BOM DIA

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Notas da autora: eu sempre volto ❤️

Acordei com a maior ressaca moral da minha vida, meu quarto girava como se eu tivesse bebido todas as garrafas do meu bar particular, o estômago revirado e um gosto amargo na boca que mais se parecia com o sabor da morte.

Remorso.

— Argh! 

Tentei me mexer na cama enquanto tentava não pensar sobre o dia anterior em que eu eu me rendi como uma adolescente aos encantos de uma menina.

Uma menina.

Caroline não passava de uma menina sem juízo, e eu, bem, eu estava mais para uma velha solteirona desesperada por atenção e carinho, quão deprimente poderia ser isso? Esses julgamentos estavam fazendo tanto barulho na minha cabeça que nem me permiti pensar com clareza e me questionar se Caroline ainda estava sob o mesmo teto em que eu estava tendo aquelas crises existenciais, foi somente quando ouvi duas batidas na minha porta seguida do barulho da maçaneta que me dei conta de onde eu estava e em quais circunstancias estava.

— Mãe? — Letícia me chamou com a voz fraca e eu queria muito fingir estar dormindo mas eu não podia, afinal de contas eu, antes de qualquer outra coisa, ainda era uma mãe de família que precisava colocar as filhas em primeiro lugar em tudo — mãe? — ela insistiu e eu respirei fundo.

— Oi, filha, estou acordando. Você precisa de alguma coisa?

— Eu queria pedir se você não poderia deixar a Carol na casa dela, ela tem um almoço importante hoje em família e já está meio que atrasada.

Eu queria grunhir. Queria, desesperadamente, gemer em frustração mas ainda não havia me decidido se era porque ela ainda estava na minha casa ou se era porque ela estava prestes a sair dela.

— Ah... Pega a chave do carro e pode ir levá-la — eu quase supliquei.

— Que? — foi só o que ela disse com aquele tom incrédulo de quem sempre sabe que há algo errado comigo.

— Ela mora pertinho e você dirige bem.

— Desde quando eu dirijo bem pra dirigir o seu carro? 

Eu não tinha cabeça pra pensar em uma mentira mirabolante naquele momento, então eu só tive que apelar para um golpe baixo.

— Eu não dormi bem essa noite, filha.

— Ah... Sonhou com a mamãe de novo... — não era uma pergunta, ela sabia o que não dormir bem significava quando era comigo, eu sabia que essa desculpa iria levá-la a pensar na mãe e eu me senti miserável por isso, mas eu realmente não tinha condições de me livrar dela sem um desculpa inteligente, coisa que eu não iria conseguir fazer pelas próximos horas.

— Pega a chave, filha. Vai com cuidado, deixe um tchau pra sua amiga.

Ela não insistiu, fechou a porta novamente e eu pude gemer em paz, bom, não exatamente em paz mas, pelo menos, em voz alta e sem medo de ser ouvida. Me virei de barriga pra cima e encarei o teto ouvindo a movimentação pela casa até escutar o portão da garagem se abrir pra ser fechado em seguida.

Eu estava segura para levantar da cama.

***

— Sei que estava com saudades e tudo o mais que você comentou, mas vamos lá! Eu sei que faz anos que você não deixa suas filhas sozinhas num domingo pra encontrar um amigo por saudades, Day. O que está acontecendo? — Victor, como sempre, me colocou contra a parede sem a menor cerimônia e eu engoli em seco.

Por mais que eu soubesse que ele não iria me julgar e estivesse a ponto de sair pelas ruas gritando o que estava acontecendo comigo, ali, na hora de falar tudo que estava se passando na minha cabeça e no peito durante aqueles últimos meses as coisas pareciam ser muito mais difíceis do que eu pensava, talvez pelo fato de que dizer tudo aquilo em voz alta, pior, para outra pessoa, só deixaria tudo ainda mais real e assustador, eu estava perdendo a cabeça, perdendo todo o meu controle mental e emocional.

Nua (G!P) Onde histórias criam vida. Descubra agora