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Eros

6 meses depois.

—Aí grandão!—chamou-me Konan quando eu ia saindo do trabalho.

—E ai!—falei apertando sua mão.

—Podemos conversar com você sem a Kay saber?

—Claro, aconteceu alguma coisa com ela?

—Não, mas vai acontecer!-brincou ele.—Vamos comer no Tako's a galera ta esperando lá.

—Bora, quer uma carona?

—Não, eu to de carro.

—Beleza!

O segui preocupado, o que será que não pode ser dito na frente da Lane. Nossa amizade estava cada vez mais forte, não desisti de tentar ser algo a mais, sempre consegui roubar um beijo ou dois e terminava sempre na mão debaixo do chuveiro. Só que Lane cada dia que passava se tornava cada vez mais linda, um mulherão, era nisso em que Kaylane estava se transformando. Não troco meus sábados por nada nesse mundo, só pra ficar na oficina com ela, aprendi inúmeras coisas, aprendi a usar uma toalha enfiada no meu macacão pra quando me sujasse de graxa ou óleo eu mesmo me limpava, os traumas que ficaram em sua mente eram permanentes, soldados em seu cérebro e ninguém, nem mesmo eu conseguiria cura-la. Pelo menos uma ou duas vez no mês nos reuníamos pra passar a noite jogando na casa dela, eu sempre tirava minhas casquinhas e ela sempre dormia prendida a mim. Todo mês quando suas regras desciam eu estava parado na porta dela enquanto todos fugiam, Lane diminuiu suas dores com aqueles florais que a senhora D'bous faz pra ela. O que nenhum amigo ou irmão desconfia é que Lane se transformou de uma tigresa selvagem em ursinho de pelúcia fofinho, e, não sou nem louco de contar a ninguém sobre isso.

Os rapazes já estavam pegando seus tacos e indo pra mesa.

—Pegamos o seu preferido!—disse Coringa me entregando o taco.

—Aqui o seu!—disse Abutre a Konan.

—Valew eu estava varado de fome!—comentei dando uma mordida no meu.

Levantei o olhar e eles olhavam os seus com os olhos desfocados.

—Podem desembuchar!—falei de boca cheia.

Eles suspiraram.

—Seguinte!—começou Truta.—Dentro de alguns meses vamos pra faculdade!

—E?

—Não vamos ter tempo pra Kay!—disse Tico.

—E vamos todos pra fora da cidade!—completou Konan.—Recebemos nossas cartas de admissão das faculdades.

—E como desde crianças nós sempre falamos que íamos juntos pra faculdade que aceitasse todos nós!—disse Abutre.

—E apenas uma delas aceitou todos nós.—continuou Coringa.—A de Yale.

—Mas é tão longe e. . .

—É por isso que te chamamos aqui!—interrompeu-me Konan.—Sabemos que você e a Kay tem uma ligação diferente.

—Ela não quer nada comigo!—murmurei.

—Aí é que você se engana!—disse Truta.—Faz o quê que nos conhecemos?

—Uns 7 meses!—falei.

—E da pra contar nos dedos quantas vezes Kay te chamou pelo seu apelido!—seguiu Truta.

—Ela te chama pelo nome, é óbvio que ela não te colocou no nível de amigos, ela te colocou em algum lugar mais . . . alto!—disse Coringa.

—E sabemos que você sente algo por ela!—disse Abutre.—Você não pega ninguém desde que veio pra cá, posso apostar tudo o que tenho no bolso!

Sorri de lado.

—Verdade, sim, de minha parte, sinto muitas coisas por ela, mas prefiro continuar amigo dela a . . .

—Não seja mais um idiota Grandão!—disse Tico.—Olha. . . todos nós aqui alguma vez durante nossa longa história, se apaixonou por ela, mas, preferíamos ser irmãos a perde-la, porque ela não queria ninguém.

—Mas com você é diferente.—Completou Konan.—Você não tem ciúmes de nós, não a afastou da gente, pelo contrário, parece que sempre fez parte deste grupo.

—Agradeço por pensarem assim, eu confesso que queria ter a idade de vocês só. . .

—Se tivesse nossa idade estaria indo pra faculdade conosco e ninguém ia ficar com a Kay!—cortou-me Tico.

—Não queremos que ela fique só, Kay pode parecer durona, mas sabemos que lá no fundo ela é tão dependente de nós quanto nós dela!—disse Coringa.

—Então está reunião é pra me pedir pra cuidar dela?

—Por favor, não confiamos em mais ninguém!—disse Abutre.—Você é um cara maneiro.

—Olha rapazes é o que eu mais quero nesta vida é ficar com ela, me casar e ter filhos com ela, mas não depende só de mim. . .

—Porra, me excluiram seus idiotas!—disse Kaylane atrás de mim.

—Nós não, você que anda muito ocupada ultimamente!—disse Konan cruzando os braços e fazendo bico.

—Foi mal!—disse ela indo até ele e sentando em seu colo.—Eu to correndo atrás de uns cursos e. . .

—Estamos ligados!-disse Truta.—Por isso não te chamamos.

—Eu quero uma mordida de cada!—disse ela mordendo o taco do Koana e falando de boca cheia.—Do que estavam falando?

—Faculdade!—disse Abutre.

—E ai já receberam suas cartas de admissão?—perguntou ela.

—Hurum!—Tico desviou os olhos.

—Ah qual é, vão me dizer que não passaram na daqui?

Eles negaram com a cabeça e ela engoliu em seco.

—Vão. . . pra muito longe?—a pergunta mal passou de um sussurro e Konan fechou os braços em sua cintura.—Pra onde vão?

—New Haven!

—Mas fica tão. . . que bom meninos, fico feliz que vocês vão ficar juntos como sempre planejaram.-Sua voz começou a ficar rouca como se prendesse o choro.—Vão me visitar não é mesmo?

—Cada feriado!—prometeu Truta.

—E quando nos formarmos voltamos pra morar um do lado do outro como combinado!—disse Tico limpando a garganta.

Lane assentiu.

—Não se esqueçam de mim!—sussurrou.

—Meu, você é nossa irmã caçula!—brincou Coringa.—Nunca vamos deixar de encher seu saco.

—E outra que vamos alugar uma casa só pra nós, então você pode ir ficar conosco quando poder!—disse Abutre.

—Eu vou sim, não vão se livrar tão fácil de mim.—seu sorriso tremeu.

—Então vamos dar um rolê no parque?—convidou Truta.

—Ah, eu. . . não vou hoje. . . tenho. . . tenho uma coisa pra fazer!—ela limpou a garganta e ficou de pé. Deu um beijo em cada um e por último em mim.—Vejo você amanhã!

Esperamos ela sair e os caras estavam fungando.

—Ela foi chorar não foi?—perguntei.

—Hurum!—disse Konan.—Ela nunca chora na nossa frente.

Suspirei. Eu sei pra onde ela vai.

—Vou ir atrás dela!—falei me levantando.—Fiquem tranquilos.

—Vai lá!—disse Abutre.

Entrei no carro e um calafrio percorreu minha espinha. Fui atrás dela na oficina. O Baby Blue dela estava mal estacionado no estacionamento da empresa, o portão trancado, entrei e tudo no escuro, só tinha luz no escritório dela.

Coração MecânicoOnde histórias criam vida. Descubra agora