Capítulo 48

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Desperto com um carinho suave no meu rosto. Mãos quentes e pequenas penteiam o meu cabelo com os dedos, me fazendo sorrir com a sensação de estar em casa novamente.

Diane é tudo o que eu tenho. A nossa vida inteira sempre foi nós duas para tudo. Sempre precisei do seu carinho, do seu toque, do seu colo, mas as vezes eu cuidava mais dela do que ela de mim e precisava repreendê-la como se eu fosse a mãe da história. Eu faria tudo por ela novamente e tenho certeza de que ela faria por mim também.

Ela sempre foi mãe solteira, não tenho lembranças nenhuma da convivência com o meu pai em casa. As coisas que me lembro são as que minha mãe me contou e meu subconsciente, automaticamente, criou lembranças do homem que ajudou Diane a me colocar no mundo.

Não a julgo por ter se ausentado tanto na minha infância, perdendo até momentos marcantes do meu crescimento e do meu desenvolvimento como criança, mas ela nunca teve ajuda de ninguém. Se ela não fizesse, nós morreríamos de fome.

Tenho muito orgulho da mulher que ela é e da mulher que ela me ajudou a ser.

Eu daria minha vida por ela e morreria também.

Buonasera, principessa. — sua voz suave, sussurrada, soa assim que abro os meus olhos. Ela está sentada na beirada da minha cama, do meu lado.

— Já está de noite? — me espreguiço e olho para a janela. O céu está negro, apenas a luz da lua escondida atrás de algumas nuvens.

— Já e você precisa comer alguma coisa. — ela diz e se levanta. Pega uma pequena bandeja em cima da cômoda do quarto e volta para a cama. — Fiz tortellini al brodo para você.

— Uhmmm... jura? — ela assente animada. Imediatamente sou assaltada pelo cheiro maravilhoso da pequena massa recheada mergulhada em um caldo de legumes, um dos meus pratos italianos preferidos, e meu estômago protesta na hora de fome.

Me sento na cama e recosto na cabeceira de madeira. Minha mãe coloca a bandeja em meu colo e eu como o tortellini gemendo de prazer, de tão gostoso que está.

— Luigi comprou as coisas para você. — ela diz com cautela, parece ponderar se deve ou não tocar no assunto.

— Eu me descuidei, mamma. Foi isso. — me explico matando sua curiosidade e limpo minha boca com o guardanapo de papel que está na bandeja. Afasto a bandeja de mim, a colocando sobre a cama porque acabei de comer. — Foi um erro estúpido.

— O que houve com você nesses dias, Emma? — ela pergunta triste. — Sim, porque eu não acreditei em nenhuma palavra do que aquele velho falou na delegacia.

Eu rio e ela relaxa sua expressão.

Conto tudo para ela. Desde o dia 21 de janeiro, quando vi Lorenzo pela primeira vez no hotel em Cefalú. Até a nossa briga sobre as suas mentiras, escondendo os meus documentos e o meu direito de voltar a NY para me manter ao lado dele. No meio disso tudo cito a perseguição velada de Francesco, o assassinato que eu presenciei na Catania, o fato de Lorenzo achar que me viu no hospital quando levou o tiro no porto em Messina e como, no meio disso tudo, eu fiquei sem a minha pílula.

— Esse Lorenzo parece mesmo apaixonado por você, filha. — ela diz pensativa. Ela não entendeu como eu decidi ir embora e deixá-lo aqui se ele me ama tanto.

— É complicado, mamma. — digo triste. — Eu tenho uma vida na América. Uma vida que demorei muito tempo para conquistar, você sabe disso. — suspiro pesarosa. — As pessoas sempre esperam que a mulher siga o homem, mas será que ele abriria mão de tudo para ir morar nos EUA comigo?

Nos teus olhos  - Livro 1.Onde histórias criam vida. Descubra agora