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- Pois bem, senhorita Lalisa... temos muito o que conversar. Está confortável?

Yuki tentou uma aproximação amigável com a loira, que ainda sentia cada músculo se retrair em raiva e decepção sobre o que ocorrera a pouco tempo. Ela assentiu ao homem, que retirou a sua arma ligada a sua cintura, deixando o objeto em cima da mesa em uma forma de paz entre aquela conversa.

- Me fale sobre você, senhorita Lalisa.

- O quer que eu fale exatamente?

- Me fale sobre os seus gostos, seus hobbies, me fale quem é Lalisa Manoban.

- Minha vida é de longe interessante, gosto de escutar música, rock é o meu estilo favorito, adoro escrever e as vezes desenho para me distrair.

- Como conheceu a senhorita Kim?

- Ela era a minha vizinha... ficamos presas no elevador uma certa vez e isso fez nós nos aproximarmos... e muito.

- Tem uma boa relação com ela?

- Tinha... - a garota falou com uma dor na voz, querendo e tentando a qualquer custo impedir as lágrimas de rolarem - Ela está me acusando... de algo que eu jamais teria a capacidade de fazer. Eu não estava com ela por dinheiro, ou por conta do seu sobrenome que até antes para mim era só mais um sobrenome entre muitos no mundo. Eu estava com ela... porque eu gostava dela... da sua companhia, da sua risada... de tudo que envolvia ela... nunca tocaria ou aceitaria o dinheiro dela... eu não sou uma... ladra.

- Sei que está abalada com a acusação tão desconexa, mas entenda que ela estava confusa, e não tinha como pensar naquele momento.

- Tanto faz agora... ela não vai mais precisar se preocupar se eu iriei rouba-la, não estaria mais presente na sua vida de qualquer forma.

Yuki ficou em silêncio por algum tempo, digerindo o que a mulher havia acabado de falar, não entendia o que havia por trás, como era a relação dela com Jennie antes, mas pelo os olhos marejados da loira, sabia que aquela acusação havia doído, mais do que o normal.

- Estamos pegando provas contra outra pessoa, senhorita Lalisa, o menino Ryder nos mostrou e nos falou algumas confirmações e acusações bem concretas e que fazem sentindo aos nossos olhos. Se você realmente não tem nada haver com esse caso, o que creio que seja a verdade, não se preocupe mais em guardar essa dor. Agora me fale sobre a sua família.

Lalisa parou no mesmo segundo, ela não tinha o que falar sobre a sua família, ela ao menos tinha uma para ser considerada uma fala. Seu pai era longe de ser sua família para ela, longe de ser qualquer pessoa importante para ela. Yuki percebeu o freamento da garota, suspirando em ver a mesma reação de Andrei que se encontrava na sala ao lado, mas que não sabia que a sua filha estava ali. O delegado realmente ficaria triste em ter que prender aquela garota juntamente caso ela soubesse do assassinato, o que provavelmente era verídico.

- Me fale sobre o seu pai, Lalisa.

- N-não... - ela sussurrou por fim deixando as lágrimas descerem, não gostava e nunca gostou de falar sobre seu pai ou sobre sua mãe, todos os pensamentos eram ruins e tristes sobre eles, ela não queria sentir mais dor.

- Da sua mãe?

- NÃO!

A loira gritou ao se lembrar da cena, tão gélida e refrescante em sua mente, a fazendo tremer e respirar com dificuldade, seus pulmões se fecharam com violência, a fazendo resfolegar, não conseguia inalar oxigênio- por mais impuro que fosse. Yuki rapidamente chamou os paramédicos que haviam no distrito, os quais atenderam Lalisa, estimulando-a respirar fundo e ao menos controladamente. Mas não era isso que ela queria, ela queria apenas uma pessoa a ajudando naquele momento. Mas ela não iria aparecer ali, talvez Jennie nem se importasse mais com ela.

Por fim, a garota se estabilizou, não totalmente, mas já conseguia respirar sozinha sem estímulo algum. Ela estava odiando passar por isso, ela estava odiando aquele lugar, aquele policial, o seu pai, a sua mãe e principalmente Jennie, um ódio nada saudável que a fazia serrar os punhos ao ter cada lembrança acatada novamente.

- Certo, Lalisa, isso vai ser mais difícil do que eu imagino - Yuki suspirou, se sentando novamente - Você tem algo a me contar? Sobre o seu pai? Sobre a sua mãe? Sobre... sobre o seu passado?

O cara já sabia de tudo, Andrei havia sido fraco, sabia que Lalisa havia sido cúmplice daquele crime, não diretamente, mas havia se calado em algo tão bárbaro. Ela não teria tantas chances de escapatória, e mesmo se tivesse todas elas a levaria para atrás das grades juntamente ao pai.

- Eu preciso ouvir isso de você, Lalisa. Seu pai me contou sobre a sua mãe, sobre a visão traumática que você teve, e presenciou. Não se torture mais, não se cale mais, já sabemos de tudo, de toda a verdade.

Lalisa o encarou com medo, sentia que o seu futuro não seria bom, não seria livre. Ela parou de pensar naquele momento, olhando para Yuki, talvez pensando que ficaria mais protegida em uma prisão do que no mundo lá fora, talvez na prisão não a machucaria como tanto fizeram com ela em esses longos anos.

Então foi com esse pensamento que a loira contou ao delegado Yuki cada segundo da sua vida antes, durante e depois da morte da sua mãe, contou como havia presenciado o crime, contou sobre as chantagens de seu próprio pai, até o dia que ele o lhe trancou dentro do apartamento, fazendo Yuki entender que ela não tinha nada haver com o roubo, os seus olhos transmitiam a mais pura verdade, a mais inocência tristeza e a clareza de que não se sentia segura. Yuki teve a certeza de que Lalisa fora a pessoa mais honesta que havia se passado naquela sala de interrogatórios e agora o delegado faria de tudo para não dar a garota uma pena alta de prisão, ou algo assim.

- Certo, Lalisa... me disse que não ligou a polícia pois seu pai a ameaçou de morte, não é?

- Sim... eu vou ser presa não vou?

Yuki se levantou, caminhou um pouco, olhou para a loira e deu um sorriso simples, tentando passar algum tipo de segurança a ela, mas que não seria acatada por ela.

- Vou pedir para você ir para casa agora, tome um banho e descanse. Te ligarei amanhã para te dizer o que faremos com você, certo?

- Meu pai... irá preso...?

- A voz e a escritura de prisão por assassinato e cárcere privado sobre ele será levantada, e sim ele será preso por isso. Já você... eu... nós não sabemos o que iremos fazer. Mas faço o que eu pedi. Você precisa de uma boa noite de sono.

Ela assentiu por fim ligando para Chaeyoung que não demorou a chegar e a levar para o seu apartamento, lá a garota dos cabelos vermelhos disponibilizou o quarto de hóspedes para que Lalisa ficasse até tudo se resolver, o que ela queria dizer - entre linhas - até a loira e Jennie se resolverem.

A menina tomou um banho, se jogou na cama e do bolso da calça tirou o colar de Jennie que ainda estava com ela, dês da invasão que a morena havia feito em seu apartamento, ele estava ali, junto a ela, lhe passando conforto e talvez uma mensagem que em algum momento, o final de tudo seria feliz.

Pegou o seu celular por fim olhando o seu blog, sentindo falta de escrever seus textos, mas não tendo um motivo, um incentivo para aquilo, não naquele momento. Até que algo novo a chamou atenção:

"O amor dói, o amor fere, o amor acaba com a gente, assim como nos une, nos constrói, nos faz sermos unicamente puros e leves. E a única coisa que não podemos deixar acontecer sobre o amor, é deixá-lo ir, é deixá-lo se acabar ou se quebrar. E caso isso aconteça, recomece aos poucos, o traga de volta, faça-o renascer e o concerte, mas nunca deixe de confiar nele, nunca duvide dele... nunca deixe de amá-lo. Eu ainda o amo... e você ainda o ama?"

Publicado por: 96nini.

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