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Kaylane:

Eu estava no sofá curtindo minha bad em paz comendo amendoim com chocolate olhando pra TV desligada, em silêncio absoluto. Alguém da duas batidinhas na porta da frente e entra. Deve ser um daqueles manés me trazendo mais chocolate antes que meu humor piore. Quando vejo aquele otário do Teco sorrindo, parado atrás de mim me levantei rápido.

—O quê faz aqui?

—Vim passar o final de semana com você gatinha!

—Já te falei pra não me chamar assim, e não temos nem mesmo mais amizade!

—Cara achei que você deveria estar com saudades de mim, faz 3 meses que não nos vemos e. . .

—Eu disse Otávio que não queria mais ver sua cara na minha vida, agora some!

—Ah fala sério Gatinha. . .

Peguei uma garrafa fazia de vinho na mesa de centro.

—Ei. . .

—Vai embora antes que eu mate você!

Senti aquela irritação odiosa de minha TPM me atingir como um vulcão em erupção e quebrei a garrafa no canto da mesa e avancei, ele começou a se retirar de frente pra mim, de costas pra saída, vi o medo o estremecer, eu não ia matar ele, não sou tão louca a esse ponto, mas um susto não ia fazer mal, então ele olhou para trás de mim e senti o cheiro do perfume da loção pós barba de Eros, não mudei minha expressão e nem virei pra trás, mas não consegui deixar de sentir alívio quando ele me tocou. Ou ele é muito louco ou muito confiante pra saber que eu não o machucaria. . . ou. . . me conhece melhor do que todos que me conhecem e me amam.

Entrei na onda dele quando percebi que isso afastaria aquele otário da minha vida então me prendi em Eros, eu queria devora-lo ali mesmo, até ouvir a batida da porta e cair na real, me afastei furiosa comigo mesma por interromper aquele desejo avassalador dentro de mim. 

—O que faz aqui?

Minha pergunta ríspida não desmanchou o sorriso do rosto dele.  Eros pigarreou e entrou na cozinha, segui atrás dele que arrumava o amigo dentro das calças, sim eu o senti pronto pra mim assim que me pegou no colo. Eros me estendeu um buquê de rosas coloridas, fiquei pasma, esfriando toda aquela lava dentro de mim, eu não sábia o que fazer. Eu não . . . nunca, ganhei flores em minha vida, eu. . . não . . . caramba que vontade de enfiar a cabeça em um buraco na terra, senti minhas bochechas queimarem. Limpei a garganta, mas eu não tinha fala. Eros se aproximou mais e pegou minha mão e colocou a base do buquê dentro dela, eu a peguei com força, sentindo o cheiro doce das flores.

—Para alegrar seu dia!—sussurrou ele.

—Eu. . . não. . . sei o quê dizer.—confessei olhando para as flores.

—Não diga nada, apenas cheire e admire-as, são suas.

Fechei os olhos e as cheirei profundamente e por fim as abracei. Cheirando-as mais e mais, eu acabaria com o perfume delas de tanto absorve-lo. Eros pegou uma caixa.

—Vem comigo?—perguntou saindo na minha frente pra área dos fundos. São as flores mais lindas que eu já vi, nunca cheguei tão perto assim, esfreguei o lábio em uma delas enquanto caminhava atrás dele. Eros colocou a caixa no banco da lateral. Tirou uma toalha fina e redonda com uma mandala desenhada, e a estendeu no chão. Sentei no banco com os pés pra cima abraçada naquelas flores enquanto Eros colocava velas coloridas na volta da toalha, duas almofadas uma de frente pra outra, ligou uma música mística no celular dele, acendeu as velas sentou na almofada com as pernas em lótus, deu duas batidinhas na almofada na frente dele, fui agarrada as flores e ele segurou meu braço pra me ajudar a sentar.

—Pode solta-las?—Neguei com a cabeça e ele sorriu. —Preciso de suas mãos, coloque elas sob suas pernas então.

Encaixei elas entre minhas pernas em lótus e ele pegou minhas mãos.

—O quê. . .

—Feche os olhos e respire fundo, vamos meditar sobre tudo que a gente gosta um no outro.

—Ainda não vi tudo em você!—brinquei mais calma.

—Então reflita a parte que conhece de mim.

—Ok!

Fechei os olhos e o espiei, estávamos de mãos dadas e ele estava de olhos fechados, observei seu rosto os traços da sobrancelha bem feita, o desenho do lábio, ele era perfeito, o cabelo estava perdendo o corte, ficando um pouco mais comprido de quando o conheci, o piercing no nariz que eu não tinha reparado que eram dois, um de cada lado. A lótus no centro do pescoço parecia mais viva hoje. Eros era um verdadeiro Deus. O que ele viu em mim, sou tão. . . sem graça, cheia de defeitos, o pouco que o conheço o que mais gosto nele é essa amizade que ele criou não só comigo, mas com os meninos também, então a trouxa aqui pensou alto demais.

—O que viu em mim?

Seus olhos se abriram me deixando sem fôlego.

Seus olhos se abriram me deixando sem fôlego

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—Tudo que eu não vi em mulher alguma.—murmurou ele.

Sorri debochada.

—Tipo?

—Força, determinação, inteligência, equilíbrio, personalidade, bondade. . . você é cheia de graça.

—Nossa.—suspirei.—Viu tudo isso em 3 semanas?

—Em 30 segundos!—corrigiu-me.—Vi tudo isso assim que você abriu a boca pela primeira vez, não minto, percebi boa parte disso antes de você descer do carro.

—Acho que está enganado a meu respeito.

—Ah é?—perguntou erguendo uma sobrancelha em desafio.—No que estou errado?—desviei o olhar.-você controlou um carro em alta velocidade, brigou com um cara maior que você, não se importou com a roupa que estava e mesmo braba prestou assistência, foi caridosa comigo, soube me julgar com um olhar e me deixou entrar no Baby Blue.

—Isso não significa que sou essas coisas, só sou observadora.

—Não seja modesta!

—Ninguém do seu tamanho bateria em uma garota do meu tamanho, você não foi nenhum pouco arrogante ou bruto em suas palavras, e parecia com medo de mim, suas tatuagens mais aparentes representam espiritualidade, seus olhos estavam calmos, seu carro me disse que você não se importa com material, então deduzi que você fosse uma boa pessoa e lhe dei uma carona, foi só isso.

—Nossa agora quem ficou sem saber o que dizer fui eu!—disse ele com um sorriso.

Coração MecânicoOnde histórias criam vida. Descubra agora