Fraqueza

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  Tudo em mim era dor. Estava com frio e extremamente fraca. Demorei um tempo até conseguir abrir os olhos, e ao tentar me mexer para por as mãos em um foco de dor em minha cabeça, notei que estava amarrada. Tudo foi um choque pra mim, despertei com um sobressalto violento e olhei pra frente.

Estava completamente amarrada, sentada em um banco no meu quarto, em frente ao espelho do guarda roupa.  Grudado ao mesmo havia um bilhete escrito a mão. Estava tudo meio escuro, exceto pelo meu abajur, mas forçando bastante pude ler:

" Fui à farmácia comprar umas coisas. Ainda preciso de você viva para que tudo funcione, Macaquinha.

Daniel"

Mal conseguia encarar a mim mesma, estava completamente encharcada e pelo frio podia dizer que era água gelada. Haviam bolsas de gelo derretendo no meu colo, meus braços e pernas tinham hematomas que não conseguia identificar a intensidade, pelo escuro, e na parte direita da minha testa havia uma grande mancha, provavelmente de sangue.

O que mais me machucava não era a dor latente dos ferimentos, mas sim o medo profundo que eu sentia agora. Estive apagada por muito tempo, não sei o quanto. Não sabia dizer se mais alguém esteve aqui, que dia era, onde Daniel estava, o que ele fez comigo... Eu não sabia de nada e isso me quebrava por dentro. Tudo que conseguia fazer era chorar.

Tentei me aquecer, mas estava extremamente fraca. Minha calça jeans estava encharcada de água gelada, o que só me deixava ainda pior.

Eu passei alguns minutos tentando processar tudo sem vomitar, até que escuto um barulho na porta. Merda...

-Thes? Está em casa? - Era Diego, finalmente alguém poderia me socorrer e... Espera. Não. Isso poderia ser mais um jogo dele. Eu sabia o quão longe Daniel seria capaz de ir para atormentar alguém.

Os passos vinham se aproximando cada vez mais, a medida que as luzes se ascendiam.

- Thessália? V-você... Você está aí? - Ele não iria me enganar.

- Eu sei que é você, imbecil. - respondi, tentando não tremer a voz, sem sucesso.

- T-thes o que?... Merda! - Ele entrou no quarto e viu minha situação. Como se faltassem forças, ele caiu de joelhos no chão e ficou me encarando, deixando uma lágrima cair. A essa altura eu não sabia mais o que pensar, no que acreditar. Comecei a chorar compulsivamente.

- Por favor... Não faça mais nada comigo... Eu juro fazer o que você quiser... Eu... Eu prometo voltar pro Brasil com você... Só me solta, Daniel... - eu falei, chorando. Tudo que eu mais queria agora era sair dessa situação, não sabia ao menos o que pensar.

- Dan... Merda! Merda, merda, merda! Como aquele imbecil entrou aqui? Inferno! Inferno! E-eu... não podia t-ter...  te deixado só! F-foi minha culpa... d-de n-n... - ele engasgou nas palavras por um tempo, até que conseguiu soltar. - De novo! - Diego começou a chorar. Era realmente ele. Quando Daniel se passava por alguém copiava apenas a forma, não a memória e os sentimentos. Não teria como ele saber a culpa errônea que Diego carregava no peito.

Ainda com os olhos cheios de lágrimas, mas se forçando a não chorar, Diego começou a me desamarrar, com cuidado. A cada marca de corda e cada hematoma que via em minha pele, Diego arquejava e engolia um soluço, apenas sussurrando "merda"

- Desculpa... - eu falei. - Por favor... - soltei, junto com um soluço. - Diego... Atira uma faca, por favor... - eu falei, totalmente engasgada entre soluços e alterações de voz.

Diego rapidamente entendeu o que aconteceu.

- E-espera... E-ele se passou... Por mim? - Diego perguntou, e logo puxou uma faca e atirou de forma curva. Seu poder. Era mesmo ele. - Filho da puta! Vem, eu vou te levar pro banheiro, vou limpar esse sangue.

Diego me levou pro banheiro, me ajudou a tirar as roupas molhadas e me sentou na banheira, com uma bucha de banho e água quase fervente.

- E-eu... Eu imagino que... a última c-coisa que... Q-que você queira s-seja... alguém tocando você. - Diego falou, tentando me dar o máximo de espaço possível no momento. - Mas eu vou ficar sentado aqui, no chão do banheiro, e-esperando você terminar. Até eu caçar esse verme você não vai ficar sozinha nem por um minuto, Thessália.

- Ele... Ele deixou um bilhete no quarto. Disse que já voltava. - falei, me recompondo um pouco apesar do trauma. O foco agora era manter nós dois vivos, para voltarmos à Mansão assim que pudéssemos.

- Certo, tenho facas e ódio o suficiente para acabar com a raça dele. No momento se concentre no banho e em procurar um roupa quente. O imbecil deixou as luzes apagadas, provavelmente para parecer que você não estava. Eu quase caí na dele... Mas eu senti algo estranho no ar, eu senti que precisava entrar. - Diego falou, e então me encarou por um tempo, logo fazendo uma expressão que cortava meu coração.

- Diego... Isso não foi culpa sua. Nós nem poderíamos pensar nessa possibilidade. Eu não faço a mínima ideia de como ele conseguiu chegar até aqui, e bom... Pelo menos você veio pra me proteger. - Falei, e Diego olhou pra mim com um meio sorriso.

- Vem, vamo por uma roupa quente. Eu preciso que você me faça um favor. - Diego disse, me levando para o quarto. Ele parecia raivoso e obstinado. - Sente ao banco novamente, e fique na mesma posição. As luzes estarão todas apagadas como ele deixou. Eu vou apenas passar a corda por você e sentar no sofá. Ele não vai me ver. Quando ele estiver entrando no quarto, antes que ele consiga tocar em você, ou ao menos lhe ver, eu o imobilizo e faço se arrepender de ter nascido. - Diego me entregou uma calça e blusa de moletom quentes que eu tinha, e me deu um casaco parecido com o que eu estava usando, para que Daniel não notasse tão rapidamente a diferença.

- Claro... Eu consigo. - Antes de sentar olhei para Diego. - P-por favor... Só promete que... Que ele não vai encostar em mim... - falei e voltei a chorar.

Diego me puxou para seu peito e me abraçou o mais forte que conseguia.

- Eu prometo, Thes.

Passamos alguns minutos assim, até que ouvimos a porta abrir.

Era Daniel, eu tinha certeza. Conseguia sentir meu medo crescer dentro de mim. Como se soubesse o que poderia acontecer, Daniel chegou ascendendo as luzes da sala, e em seguida tudo que pude escutar foram barulhos de briga e coisas quebrando.

Notas:

Babado 👁️👄👁️

Eai, o que vocês acham que acontece com Daniel?

Foi um capítulo meio sem ação, porém necessário. Achei importante contextualizar bem o medo que a vítima carrega para sempre de seu abusador, e também escolhi a dedo o personagem para tirar essa visão de pessoa desconhecida, horrivel e assustadora que as pessoas pintam um agressor.

Podem ficar tranquiles, vou dar um digno final pro filho da puta ✊✊✊

I Am Fire / Diego Hargreeves / The Umbrella AcademyOnde histórias criam vida. Descubra agora