PUBLICITÁRIAS

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Antes dela sentar na minha frente não pude deixar de reparar no vestido sem alça¹, preto e confortavelmente colado naquele corpo que, não tinha nem como me fingir de louca, era simplesmente sensacional pra uma menina daquela idade.

— Perdeu alguma coisa aí em baixo, Day?

— O-o que? 

Definitivamente eu era a própria tiazona tarada e nitidamente burra o suficiente pra deixar com que uma pirralha fosse mais safa que eu.
Vergonhoso, Dayane!

— Não precisa se cobrar tanto, até um poste olharia pra mim nesse vestido, tá tudo bem me olhar — disse sorrindo divertida não me deixando entender se era uma piada ou não — na verdade, eu até que gosto bastante quando você faz isso, sabia? 

Ela me olhava tão profundamente que não me deixava desgrudar dos seus olhos e o meu cérebro não conseguia reencontrar as coordenadas necessárias pra enviar um comando pra minha boca falar alguma coisa.

Ela chamou Jéssica até a mesa.

— Tudo bem? Eu quero um mojito com hortelã extra enquanto dou uma olhadinha no cardápio, por favor.

Jéssica anotou o pedido e se retirou por um instante até voltar brevemente entregando o cardápio pra ruiva a minha frente.

— Você vem sempre aqui, Day? — disse sem tirar os olhos do menu.

— Sempre, por que?

— O que você me sugere? — ainda sem olhar pra mim e, de repente, me vi desconfortável sem a presença daqueles olhos nos meus.

— O que você mais gosta?

— Hm, depende muito na verdade... 

Nessa altura minhas mãos já estavam se esfregando em baixo da mesa numa tentativa de conter minha vontade de pedir pra que ela me olhasse novamente.
Merda!

— Certo, então o que você gosta mais nesse momento?

— Nesse momento? — por cima do livro de capa de couro preto os olhos dela pousaram novamente sobre os meus — Nesse momento você.

Ela voltou a dar aquele sorriso maldito mas num tom extremamente acima de todos os outros que ela já havia me dado até então e, apesar do vendaval que soprava no meu ventre eu não poderia deixar isso ir além.

— Sinto muito, mas eu não estou no menu.

Os olhos dela permaneceram nos meus ainda mais atentos, o sorriso não titubeou um instante sequer!

— Que grosseria, Day. Eu apenas disse que de tudo o que eu mais gosto é a sua companhia — e o sorriso se transformou em algo que eu não pude decifrar, mas nos olhos uma certa inocência se instalou e eu fiquei completamente rendida à aquela mulher. Mas antes que eu pudesse pensar em dizer algo para me desculpar ela levantou o braço e chamou Jéssica novamente até a mesa.

— Anjo, hoje eu vou querer uma salada caprese, por favor.

— Como entrada, senhora?

— Não, não. Apenas a saladinha mesmo. Hoje tá muito quente pra mim — foi com a maior cara de pau que ela disse a última frase olhando pra mim na frente da garçonete que, obviamente, percebeu.

Puta que pariu, Carol!

— Então, Day — uma leve pausa antes de voltar a falar como se nada disso tivesse acontecido — por que você escolheu trabalhar com publicidade?

Eu levei um tempo pra reordenar meus pensamentos.

— Ham, na verdade não tem nenhuma história bonita por trás disso, foi pelo dinheiro mesmo. Mas até que acabei gostando no início e percebi que eu tinha talento e quando as coisas começaram a dar retorno foi quando eu entendi que havia feito a escolha certa. E você?

— Foi pelo dinheiro também. Meu pai é dono de cinco haras, ele sempre teve muito dinheiro, mas parece que pros homens dinheiro nunca é o bastante, não é? Então ele começou a criar gado também em uma fazenda no sul de Minas e logo ele já estava comprando sua terceira fazenda. Eu cresci vendo meu pai tratar os cavalos como meros objetos e depois a tratar os bois como comida e as vacas como escravas e com quatorze anos eu decidi parar de comer carne.

— Acho louvável demais quem consegue parar de comer carne, ainda mais sendo adolescente!

— Vi de perto muita coisa, sabe? Sempre fui uma pessoa atrevida, desde criança, então eu me enfiava escondido em tudo quanto era canto das fazendas do meu pai, era foda demais pra mim entender que eu tinha culpa naquilo tudo e que o dinheiro que eu tinha vinha daquele tanto de sofrimento. Foi aí que a publicidade entrou na minha vida.

— Na verdade não estou conseguindo fazer esse link entre uma coisa e outra, me desculpe.
Ela riu divertidamente.

— Eu sei, eu sei! Eu não queria mais ter que me sustentar com o dinheiro sujo do meu pai então eu comecei a procurar alguns profissionais que pudessem me dar um norte do que seguir pra ter sucesso, algo que tivesse a ver com a minha personalidade e que fosse, possivelmente, me dar uma vida confortável da qual eu sempre estive acostumada a ter. Todos os testes que eu fiz indicavam algumas coisas mas publicidade estava em comum em todos eles.

— Agora sim! E se cabe mais uma opinião profissional sobre o assunto, eu também acho que você está no lugar certo. Tem tudo a ver com você.

Nua (G!P) Onde histórias criam vida. Descubra agora