

- Eu sei disso... eu sei de tudo isso, e eu odeio saber que provoquei dor em você, eu que prometi a mim mesma que nunca machucaria você... só deixe-me te provar que eu posso concertar cada brecha ruim.

- Acho que é tarde demais para isso - a menina falou olhando para as suas coisas e para o relógio que marcava apenas cinco minutos para ir embora.

- Eu não vou deixar você ir sem ao menos tentar... tentar te mostrar que eu não posso continuar sem você, que dói continuar sem você, que eu preciso de você, não só hoje, mas amanhã e depois, e depois... eu fiz coisas na qual eu me envergonho, eu acusei você com algo absurdo, e você tem todo o direito de me odiar, eu mereço. Só não... não me deixe, Lili... 

 A morena levantou o seu dedinho enquanto com a outra mão segurava o rosto de Lalisa, que sentiu aquele toque arder em todo o seu corpo, mas para logo dar lugar a conforto e segurança, estava confusa, mas entrelaçou o seu dedinho com o da menina, a puxando em seguida para um abraço apertado, aonde obteve lágrimas de ambas, alivio, sinceridade e no fundo uma felicidade que nascia no coração cinza que havia morrido, em ambas partes. Lalisa acariciou a cintura de Jennie como sempre gostou de fazer, enquanto a menina respirava fundo com um sorriso afagando os fios loiros que sempre continha um cheiro doce e agradável.

- Lisa, eles chegaram - Chaeyoung anunciou odiando tendo que atrapalhar aquele momento.

Lalisa pegou as suas coisas, olhando para Jennie que não tentava esconder as lágrimas, e que não segurou o impulso de abraçá-la antes que se fosse, Lalisa sussurrou que tudo ficaria bem, que tudo precisava ficar bem.

- Irei te visitar, Lisa... eu prometo - a loira assentiu deixando um beijo meio molhado na bochecha de Jennie, que sentiu seu corpo reagir de uma forma dolorosa pela ida. Olhou para Lalisa que se encontrava na porta, juntando a sua coragem, e o seu orgulho deixando ser verdadeira pelo menos uma vez nada vida - Eu te amo, Lisa.

A garota olhou para trás por cima do ombro, dando ou tentando dar um sorriso de canto antes de se virar de costas completamente pronta para partir.

- Eu sempre te amei, Jennie, e não será diferente agora. Eu amo você. 

Por fim atravessando a porta do apartamento e indo para aonde precisava ir naquele momento. Chaeyoung abraçou a amiga, que não conseguiria ser consolada tão cedo, apenas queria que toda a tempestade acabasse, mas sabendo que ainda faltava muito para aquilo de fato acabar. 

Letras (Jenlisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora