Capítulo 46

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Lorenzo abaixa seus olhos, fitando o chão a sua frente e quando ergue seu olhar de volta ao meu, eu vejo meu próximo reflexo nele.

Dor e desespero. É tudo o que eu consigo sentir agora. Seus olhos brilhando pelas lágrimas que ele tenta a todo custo segurar e seu lábio inferior preso entre os dentes me indicam o quanto ele está se controlando para não explodir na minha frente.

A dor é por ele ter mentido para mim por todos esses dias, enquanto ele sabia que tinha as respostas para todas as minhas perguntas, mas ele preferiu omiti-las. Ele sabia que tinha todas as saídas que eu precisava, mas as escondeu de mim por insegurança, por medo de me perder e é aí que entra o desespero. Perder a quem ou o que se ama, além de doloroso, é cruel e desesperador. Nunca, em toda a minha vida, eu senti o que eu estou sentindo agora. Um misto de raiva e amor, desprezo e compaixão. Ao mesmo tempo que quero abraçá-lo e colocá-lo em meu colo, desejo infringir a ele a mesma dor que me causou.

Talvez eu não deva julgá-lo, não sei o que eu faria no seu lugar. Não posso garantir que eu sairia gritando as informações aos quatro ventos quando existia a possibilidade de não ver mais quem eu amo.

Mas foi exatamente isso que ele fez comigo. Para me manter com ele me privou de fazer o que eu amo, de ver quem eu amo.

O quão fodida essa situação parece ser?

— Não diga isso, Emma. — ele sussurra e pisca os olhos várias vezes. — Eu tenho consciência de que errei, mas jamais machucaria você de propósito.

— Foi o que você acabou de fazer. — assinto tristemente. — Você sabia o quanto eu queria a minha vida de volta e você estava tão cego que não percebeu que você já fazia parte dela.

Ele se mexe e se senta na mesa de centro, bem a minha frente.

— Emma, me dê a oportunidade de me redimir. É tudo o que eu te peço. — suplica. — Fique, pelo menos essa noite. Descanse e amanhã conversaremos com calma, por favor.

Abaixo meus olhos e encaro os dedos das minhas mãos em cima dos meus joelhos.

— Acho que eu já tive o suficiente por hoje, Lorenzo. — sussurro magoada. — Eu preciso... ver a minha mãe e retomar a minha vida. Preciso ver como está a revista, meu apartamento...

— Só estou pedindo para fazer isso amanhã, por favor. — me pede com a voz calma. — Não tem onde ficar na delegacia, sem contar que Vicenzo não está lá, nada vai ser resolvido agora, só amanhã de manhã. — ergo meus olhos e o encaro. — Por favor, Emma. Eu não gostaria que você passasse a noite em uma cadeira desconfortável, até amanhecer. Está tarde, fique. Por favor.

Assinto contrariada porque ele tem razão. Se Vicenzo não está na delegacia, não adianta muita coisa que eu vá agora. Não posso ir para a casa da minha mãe, ela teria um baque terrível ao me ver. Depois de 29 dias desparecida, chegar na sua casa quase no início da madrugada de repente, eu teria que dar a ela no mínimo uma explicação plausível e eu não tenho essa explicação, infelizmente. Ainda preciso da orientação de Vicenzo sobre o que posso ou não falar, já que o meu caso corre sobre segredo do estado.

— Você tem razão. — concordo cansada. — Pode me levar amanhã de manhã? — ele assente com pesar e eu me levanto do sofá. — Vou me deitar então, estou exausta.

Não, eu não estou. Dormi quase o dia inteiro depois da noite de terror que tivemos ontem. Lorenzo sim precisa descansar, pelo que eu me lembro ele não dormiu nada na noite passada. Primeiro acordou desesperado com o pesadelo que teve comigo e depois veio a invasão da cosa nostra. Seus olhos fundos denunciam seu cansaço.

Nos teus olhos  - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora