Capítulo 22

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Já era a terceira vez que Tristan pedia a Deniel, e como sempre o homem ignorava seu pedido. - Tristan eu não sei onde fica.

Ele suplicou - Deniel! Ela pode estar em perigo!

O irmão segurou no ombro do mais novo, ele já havia visto aquele olhar, sabia o que se passava. Mas aquele assunto deveria morrer ali - Tristan, molly treinou conosco por quase oito meses, Sebastian está cuidado e a ensinando nesse tempo fora. Eu tenho certeza que, se algo acontecer... ambos estarão seguros. - ele notava a teimosia do irmão.- gosta dela, não é? 

O garoto demorou a responder, mas o fez com um leve aceno de cabeça. 

Ele prosseguiu - e ela? Sente o mesmo?

Tristan piscou - não sei... mulheres são complicadas.. - suas sobrancelhas se juntaram - como soube que a Júlia gostava de você? 

Deniel tossiu se afastando. - não diga bobagens, a Julia... é apenas uma companheira. - voltou a jogar os sacos com pedras finji na carroça. - além do mais, ela... não faz meu tipo. - deu de ombros. 

Tristan riu levemente. Deniel, sempre havia sido um péssimo mentiroso, mas então ele voltou ao assunto - acha que a molly... gosta de outro?

Deniel parou um pouco, sua intuição lhe mostrava algo, que desejava não saber nunca. 

-... porque se outro homem - continuou o garoto - quiser se aproximar dela... eu vou ter prazer em o acertar com a minha flecha. - limpou as mãos em um pano. 

- Tristan. - falou de forma seria. - nunca mais repita algo assim. - o irmãos tentou replicar, mas Deniel o alertou - NUNCA MAIS!

O garoto assentiu. - sim, mestre.- resmungou o chamando pelo apelido que Julia o havia dado a alguns anos atrás. 

Deniel sorriu lembrando de Julia.  - vem, vamos pra casa, soneca.  - Tristan revirou os olhos. 

...

Usar calças de homem não era mais necessário para branca, então os vestidos que Julia a havia dado, colocaram mais cor o seu dia a dia. Branca sentia falta do campo, e de matrona. A briga pelo café, das histórias malucas de Charles e Carlos quando crianças, mas sentia falta de sua liberdade.  

- quando pretende voltar? - ela via basth calçar as botas outra vez. 

Ele resmungou - não me demoro.

- eu posso ir? - sorriu afável. 

Ele ergueu-se cansado. - vai me atrapalhar.

Branca bufou.

- não vou te atrapalhar! Não se esqueça que eu cuidei de você quando...

Ele rosnou - quando o que?! - ela piscou confusa - quando EU resolvi te proteger?! Ou foi quando eu tive a idéia estúpida de ter te enfiado na minha casa?!

Branca suspirou, voltou a cortar as verduras que havia colhido mais cedo. - está certo, vá. Apenas.. tome cuidado com seu ferimento, e com sua vida. - ele sentia a decepção em sua tonalidade de voz.

Sebastian sabia que estava sendo duro demais com ela. Mas odia-la era a única forma de à manter longe. Ele estendeu o braço afim de tocar seu cabelo escuro, que agora alcançava os ombros. Mas dá mesma forma que tentou tocá-la,  se retraiu e saiu a passos firmes rumo ao riacho buscar peixes para o jantar.

...

já devia passar das quatro da tarde, mas por causa do tempo fechado branca tinha a impressão de ser mais tarde, quando ela se atreveu a caminhar além do riacho que rodeava a casa, e descobriu que havia um pier ou o que foi um dia um pier, com suas taboas e pregos maltratados pelo tempo.  mesmo descalço ela se aventurou em caminhar sobre a construção inacabada, e de lá pode ver e sentir paz, como nunca antes.

não havia som algum, exceto o das arvores o do campo, e as vezes ela jurava ouvir o ruido que o vestido fazia ao se chocar contra sua pele. Branca não necessitava de muito, e até mesmo o nome Branca já não lhe servia, o sol já começara a dourar sua pele levemente, e aquilo a agradava muito. 

uma gota de água desceu por seu rosto, ela olhou os céus e sorriu. 

a chuva era um bom pressagio em sua vida, chovia no dia de seu batizado, chovia no dia de sua fuga, chovia no dia em que sebastian havia a tocado de forma gentil pela primeira vez, e agora chovia enquanto ela finalmente provava um pouco da liberdade. Molly, e seria assim que definitivamente se chamaria, havia decidido em absoluto que não importaria qual fosse o tamanho do seu monstro, ela o enfrentaria e então finalmente seria feliz.

seus olhos serenos pousaram nas colinas e em um caminho de pedras entre as folhas, uma aventura seria algo glorioso para ela, mas ao escalar o primeiro degrau sentiu uma fisgada de dor na perna recém cauterizada. o caminho ainda estava lá - um dia...- sorriu voltando pois a chuva ameaçava despencar dos céus.

...

Depois do treino, branca socava um tronco de árvore, Carlos a havia ensinado a suportar a dor, e nada melhor que socar árvores.  Sebastian a observava de longe, cada movimento, cada som que aquela criatura expelia o fazia querer passar mais tempo ali. Vez ou outra ela o olhava e com certa timidez, traço esse que o deixava intrigado e bobo, e voltava a fazer suas mãos beijarem o tronco liso da árvore.  

- Molly.

Ela parou o olhando. Ele ergueu uma fita, e ela se aproximou. - não estou com força para isso..- falava de forma ofegante. Seus treinos eram pesados e muitas vezes tentava ultrapassar o tempo estipulado afim de ganhar mais resistência.

Sebastian a olhou e sorriu - então essa é sua primeira lição. - sentou apoiando o braço em uma mesa. - quando não há mais o que dar, não precisa mais sentir medo do que pode acontecer. - branca segurou sua mão e ele as enlaçou. Ela o olhava fixamente e ele fazia o mesmo.

- eu não entendo.

Basth sorriu levemente - não se perde nada, quando não se tem nada. - ele observou os cortes em seu pulso, e tracejou com um dedo uma delas.- você não tem nada a perder. - Molly tentou soltar sua mão mas ele a segurou e a manteve firme. - orgulhe-se delas... são quem você foi. Mas não definem seu futuro.

Molly sentia a mão cálida e quente do homem a sua frente, seus dedos grossos e ásperos pressionavam sua mão pequena e avermelhada de tantos golpes  que havia desferido contra a árvore. Ele a olhou uma última, a moça mordia o lábio inferior com certa pressão, e isso era uma desvantagem para o único homem ali.

Ela assentiu. - tudo bem.

- pronta? - ele tentou sorrir o melhor que pode.

Em segundos uma queda de braço acontecia na varanda da casa.

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