Capítulo 47

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Entro na sala do Vicenzo tentando controlar o meu nervosismo e me sento no mesmo lugar que eu ocupei há minutos atrás, mas dessa vez só estamos eu e ele na sala.

— Cadê o Lorenzo? — ele pergunta assim que me sento.

— Ele... ele... — gaguejo sem saber o que falar. Não sei o que dizer, sinceramente. Gostaria de dizer a Vicenzo que ele está vindo, mas não tenho tanta certeza assim.

— Tudo bem, Srta. Davis. — Vicenzo se ajeita na poltrona e me encara com os olhos estreitos. — Sabe, Lorenzo está aqui há alguns anos e eu nunca o vi assim. — o encaro confusa e ele continua. — Ele sempre foi um homem reservado, são poucas as pessoas que o conhecem de verdade por aqui. — engulo seco com as suas palavras e constato que eu não sei nada sobre o Lorenzo, absolutamente nada. Eu não sei sobre os seus pais, sobre o seu passado, onde ele estudou. Eu nem sei ao menos que curso ele estudou na faculdade. — Eu sou um dos que o conhece muito mal, Emma, mas de uma coisa eu posso te garantir... por trás daquele homem enorme e daquela casca dura tem um ser humano incrível. Turrão e as vezes mal-humorado, mas incrível.

— Podemos falar sobre a minha mãe? — pergunto incomodada, tentando segurar o choro.

Vicenzo se ajeita de novo na poltrona e se senta mais na beirada, apoiando seus cotovelos sobre a mesa.

— Dê uma chance a ele, Emma. — ele pede olhando em meus olhos. — Garanto que nunca mais ele vai fazer o que fez. — eu assinto e desvio meu olhar do seu.

Vicenzo me pede para não contar a minha mãe sobre a máfia e sobre eu ter testemunhado o assassinato. No seu plano infalível para enganar a minha mãe eu fui sequestrada por um homem que se apaixonou por mim perdidamente a ponto de agir como um psicopata e me querer só para ele. Ontem eu consegui fugir dele e blá blá blá.

Isso podia funcionar na cabeça dele, mas eu sei que quando eu estiver sozinha com a dona Diane vou me sentir na santa inquisição. Não vou ter uma alternativa a não ser dizer a verdade a ela.

Minhas pernas tremem sem parar e preciso enxugar o suor das mãos na calça jeans diversas vezes.

— Onde está a minha filha? — ouço a voz da minha mãe fora da sala e me levanto em um rompante.

Quando penso em ir até ela, a porta é aberta e eu a vejo.

Mamma! — o grito é de alívio e de dor. Dou poucos passos na sua direção, mas ainda assim os apresso.

— Ah meu Deus! Emma! — seus braços me envolvem quando chego até ela e eu desabo.

Ela está emagrecida demais, seus olhos estão fundos, com manchas escuram embaixo deles e seus cabelos desgrenhados, sem coloração na raiz. Nunca vi minha mãe assim em todos os meus 29 anos de vida ou pelo menos do que eu me lembro deles.

A aperto em meus braços e os soluços do nosso choro balançam nossos corpos e o som deles ecoa pela sala.

— Deixa eu te ver. — ela me afasta pelos ombros e analisa cada parte do meu corpo. — Eles te machucaram? Você está bem? — seu desespero é quase palpável.

Enxugo seu rosto com os meus dedos e assinto com veemência.

— Eu estou bem, mamma. — garanto. — Me perdoa por tudo isso, me perdoa. Eu te amo tanto.

— Emma... — ela me repreende e me abraça de novo. — Isso tudo já passou, nós vamos para casa agora.

— Sra. Giodarno, nós precisamos conversar. — Vicenzo fala pacientemente, ainda sentado em sua poltrona.

Nos teus olhos  - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora