capítulo 37

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Branca observou suas mãos por um longo tempo.

As gotas vermelhas deslizavam por seus dedos, manchando a água limpa do riacho. Ela tinha os braços apoiados sob os joelhos, e os joelhos estavam dentro da água. Os salpicos da chuva que caía sob seu corpo, o barulho dos grilos e da própria água contornando algumas pedras na margem lembravam-lhe de seus atos recentes.

Ela engoliu em seco e ofegou se levantou depois de um tempo, observou o céu sob sua cabeça e caminhou rumo ao meio do lago, a cada passo sentia suas lágrimas quentes se fundirem na água gelada do fim de verão.

Ela mergulhou tentando abafar os gritos e tilintar das lâminas dentro da mina.

Num ato de dor, ela abriu os olhos observando o sol desfigurado pela água sob sua cabeça.

Depois de um tempo, submergiu tomando o ar que nem sabia ter perdido. Notou que a pedra onde estava sentada estava coberta com barro vermelho, ou seria sangue?

Desesperada afundou outra vez.

(...)

O sol quase não existia no final da colina e apenas um pequeno fio de luz ainda refletia em nuvens mais afastadas no Horizonte lhe dando a coloração rosada. Ela suspirou fechando os olhos outra vez.  Tinha dificuldade em caminhar, seu quadril ainda estava dolorido, mas iria sobreviver. Com calma sentou-se na mesa junto aos outros homens, com quem havia sobrevivido. Charles tinha um hematoma próximo ao olho, Carlos não conseguia fechar a mão com perfeição e reclamava de dor ao respirar,  Deniel tinha cortes em seu lábio e nariz, Filipe tentava concertar seus óculos com uma arame velho, Sebastian ainda não havia descido para o jantar e Tristan estava desaparecido desde então.

Charles segurou a colher com calma e tentou levar a sopa aos lábios mas se engasgou espirrando no rosto de Filipe qua havia acabado de limpar seus óculos.

Branca paralisou observando a cena.

Deniel mordeu os lábios levemente e de imediato ela sentiu uma gargalhada rasgando sua garganta. Em segundos todos riam de forma descontrolada da situação.

Filipe limpou os óculos outra vez entre risadas e Charles ria segurando seu estômago, ele dizia sentir dor, mas mesmo assim não parecia estar longe de parar de rir. Branca gargalhou até sentir que lágrimas quentes escapavam de seus olhos, suas risadas altas e desesperadas silenciaram todas as outras, até que num surto ela percebeu ter uma faca ao seu alcance e a empurrou juntamente com seu prato e toalha da mesa, deixando que tudo se quebrasse no chão. Deniel se ergueu rodeando a mesa, ele a abraçou e tanto Charles quando Carlos fizeram o mesmo.

- Sinto muito...- Carlos observava a pequena mulher em lágrimas e trêmula no chão da cozinha.

- sinto muito...-

- Branca, sinto muito..-

Sebastian caminhou com certa dificuldade rumo a cozinha, ele tinha um corte bem grande em seu abdômen, mas conseguia se mexer. Estava pronto para beber algo forte quando viu Filipe de pé ao lado de Deniel, Carlos e Charles acalentando a pequena mulher de olhos vazios.

Em seu íntimo, sabia bem o que ela estava sentindo.

Eles haviam prometido não fazer aquilo outra vez.

Mas então, ela gritou, e quando basth percebeu esmagava o crânio de um dos soldados com sua bigorna repetidas vezes frente a mulher que sentia amor. Sua fúria só crescia mais ainda ao ver seu lábio inchado e sangrando tremer, ao ver que sua roupa estava rasgada e que mau tinha calças para vestir.

A meta ideia de que aquele verme havia cogitado forçar ela, o fazia rir compulsivamente enquanto reduzia seus miolos a nada.

Sebastian agarrou-se ao corrimão outra vez e subiu as escadas. Só parando ao ouvir a voz animada de Tristan passar pela porta. O irmão tinha o rosto corado e cheirava a álcool, ele sorriu ao ver seu irmãos mais velho, retirou os sapatos de forma desengonçada quase caindo no mesmo lugar. - basth...-

Sebastian fincou seus dedos na madeira, como aquele verme poderia ser tão inútil?! Pensou irritado.

Tristan sorriu levemente e caminhou segurando-se rente as paredes. - porque estão todos com essas caras?! -

Branca observou a imagem do rapaz ruivo e estupido a sua frente. Com calma se ergueu e todos lhe deram olhares tranquilizadores. -Branca! - ergueu os braços tentando toca-la e Charles o impediu.

- onde você tava seu porra! - o agarrou pelo colarinho cheirando o rapaz - passou o dia bebendo?! -

Deniel suspirou negando levemente com a cabeça. - Santo Deus. -

- Ah... Para com isso! - riu tentando tocar outra vez na garota que o olhava com desprezo. - Branca! - ela o ignorou caminhando porta fora. - Ei! Branca...- Charles o segurou. - qual é?! Eu preciso falar com ela..-

Carlos observava os pratos quebrados do outro lado da mesa. - Que dia de merda...- suspirou - bem, vamos limpar isso. -

Deniel assentiu - Felipe, Charles cuidem do babaca...- se agachou juntando os pedaços de pratos. - vamos limpar tudo aqui, -

Ouvindo os protestos de Tristan, Deniel sussurrou -  Acha que ela ouviu? -

Carlos deu de ombros. - Nao faz diferença agora. -

Deniel assentiu irritado. - Mas que Droga ele tinha que beber tanto?! -

- Deniel, não dá pra voltar atrás. - Carlos juntou dois pedaços da porcelana quebrada. - isso não tem concerto...- suspirou passando as mãos pelo rosto. A porta aberta lhe chamou a atenção - Eu vou ver como ela está...-

Basth vestia um casaco pesado, estava ofegante e caminhava mal sentindo o corpo em seu abdômen. - Ela não está aqui. - seu corpo tremia.

- Que porra de vida! - chutou outra vez os pratos quebrados. - Eu vou atrás dela. -

Basth negou. - não! Você ainda está ferido.-

Ele riu - você também está idiota! -Basth caminhou rumo a porta o ignorando. - basth, porque isso é importante agora porra! -

- porque Eu a amo! - rosnou.

A revelação não surpreendeu nenhum dos dois, mas a voz embargada sim. Basth ofegou sentindo os olhos queimarem, e sentiu medo do pior. Carlos assentiu - Basth eu sei que você...-

- Não! - riu em lágrimas. - eu a assustei.

Deniel observou suas mãos por um segundo. - todos nós a assustamos..-

Ele negou, havia dor ali. - não, não como eu... - riu tentando raciocinar - eu... - cobriu o rosto. - Ela não olhou pra você como olhou pra mim... - limpou o rosto - como um monstro. -

Ele ainda podia ver os olhos assustados, as mãos travadas as pequenas pedras , o sangue em seu rosto e corpo.

- Basth, fique. -

Ele negou - Não, eu vou atrás dela. Fiquem aqui, pra caso dela voltar. -

A cada passo rumo a baia, mais a imagem de horror estampado em seus olhos o fazia temer. Basth montou em matrona e iniciou sua busca pela mulher que lhe pertencia.

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⏰ Última atualização: Jan 09 ⏰

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