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Eros:

—Não ria Lohan, é sério.—falei indo fechar a porta.

—Eu sei, desculpe, eu sei.

—Ela abre a porta do carro pra mim, a do restaurante, pagou a conta do almoço, limpou minha mão quando me sujei por limpar o rosto dela.

Ele sorriu mais.

—Olha, ela foi criada por meninos, e esse cuidado ela aprendeu com nosso pai, ele era o espelho dela mesmo ela sendo o reflexo da mãe dela. . .

—Não são filhos da mesma mãe?

—Não, eu sou de uma namorada de faculdade, meus outros irmãos sim da mesma mãe, a mulher que ele casou por amor.

—Mas você ama seus irmãos.

—Óbvio, morreria por eles, e prometemos não nos separarmos nunca mais, mas meu pai ele nos dava dicas de como tratar as mulheres enquanto trabalhavam, e ele achava que Kay aprendia só a mecânica, mas ela ouvia e via tudo, não é atoa que é a melhor aqui dentro sem nunca ter ido para uma faculdade.

—O que ela aprendeu?

—Vou te contar uma história!-ele chegou mais pra frente.—A mãe deles odiava ver meu pai fedendo a graxa ou sujo dela, e sempre que ele se sujava corria pra se limpar, ele até inventou uma solução que tira qualquer resíduo ou cheiro de petróleo pra poder se limpar. E ele dizia "sua mãe vai me matar" toda a vez que se sujava.

—Por isso ela me limpou?

—Porque ela gosta de você bobão!-disse ele se levantando, colocou as mãos no bolso e o acompanhei até a janela onde ficamos a observando arrumar meu carro.—Ela o sujou naquele dia, não foi por querer, eles estavam consertando um carro, eu estava fazendo um trabalho sentado na bancada do lado deles, Dean estava brincando no chão com carrinhos e Jean dentro de outro carro fingindo que dirigia, mas Kaylane estava enfiada dentro do motor com ele.

—Ele ficava com todos vocês?

—A mãe deles trabalhava a tarde toda, e nós nos comportávamos, nunca fomos crianças incômodas, obedecíamos tudo.

—Foi esse dia que eles morreram?

—Foi. . . foi tão. . . rápido, ela viu um cano rasgado e o tirou do lugar espirrando óleo queimado, aquele quase preto sabe, bem na hora em que Kaylane correu e pegou uma toalha com a solução e tentava limpa-lo a mãe dela chegou de carro xingando-o por algo que não me lembro, mas não foi pelo óleo, não foi e eu já falei isso pra ela, mas na cabeça dela ela sente culpa, como se aquilo tivesse causado tudo.-ele engoliu o choro e coloquei minha mão em seu ombro.—Ela entrou no carro furiosa e ele saiu atrás, ela deu ré sem olhar pra trás e um carro vinha em alta velocidade batendo na traseira dela, o carro girou batendo e jogando meu pai contra uma mureta e ela atravessou o vidro da frente. Eu e Kaylane assistimos absolutamente tudo de mãos, parados no portão da oficina, o homem no outro carro ficou em coma e depois morreu no hospital, Dean e Jean não viram nada, eu os empurrei pra dentro do escritório pra que não vissem nada, eu sabia que Kaylane estaria tão quebrada quanto eu e não queria que os outros também ficassem.

—Você é um bom irmão Lohan e me orgulho de ser seu cunhado.

—Obrigado Eros.-ele me abraçou e voltou pra cadeira, fiquei a observando.—Ela gosta de você, acredite em mim, só. . . vai levar um tempo pra ela aprender a ser. . . mulher.

—Eu não quero que ela mude por mim, eu. . . me apaixonei por seu cabelo desgrenhado e cara de sono, por sua gargalhada e brincadeiras estúpidas, por seu jeito moleque de ser, por ser encantadora mesmo não achando que é, quem aprenderia italiano pra falar com um cozinheiro?-apontei com as mãos espalmadas em sua direção.

Lohan riu.

—Conheceu Jacó?!

—Sim, ela comeu um prato de caminhoneiro e mais um pouco do meu prato, quase morri pra comer meio prato.

—Sabe que pra ela te aceitar vai ter que estar disposto a aceitar o pacote completo né?

—Claro, eu jamais a tiraria de vocês. . .

—Não falo só de nós irmãos de sangue, aqueles garotos remendaram ela Eros, nenhum deles a vê com malícia a vêem como irmã deles, outro garoto só que com peitos.

—Eu os conheci, e sei sim, fui bem acolhido por eles.

—O que eu juro que achei um milagre, nunca ninguém de fora conseguiu se encostar naquele grupo, bom viu como olhavam para Ares né?

—Ouvi o que pensaram dele e fazem bem em manter ele longe dela.

—Se eu não soubesse que eles a protegem como eu a protegeria eles não entrariam em minha casa.

—Eles a amam, e eu de certa forma os amo por isso.-brinquei.—São bons amigos.

—Ficarei feliz se for você o cara que vai curar ela.

—Vou tentar, vai ser uma caminhada longa.

—Ah vai, até porque aquele Impala vai custar a sair da garagem, quem sabe um ajudante nos sábados a fazem ser mais rápida.

Kaylane saiu de baixo do meu carro e me pegou a observando, acenou pra mim descer.

—Ela ta me chamando.

—Vai lá. . . grandão!

Sai de lá rindo. Desci as escadas, ela entrou dentro do meu carro e o ligou desceu o deixando ligado.

—Perfeitinho!-disse ela.

—Posso te agradecer com um jantar no restaurante do Jacó?

—Eu. . .

—Não é um encontro, é só um jantar!

Ela sorriu.

—Beleza, saímos daqui direto e vamos pra lá.

—Vai me mostrar o motor novo?

—Quer ver?-perguntou com os olhos brilhando e a pupila se dilatando.

—Por favor!- estendi o braço dobrado e ela olhou as mãos engraxadas. —Ok, depois de você então!

Ela sorriu e foi na minha frente, pulando, abriu a porta de correr do "escritório" dela e lá estava o motor brilhando como se tivesse sido polido.

—Tcharam!-disse ela estendendo as mãos pro motor.—Motor V8 com 420 cavalos, restaurado especialmente pra mim, não é lindo?

—Uma joia!-brinquei.

—É. . . é sim!-ela passou a mão por ele.—Amanhã quando não tiver ninguém vou levar o Impala pra fora e você vai me ajudar a encaixar ele com o guincho.

—Pode contar comigo!

—Obrigado!-ela me abraçou.

Acho que eu posso começar a me interessar mais por carros.

Coração MecânicoOnde histórias criam vida. Descubra agora