25

2.2K 368 153
                                    

— Olha, olha! — Samantha aponta para o corredor onde nossa antiga sala do jardim de infância onde estudavamos. — Você lembra quando eu impedi que o Harris, aquele babaca mirim que odiava, de entrar na sala porque ele não lavou as mãos depois de ir ao banheiro? — aceno sorrindo.

— Harris não era aquele garoto um ano mais velho que foi mandado pelos pais pra cá por mau comportamento? — ela confirma.

Me lembrar da garotinha ruiva e sardenha beliscando o chato do Lowrence no batente da porta a poucos passos de nós duas me fazia rir e sentir saudade da época em que dar socos nos braços dos garotos era nosso passatempo favorito.

Samantha, com seu braço entrelaçado ao meu, me puxa a cada minuto toda vez que que vê algo nostálgico.

— Não acredito que voltamos pra cá depois de tanto tempo. Não mudou nada. — Axl comenta caminhando ao nosso lado como os outros garotos. Ele sorria desconcertado para as garotas e garotos que apareciam no janela das salas do fundamental por onde passávamos.

A maioria tem no máximo uns 12 anos. Todos colando os rostos no vidro e acenando com sorrisos bobos como se Axl fosse algum famoso do Tik tok.

— Pelo visto, não estão acostumados com gente da nossa idade por aqui. — James comenta piscando para um grupo de garotas que deram alguns gritinhos.

— Elas não tem nem quinze anos.  — o intervenho antes que algum adulto o visse azarando menores de idade.

— O quê? — franze a testa assustado. — O que estão dando pra essas crianças? Você viu o tamanho do...

— James...— belisco seu braço. Após uma careta rápida de dor e massagem no braço, seguimos sem interrupções até o pátio, onde ainda se localizava o famoso playground.

— Ainda me pergunto como a Sam conseguiu que permitissem a nossa entrada na escola. — James retorna a discutir se sentado no espaço apertado do balanço infantil, um cena muito engraçada, de fato. — Afinal, por que deixariam cinco adolescentes visitarem um jardim de infância para fazer um trabalho da escola?

— Ser filha dos meus pais gera certos privilégios nessa cidade. — sorriu divertida para todos. Sam que observava o local animadamente, deu de ombros simplesmente — Não preciso anotar uma palavra se quer. Voltar aqui me faz reviver cada detalhe da nossa infância e, principalmente, do momento em que conheci minha melhor amiga. — sinto seu dedos apertarem os meus.

— Não vai se livrar de mim tão cedo, ruivinha. — a abraço de lado aproveitando nosso momento enquanto os garotos se entrertem, por algum surreal motivo, com os brinquedos.

— E pensar que ontem mesmo as duas estavam rolando a terra quase lago abaixo. — James zomba nos fazendo rir.

— Aonde o Axl está indo? — Miles indaga. E só aí percebemos que o mesmo havia se afastado silenciosamente, e que Miles estava calado até agora, o que me deixou intrigada.

Desvio meu olhar novamente para Axl quando todos começaram a rir. Ele estava comentando animadamente com algumas garotas do fundamental sobre o livro que uma delas estava segurando.

— Não quero me exibir, mas eu e o Maxon Schreave temos a mesma personalidade. — diz fazendo as garotas se agitarem trocando olhares umas com as outras.

— Não brinca! — sorriam.

— O buzzfeed não brinca, garotas. — respondeu galanteador. — Estão sabendo da adaptação, não é? Vai ser demais.

— Ele não é fofo? — Samantha indaga com a voz tão fina que poderia ser confudinda com um miado qualquer.

— Se você acha.

— Não sabia que ele é fã de A Seleção. — Miles cruza os braços ao nosso lado.

Leu todos os livros em menos de um mês. Já até conseguiu um livro autografado pela própria Kiera Cass.

— Não é o livro que tem aquelas princesas loucas que brigam pelo príncipe gato? — ela confirma. — Vocês dois se merecem. — zombo sendo empurrada pelo ombro.

— Ei! Princesa de Illéa! — James chama Axl — Temos que ir.

Após Sam ter tudo o que precisa pra sua redação, esperamos ele se despedir das meninas e voltamos para o corredor por onde entramos.

— É o seu lugar agora, Nella. — James me lembra.

— Você já escolheu?

Ontem, passei o dia pensando em algum lugar da cidade que poderia escolher como favorito, e só consegui pensar em um, mas para a surpresa de todos, eu nunca havia ido até lá.

— É aqui? — James indagou ao sair do carro. — A divisa da cidade?

— Até que faz sentido. — comenta Samamtha sorrindo para mim.

Ando até onde seria a linha imaginária que dividia Greendale e "o caminho para o resto do mundo" como é chamado a ruela quase dominada pela floresta densa adiante. Chegava a formar um belo túnel feito apenas de galhos grandes e árvores altas, folhas e algumas pequenas flores coloridas formando um arco perfeito.

Quem vive aqui a vida inteira dificilmente tem curiosidade de ultrapassar essa divisa e adentrar a ruela até a cidade vizinha. Tem algo aqui que prende as pessoas e faz cada pedaço curioso do mundo parecer irrelevante.

Devo confessar que Greendale parece possuir um pedacinho de tudo ao seu redor, isso vai da cultura, da comida, das pessoas. Cada pedacinho do mundo, e os habitantes daqui acham isso o suficiente para escolherem ficar.

Mas pra mim, é pouco.

— Eu escolhi a minha casa como lugar favorito, porque é onde minha família está e eu gosto de ficar com eles. — começo — Mas...eu lembrei daqui. Desde muito nova eu sempre quis sair de Greendale, e sempre encontrava um motivo para não sair ao mesmo tempo. Eu tinha medo...e-eu tenho medo de me afastar da bolha que criei vivendo por aqui, me afastar dos meus amigos , da minha família, me afastar da pessoa que eu sou agora pra viver outro tipo de vida e me tornar alguém diferente. Não que eu não deseje ir embora ou nunca sair daqui, mas escolher um meio termo. — ando até a linha limite, bem ao lado da placa de "Greendale espera ver você em breve". Coloco o pé em um lado e o outro pé no outro lado da linha. — Aqui eu posso ter o meio termo. Posso ter Greendale e o resto do mundo...ao mesmo tempo.

— Uau. — Miles suspira revelando um pequeno sorriso entre os outros.

— Que vibe mais "Um amor para recordar". — Axl comenta rindo. — Adorei.

Recebo um abraço de Samantha.

— Bom, acho que conseguimos. — ela diz por fim — Terminamos nosso trabalho.

Uma chuva de gritos em comemoração começou. Conseguíamos ver o  pôr-do-sol indicando o fim da tarde e o início do crepúsculo estrelado, normalmente só visto em Greendale.

Me lembro perfeitamente de ouvirmos músicas no rádio do carro enquanto conversávamos, todos deitados no capô de nossos carros até tarde da noite. Foi o dia mais memorável de todos os meus dezessete anos de vida, especialmente por estar — agora posso afirmar oficialmente — com meus amigos.

Continua...

Fala sério, eu amo muito essa parte da história. Espero que gostem tanto quanto eu.

Vou logo avisando que daqui pra frente, a história pode ser narrado por outro além de Miles e Kyle. Espero que gostem!

As Estrelas e Outras DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora