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Na ética o mal é uma consequência do bem, assim, na realidade da alegria nasce a tristeza

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Na ética o mal é uma consequência do bem, assim, na realidade da alegria nasce a tristeza. Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que são tem sua origem nos êxtases que poderiam ter sido.
— Edgar Allan Poe.


 

SEBASTIAN VELARK

Por toda noite fiquei de guarda, odiando cada segundo que me pareceu a porra de uma eternidade, algo em mim exigia aquilo, inconscientemente estava preparado para impedir novamente uma tentativa de suicídio que partiria dela quando menos se espera — contive-me ao máximo para não a tomar com toda fúria e fome que nutria antes mesmo de cogitar a hipótese de a ter apenas para mim.

Friedrich Nietzche em seu pensamento retira a frase do autor grego Píndaro “Homem, torna-te no que és” aproprie-se das forças que o constituem, tome parte do movimento de auto-superação em curso constantemente dentro de si  — para mim é um tremendo eufemismo, pois não há como manter algo que surge por simples capricho, que renasce em seu próprio ser e domina-o, que toma posse literal, exilando o que deveria ter sido para o que jamais deveria ter existido. Soltando a fumaça para a escuridão que aos poucos torna-se dia, estalo o pescoço, me virando para ver Jéssika ainda dormindo na cama, os cabelos ondulados cobriam parte de seu rosto, o copo a minha direita encontra-se vazio, o cinzeiro que logo teria mais um cigarro adicionado, a solitude pouco me apetece em momentos tortuosos, estes que devoram-me vivo, permitindo que minhas ações sejam quase bestiais, irracionais e sanguinárias.

Cerca de duas horas a morena despertou, sai do banho segurando a toalha em volta do quadril, seu rosto aqueceu por minha semi nudez, é cômico o fato de por tudo, ela continuar inocente, quase imaculada.

— Tome seu café da manhã e se arrume, sairemos daqui meia hora. — Digo, atento a diferença de sua respiração, se o silencio fosse mais exímio conseguiria ouvir as batidas frenéticas do seu coração.

— Tá.

Me visto no banheiro, permitindo que ela entre logo depois, os acontecimentos anteriores se fixam em minha mente, estimulando a dor de cabeça permanecer branda, tomo um pouco do café amargo e checo e-mails enviados por minha secretária, ignoro totalmente a movimentação alheia, me pego respirando fundo, inalando o cheiro doce e suave devido a porta entre aberta do anexo — certamente Jéssika era meu karma, um anjo maldito enviado apenas para fazer de mim o pior dentre o pior dos demônios.

— Sente-se. — Ordeno.

O conjunto social escuro combinava perfeitamente com ela, a pele amorenada surgia por entre a camisa social devido alguns botões não terem sido fechados, os cabelos ainda úmidos exalam o aroma que se assemelha a flores do deserto — me amaldiçoo por reparar tanto, portanto desvio minha atenção para meu trabalho. Termino meu  café e chamo a equipe para levar nossas malas para o carro, nada do ocorrido chegou a ouvido dos civis, e assim permanecerá enquanto eu estiver caminhando por este mundo que pertence a mim. 

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