Capítulo 24

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Sebastian era uma alma solitária. E provavelmente morreria antes de abrir seu coração e reais sentimentos a alguém que não a si próprio. E por toda uma noite se limitou a beber juntamente com Deniel e Julia em um canto da festa das flores. Ele via a garota vez ou outra, rindo e se arriscando a dançar com Tristan nas quadrilhas que tocavam, animando o local.

Júlia sorriu - vejo que está mais alegre essa noite Basth! - o homem a olhou e ela ergueu um sobrancelha sugestiva. 

- pelo contrário, quão tediosas são essas festas para mim, mas você já sabia disso Julia. - sua expressão neutra não amedrontava ninguém. 

Branca sorria do outro lado, e a cada vez que Sebastian ousava olhá-la seu rosto parecia ter se iluminado mais. E com isso outro gole de Rum descia em sua garganta. Deniel o tocou - como estão os dias em que passaram juntos?

- creio que ela já esteja pronta. - deu de ombros. - Molly... matou três lobos, dois cinzentos e um negro da montanha.- bebeu outra vez, Deniel e Julia o olhavam quietos.

Outra vez Tristan a segurava em seus braços e branca sorria. A voz de Julia surgiu calma - então... ela voltará? 

Sebastian negou. - não. - o casal se olhou. E antes que alguém lhe pergunta-se o porque, ele se retirou da festa.

Sentado perto dos cavalos, Sebastian observava a luz da lua. Ele suspirou e ficou ali, apenas imaginando algo, algo que não fosse a pequena criatura dançante a alguns metros.

Branca sentia que o coração iria explodir caso tentasse dançar outra vez, definitivamente Carlos não era um bom dançarino e Charles mais ria do que conduzia, já Tristan... dançar com ele significava desviar de olhares e possíveis beijos que talvez devessem surtir alguma efeito. Cansada a garota pálida andou até Julia que também parecia entretida na mesa, ela aproximou-se e sorriu. - oh, Molly! - a cumprimentou. - se divertindo?

- é estranho.- sorriu olhando para o salão lotado.- mas sim, não me lembrava de algo assim a muito tempo. - suor brilhava em sua testa. - onde...

Deniel apressou-se - ele está com os cavalos.

Branca piscou.- oh... porque haveriam cadeiras na Baía? - Julia gargalhou alto.

- pensamos que estava procurando por Sebastian. - Branca estreitou os olhos.

O casal ria a sua frente - estão bêbados? - Julia negou veementemente se desabando de rir - entendo... vou procurá-lo-lo.- acenou.

As noites naquela época do reino eram frias, e isso não era um incômodo para qualquer um que havia passado anos presa em uma cela ou em uma cozinha fria, manejando frigideiras pesadas de ferro bruto e frio. Branca sabia que estava fazendo uma burrice indo atrás do homem que a via como uma criança assustada, e que muito provavelmente a teria beijado por pena. O fato era que em seu caminho para a Baía, a garota já havia repensado diversas vezes, mas a cada vez que dar dois passos atrás, conseguia dar três à frente. Quando enfim o avistou sentado, Branca mau podia enxergar seu corpo por inteiro, as luzes não clareavam tão longe. Em seus pensamentos mais triviais, ela agradecia por não haver pisado em cobra alguma.

Ela suspirou e abriu a boca afim de tentar uma conversa mais tranquila.

- se está pensando em conversar sobre alguma bobagem, saiba de antemão que seus passos poderiam ser ouvidos até por um surdo.- a garota fechou a boca. 

Ela olhava para os próprios pés - pensei que não estávamos treinando.

Os ombros de Sebastian parecia tensos - não estamos... e falando sobre isso.- o homem fechava os olhos em segredo. - Deniel acha que já está pronta para voltar. Acho que ele tem razão, partimos ao amanhecer...

Branca se aproximou, seus protesto assustaram o homem. Que se ajeitou um pouco mais afim de ver o rosto pálido da garota. Ela piscou confusa - oras.. não tem nem um mês direito.- sentou ao seu lado, ambos podiam sentir o calor que emanava de seus corpos. - e eu não estou pronta... 

- matou três lobos..

- foi pura sorte.- falou rapidamente. Sebastian inclinou-se um pouco a olhando bem nos olhos.

