Capítulo 1

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Serkan Bolat

Olho para o relógio pela décima vez. Engin já deveria ter chegado aqui há meia hora. Não sei o porquê dessa demora em checar um canteiro de obras.

Ando pela minha sala de um lado para outro impaciente e irritado. Odeio não ter o controle das coisas na minha mão. Depender de terceiros não faz o meu tipo. Gosto de tomar as decisões e ter o domínio da situação. Se algo der errado só tenho eu a culpar. E depender dos trabalhadores do meu pai é uma verdadeira batalha.

Desde que meu pai começou a negligenciar a empresa, os problemas não pararam de crescer. Atraso nas obras. Obras mal supervisionadas e até mesmo cancelamento de contratos levaram a holding a um péssimo momento. Não que eu me importe muito. Sempre deixei claro para ele o quanto não queria ser a cabeça da empresa.

Viver debaixo dos comandos de Alptekin Bolat estava fora de cogitação. Para ele, eu nunca deixaria de ser um menino que não consegue lidar com os problemas. Por isso montei meu próprio escritório de arquitetura totalmente independente dele e do seu dinheiro. Cresci e me tornei um dos maiores arquitetos da Turquia sem precisar usar nenhuma ligação com ele. E as coisas continuariam separadas, se não fosse pela sua doença e o pedido da minha mãe para assumir os trilhos. Dona Aydan tem o seu jeito de me convencer sempre.

- Serkan

Engin chama minha atenção

- Allah, Engin. Precisou de todo esse tempo para uma simples vistoria?

- Nem pergunte. Se você tivesse visto o caos que estava. Allah, ainda bem que eu fui, se não você teria explodido com alguém

Suspiro irritado.

- Ne? Eu falo sério, Serkan. A negligência do seu pai causou um caos enorme que não sei se conseguiremos arrumar. Além de que estamos atrasados até o pescoço com a entrega do hotel. Tirando todos os projetos da Art Life. Piril não dá conta de tudo sozinha e...

- Tá bom, Engin. Já entendi. Os problemas estão até o pescoço.

Continuo andando pela sala tentando encontrar uma solução para toda essa crise. Decidi fundir os trabalhos em um único lugar para controlar as duas empresas, mas até isso está sendo um problema. Pessoas demais para lidar. Suspiro sentindo o peso dessas últimas semanas. Quanto tempo faz desde que tive uma boa noite de sono?

Engin começa a andar impaciente e faz uma cara de que vai dizer algo que eu não vou gostar. Ele abre a boca várias vezes, até que finalmente cria coragem.

- Serkan, sei que você já disse não...

- Então não volte a falar disso, Engin.

Eu nao disse. Sabia que não iria gostar do que ele ia dizer. Não. Nem pensar. Uma fusão a essa altura não acabaria bem. Ter outra pessoa, uma pessoa desconhecida, envolvida em tudo não iria dar certo.

- Mas, eu vou falar mesmo assim. Talvez a fusão seja uma boa idéia, Serkan. Teríamos, não só dinheiro suficiente para cobrir os gastos, como teríamos uma equipe a mais para dividir todo o serviço atrasado. Eu sei que você não quer isso, mas talvez esteja na hora de fazer esse sacrifício.

- Já disse que é uma má ideia, Engin. Não insista.

- Mas eu vou insistir. Vou insistir até você perceber que está sendo um cabeça dura teimoso. Você não ouviu o que eu disse. Estamos atolados até o pescoço, Serkan. Agora devemos fazer o que deve ser feito, não o que queremos. E eu já cansei de você.  Estou saindo.

Meu amigo sai da sala me deixando ainda mais frustrado. Para Engin insistir tanto nessa ideia é porque a situação realmente não está a nosso favor. Ele sabe o quanto odeio essa ideia. E até me apoiou no início. Mas talvez esteja na hora de mudar as coisas.

Alma Gêmea✔Onde histórias criam vida. Descubra agora