[1] Dores da Alma

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Nas montanhas mais densas e quentes do sul da Inglaterra, onde o vento rugia dentre as florestas causando um assobio assustador... havia um gato. O gato, meio rajado e variando suas cores do preto para o branco com olhos tão amarelos quanto a chama de uma vela, atravessou o mato alto da região e parou por alguns instantes, observando algo.

Um homem, de vestes negras e cabelos lisos com aspecto oleoso sentado em um banco de madeira atrás de um canteiro de rosas parecia esperar alguém. O gato não parava de encará-lo e se aproximou lentamente, pulando a montanha e passando pelo canteiro, mas não ameaçou se aproximar além daquilo. O homem, sério e olhando para apenas uma direção parecia não ter notado a presença do inofensivo gatinho.

— Eu sei que é você, Thompson. Pode se transformar.

O gato começou a crescer até se tornar um humano. Uma garota de cabelos prata como a luz da lua e usando um conjuntinho de vestido preto com bolinhas brancas e manta fina azulada, tomou seu lugar e andou devagar até o homem.

— Como sabia que era eu? — perguntou, sentando-se ao seu lado.

— Não havia me contado que se transformou em um animago recentemente?

Erina Thompson resolveu querer ser um animago a partir do momento em que recebera uma carta de sua amiga Berenice, do Brasil, em que ela tinha conseguido se tornar um animago de um falcão. Tendo a sua disposição o maior animago de todos os tempos, Erina pediu ajuda a Angus Iowe, residente da Casa de Repouso para Bruxos Avançados um enorme casarão que ficava às margens de um lago escuro e denso que se localizava abaixo da colina que podia se encontrar a fazenda da família Thompson.

Erina fez todo o ritual para se tornar um: disse o encantamento várias vezes, ficou com uma folha de mandrágora embaixo da língua por um mês, deixou o frasco da poção em um lugar que não batia sol e esperou a tempestade de raios para se transformar. O resultado não poderia ser outro: um lindo gato às custas de muitas dores e incômodos no início... e como amava esses felinos...

— Você se registrou, pelo menos?

— Sim. O senhor Angus me levou até o Ministério para fazer o meu registro de animago. Por que não vira um animago, Sevinho? Tenho certeza que você daria um lindo morceguinho...

— Não tenho interesse nisso. Eu sou um homem da ciência, dos químicos e dos caldeirões e não um estudioso dos animais. E você? Como está? Não te vi por dois dias...

— Mamãe. Ela anda me trancando em casa. Não quer que eu saia, faz um monte de perguntas para onde eu vou, a que horas volto... ela tem medo que algo aconteça comigo depois do que houve. V-você sabe...

Erina ainda guardava os traumas daquele dia em que foi brutalmente atacada e violada por dois bruxos marginais, que Severo Snape fez questão de matá-los e queimar os seus corpos com ajuda do professor de Defesa contra as Artes das Trevas, Kasimier Warren a qual se tornou o seu melhor amigo após o incidente.

— Sei. Mas eu estou aqui, sempre. O que eu temo, é que esta dor acabe te transformando em uma pessoa amarga. Você não precisa ser como eu...

— Pelo menos nos entenderíamos...

— Mas já nos entendemos. Eu só não queria que... fosse igual a mim. As coisas que passei, eu não desejo nem para o meu pior inimigo... ou quase... — Snape olhou com desdém para o lado direito.

— Vamos retomar nossas aulas de aparatação?

— Sim, mas antes eu quero ver os seus NOMs e sei que eles já chegaram, então nem tente esconder.

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