- ah quem se chame de Caçador com esse tipo de sorte garota.- o homem voltou ao seu lugar cansado. - você é boa..

- não quero voltar. - ela resmungou.- não ainda...

Sebastian apertou as mãos contra o tronco velho da árvore afim de mantê-las ali. - você entende que pode haver uma guerra em seu nome... não entende?

Branca negou - não quero guerras... muito menos em meu nome. - o homem se manteve quieto. - eu não sou uma nobre... e a ideia de mais pessoas se machucando por mim, me assusta. - sussurrou.

Ele assentiu - você entende que existem pessoas sofrendo por todo o reino, não entende? - o vento gélido da noite fazia os cavalos se agitarem um pouco. - entende, que pessoas já morreram com isso.. pessoas boas, que não fariam mau a uma mosca. 

Branca negou - eu entendo... é claro que entendo. 

- então porque é tão egoísta?

- egoísta?! - ela se levantou, estava irritada. - como pode me chamar de egoísta?! Eu mais do que ninguém sei o que é estar nas mãos de uma maluca assassina. - Sebastian se ergueu, ela não estava pronta para aquela briga. - você não tem idéia do que é entrar em uma cela com 7 anos de idade e só conseguir fugir de lá 11 anos depois! - e Sebastian  sabia disso. -  E..e.. você ficou acordado a noite pensando em um resgate que nunca veio?! - os olhos antes alegres, agora se destruíam em lágrimas quentes que beijavam um rosto jovem e cansado. - você sabe o que é sentir frio, medo e fome por dias?! - Branca gritava na frente de alguém que outrora também havia sido marcado, ela comprimiu os lábios, os olhos transbordaram sua dor. E tudo o que Sebastian podia fazer, era a ouvir. - não me chame de egoísta Sebastian, você não sabe de nada...- o homem suspirou e segurou o braço da garota - me solte!  VOCÊ É UM ESTUPIDO! - o homem a segurou de forma bruta, e quando branca percebeu, estava descansando a bochecha no peito macio e quente do homem, aonde começou a desferir socos. Mesmo a força a garota se debatia e gritava, e tudo o que Sebastian podia fazer era acariciar seu pescoço e manter seu corpo junto ao dele em silêncio. - eu te odeio... - ele fechava os olhos calmo.

Branca estava assustada, confusa, e em um ato desesperado olhou nos olhos verdes e cansados de Sebastian. - não me odeie..- sussurrou.

Ela negou - me tira daqui...- ar quente escapava dos lábios vermelhos da garota a sua frente. - por favor...

Ele a abraçou e segurou sua mão, seus olhos se voltaram para a festa, então ele a levou  para junto de matrona,  que se mantinha quieta junto aos outros cavalos.

Na festa, Tristan caminhava pela segunda vez entre as moças que vez ou outra riam de alguma trivialidade. Já fazia um bom tempo desde a última vez que molly havia saído. Na mesa onde seu irmão mais velho estava, ele poderia ver melhor o lugar, e assim o fez. Júlia bebia outra dose de Rum quando ele se aproximou, a moça era dura na queda, e Deniel estava aprendendo aquilo na prática, outra vez.

Tristan estava preocupado com o desaparecimento da moça. 

Júlia gritou - Deus! - lhe lançou uma careta - eu nunca mais vou beber isso... ei tris! - riu virando outra dose.

- Deniel, você viu o de à molly foi? - a música alta explodia em seus ouvidos.

Haviam músicos e dançarinas por toda a festa, e sempre que alguém dizia algo sobre flores, todos gritavam um grande "Olé ".  O irmão sorriu - ela foi atrás do basth! 

Um frio lhe atravessou a coluna, e em segundos ele caminhava rumo a Baía, algo estava errado. E de fato estava, assim que seus pés tocaram a grama, os mesmo travaram ali. Ela estava em seus braços, ele a acariciava, e aos poucos um sentimento estranho se apoderou do corpo de Tristan. Ele nunca havia sentido aquele ódio e desespero juntos, era algo novo e inesperado. Então,  quando deu por si, molly era colocada sob a cela do cavalo, e antes mesmo que viesse a protestar, matrona desaparecia dentro da floresta. Correndo as mãos no cabelo, Tristan sentiu algo que nunca pensou sentir por um irmão. 

Ódio.

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