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Ninguém pode afirmar o que nos mantém fechados, o que nos confina e o que nos parece enterrar, mas ainda sim sentimos que existem barreiras, paredes, muros

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Ninguém pode afirmar o que nos mantém fechados, o que nos confina e o que nos parece enterrar, mas ainda sim sentimos que existem barreiras, paredes, muros. Será tudo imaginação ou fantasia? Não acredito. Então fazemos a pergunta: Meu Deus! Será assim por muito tempo? Para sempre? Por toda a eternidade? 
— Vincent Van Gogh.

JÉSSICA SCARLETT


Por vinte dias consecutivos tenho sido observada pelo médico e enfermeiros que vinham todos os dias, de medicamento em medicamento sinto-me um pouco mais desperta, com mais força para ao menos manter-me de pé sem sentir cansaço absoluto — durante todo esse tempo não o vi, nem uma vez se quer, sorria se não sentisse preocupação por sua ausência, pois certamente está planejando algo, meu coração acelera ao constatar a droga do casamento que havia dito para a jornalista, largo a colher no prato de plástico, o café da manhã foi pouco consumido, era melhor do que deixar intacto…tenho me alimentado devido a insistência do médico, em nenhum momento ousei dizer a verdade, ou pedir que me ajudasse, pois através de suas ações eu soube que Sebastian havia o ameaçado, portanto, apenas segui com suas orientações.

De pé sinto certa tontura, me apoio na cadeira e busco respirar, inspirar e expirar até que minha visão não fique embaçada, tudo que pudesse ser usado como arma foi tirado do quarto, permanecendo apenas o necessário, qualquer objeto preciso seria usado sob a supervisão de uma das empregadas — não havia sequer um espelho, enquanto estava sedada foi tirado, caminho até a sacada, a altura não me impediria de pular, mas os seguranças do lado de fora do quarto sim, haviam recebido ordens claras de impedir qualquer tentativa minha de fuga ou suicidio. Ser a noiva do diabo desmembrou qualquer esperança de me ver livre dele, além de prisioneira, agora em breve serei sua esposa. 

Sebastian temia que eu tirasse minha vida pelo fato de querer ele mesmo fazer as honras.

Hipócrita do caralho, isso que ele era. 

Aceitar tudo isso sem estimativa de ser salva é um suplício sem um ponto final, com apenas vírgulas e mais vírgulas, sem plano algum de encerramento, fecho meus olhos, cerrando as mãos em punho, novamente implorando a Deus para que me ajude e me livre daquele desgraçado psicótico — cansada de estar ali atravesso o quarto e abro a porta, dois homens altos trajados em ternos escuros não olharam para mim, mas me seguiram conforme ando pelo corredor até as escadas, descendo com cuidado a medida que minha mente dispara flashes dos momentos em que corri tentando lutar por minha vida, e quando decidi acabar com ela; por reflexo vejo a cicatriz em meu pulso, a marca rosada é um lembrete de que por culpa dele continuo viva, por culpa dele continuo em seu domínio.

Descalça ignoro o frio em meus pés, precisava estar lá fora, nem que fosse por alguns minutos, os homens pareceram compreender silenciosamente o que eu queria, o da direita tomou a frente e o segui, até passarmos pelas portas de vidro, a área aberta e bem cuidada estava diante de meus olhos, inalo o cheiro gostoso de terra molhada e grama aparada, o ar fresco tocava minha pele, algo tão simples, tão insignificante em meio a tantas outras coisas, mesmo assim senti meus olhos marejados — pisei na grama e ali permaneço, sentindo o calor do sol em meu rosto, aquecendo minha pele fria…lembro-me de Hector; momentos felizes que passamos juntos, mentalizo meus pais, no quanto os amo, porra meu coração doia, já estou morta, não há como voltar atrás, para o dia em que o atendi na cafeteria, se fosse possivel, teria recusado, se soubesse que ele viria, teria fechado o estabelecimento.

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