Capítulo 41

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- Lorenzo narrando:

Acordo suado e ofegante, procuro pela Emma na cama, mas ela não está.

Tive um pesadelo e não consigo me lembrar dele.

Esfrego a palma da mão no rosto enquanto tento acalmar as batidas do meu coração que bate furioso em meu peito. A sensação de medo e desespero que eu sinto é paralisante, angustiante.

 Emma a chamo na direção do banheiro, mas não tenho resposta.

Saio da cama e pego o celular na mesa de cabeceira. São 2:27 da manhã.

Caminho até o banheiro e dou duas batidas suaves na porta.

— Querida?  a chamo e como não tenho resposta abro a porta, mas ela não está lá.  Emma aumento o tom de voz para que ela me ouça, mas continuo sem resposta.

Saio do quarto com passos apressados, nem lembro de pegar minha arma. Meu coração que já não batia em sua normalidade agora é tomado pelo pânico... e se algo tive acontecido a ela?

Quando piso no corredor sinto algo molhar os meus pés e olho para baixo, o chão está ensopado de sangue e no mesmo momento o cheio metálico invade as minhas narinas.

 Emma grito e tapo minha boca com a mão, sufocando a ânsia que o cheiro de sangue provoca em meu estômago.  EMMA!  grito desesperado e começo a correr por toda a extensão do corredor.

O pânico que domina meu corpo o faz tremer incontrolavelmente. Se algo aconteceu a Emma eu jamais me perdoaria.

Chego a sala ofegante, o pânico e a corrida que eu dei deixam meus pulmões completamente sem ar. Me inclino para frente e apoio o peso do corpo nos joelhos, com as minhas mãos espalmadas sobre eles. Ofego a procura de ar, mas não me ajuda muito.

Quando ergo meus olhos sinto todo o sangue ser drenado do meu corpo. Como se o mundo tivesse parado de girar, naquele momento nada mais fazia sentido em minha vida.

Tudo pelo que eu tinha lutado até hoje foi em vão.

Meus pais estavam enforcados na sala, seus corpos sem vida balançavam suavemente de um lado para o outro. Seus olhos vidrados e sem vida demostravam o quanto haviam lutado pela vida. Eu já vivi essa cena antes e ela não me chocou tanto como da primeira vez.

Perco as forças do meu corpo e minha pernas cedem, me fazendo cair de joelhos no chão. 
Emma está ao lado dos meus pais, seu corpo pequeno e sem vida balança pendurado pela corda e eu me engasgo ao ver seu ventre dilatado, de uma gestação avançada.

 Não!  grito e seguro os meus cabelos, os puxando para que a dor física se sobreponha a dor que é ver a mulher que eu amo morta, junto aos meus pais. As lágrimas estão por todo o meu rosto, o encharcando, demonstrando toda a minha dor.

— Lorenzo?  ergo o rosto ao ouvir a voz da Emma me chamar. Seus olhos vidrados e sem vida me encaram e eu nego com a cabeça, incapaz de acreditar no que eu estou vendo.  Você jurou que me protegeria.

Ela segura a corda acima do seu pescoço a puxando, se enforcando cada vez mais.

— Emma, não!

- Emma narrando:

O final de Janeiro se aproxima, já estamos no dia 28. Quando foi que tudo passou tão rápido assim? Provavelmente quando perdi o controle da minha vida.

28 dias dada como desaparecida.

28 dias que a polícia não acha uma solução para o meu caso.

28 dias sem ver minha família e todos esses dias sendo tratada como uma princesa pelo Lorenzo.

Na última semana ele fez compras pra mim quando eu reclamei que estava sem roupas. Comprou de sapatos a lingeries, tudo escolhido por ele.

Eu não estou reclamando. Eu amo estar com ele, mas o meu maior desejo é voltar a minha vida normal. Não largá-lo, acho que não teria coragem, já estou ligada demais a ele, mas apenas voltar a viver.

Ainda estamos deitados na cama quando perco o sono no meio da madrugada.

Lorenzo, ainda dorme como o rosto sereno como uma criança, apenas um vinco suave entre as suas sobrancelhas acusa que algo o perturba.

Passo o dedo indicador para desfazer o vinco em sua pele e ele suspira. Murmura algo que eu não entendo e se vira, deitando de bruços.

Escovo seus cabelos com os dedos e dou um beijo em seu ombro nu.

Penso em voltar a dormir, mas meu estômago protesta. Decido ir até a cozinha e comer alguma coisa. Talvez isso o acalme e eu finalmente consiga pegar no sono de novo.

Coloco meu roupão grosso e felpudo por cima do pijama que eu visto e caminho para fora do quarto.

Percorro o longo corredor no ritmo que a preguiça me permite e não me assusto quando chego a sala e Guido está lá, parado como um cão de guarda ao lado da porta.

Nos teus olhos  - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora