8.

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    O intervalo escolar está agitado, escuto conversas altas, risadas e barulhos de cadeiras sendo arrastadas próximo da onde estou sentado. Adolescentes com os hormônios a flor da pele flertam enquanto outros apenas degustam os seus respectivos lanches. E eu? Bom, estou passando o meu tempo conversando com minhas duas amigas e, nesse exato momento, ouço Mia reclamar sobre o quanto prefere dançar balé do que aprender equações, eu e ela detestamos a aula de Álgebra.

—Droga! —Levanto os olhos encarando a garota loira que está com expressão de fúria e lábios comprimidos. Ela larga com força o aparelho de tocar músicas deixando na mesa do refeitório onde estamos sentados.

—Jenna? —A morena pergunta estranhando tamanha braveza e eu apenas observo o desenrolar da cena.

—Quebrou, Mia. Essa droga de Walkman quebrou!

—Pelo menos eu trouxe o meu Discman, podemos escutar juntas na volta pra casa. —Mia sorri de modo reconfortante e tentando ser positiva.

—Mesmo assim irei ficar sem ouvir música. —Sua boca está com um beicinho e as sobrancelhas franzidas. —Não terei dinheiro para comprar outro.

—Não sei o porquê de você não pedir um emprego na sorveteria que tanto gosta. Você sempre gasta seus trocados lá. —Mia diz como se fosse uma ideia genial e realmente é. Dou um riso contido diante a situação da minha melhor amiga, mas Mia está completamente certa, toda semana batemos ponto no comércio.

—É sério, isso não podia estar acontecendo.

—O que não podia estar acontecendo é daqui... —Mia checa as horas em seu relógio de pulso antes de continuar a falar. —Cinco minutos o sr. Frederick passar prova individual. Agora vamos, tenho que guardar alguns livros no armário. —Ela diz antes de se levantar estendendo a mão para a amiga. —Você vai conseguir outro, relaxa. —Mia diz por fim e as duas caminham na minha frente.

    Quando deixo Jenna e Mia na porta da sala delas começo a pensar em uma ideia de deixar minha amiga feliz. Eu tenho uma economia do clube de piscinas da cidade, meu bico semanal todas as manhãs de sábado antes de encontrar com Jenn e irmos para a sorveteria. Talvez eu possa ajuda-la com seu Walkman.

    É uma péssima situação ficar sem ouvir música, mas também uma ótima chance de mostrar que a conheço bem até nas escolhas de músicas para gravar nas fitas. Não custa nada tentar surpreendê-la demonstrando que sei o seu gosto musical.

    Após chegar em casa depois da escola pego a bicicleta ao invés de ir de ônibus e saio em busca de um novo aparelho para minha amiga. Encontro um azul simples, mas que deve servir, dou uma última olhada para a minha mão que segura as notas de dinheiro que demorei alguns meses para juntar e entrego para o garoto do caixa da loja pedindo para embrulhar de presente. Agora só faltam as fitas, o que é o de menos para resolver.

    Depois de algumas horas tenho Steve Wonder, Mariah Carey, Michael Jackson, Cindy Lauper, Whitney Houston e, obviamente, Back Street Boys na playlist para a minha amiga. Ela já tem as suas fitas, mas algumas novas nunca fazem mal a ninguém, eu acho. E nesse momento a insegurança me atinge, minha mente está repleta de questionamentos se estou fazendo a coisa certa ao tentar surpreende-la. Porque não posso ser um cara com a autoestima elevada como o Brian? Mesmo ele sendo um imbecil, é pedir muito a segurança em si mesmo igual à que ele tem?

    Balanço a cabeça tentando afastar essa ideia ridícula, não vou me comparar a esse cara, com certeza não. Meus cachos estão começando a se formar nas ponta dos fios castanho claro, preciso com urgência cortar o cabelo. Tento ajeita-lo, mas os fios estão rebeldes, como sempre foram. Sorrio ao lembrar do quanto Jenna falava que gostava dele quando éramos mais novos, eu também gostava, mas mudar é sempre bom, nem que seja apena um corte. Além do mais, para mim o meu cabelo está melhor assim, mesmo que Jenn discorde com afinco.

Apaixonada por você (Young love) PAUSADAOnde histórias criam vida. Descubra agora