Capítulo XI: fugindo de James

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— Ele é um fofo. — suspiro com mais um elogio vindo de Mona — E super educado.

— Espera só até o tia Martinelli descobrir que você está namorando. — faço careta ao ouvir o comentário de Lorenzo.

— Não estamos namorando! — nego rapidamente — Eu mal sabia quem ele era até ontem na festa da Bloom.

Meu rosto cora estranhamente com suas palavras.

Eu nunca fui de corar. Que merda estava acontecendo?

— Bom, então vocês tem muito muita intimidade para duas pessoas que se conheceram ontem à noite. — Lorenzo implica provocativo.

— O que quer dizer com isso? — digo confusa os vendo olhar em uma única direção.

— É melhor correr.

Avisto James vindo em nossa direção ao sair de Lana com rabiscos em tinta néon nas janelas, o "James é um babaca" pichado no capô teria sido uma obra-prima de minha autoria. Isso era o de menos com o fato de que os olhos de seu dono estavam em chamas.

— Ky, corre...agora. — Mona volta a dizer tão assustada quanto eu.

Começo a correr em direção aos corredores dos armários a procura de algum professor ou supervisor que pudesse salvar a minha alma. Eu não fazia idéia do que passava pela cabeça de James naquele momento, mas sabia que chegava bem perto de um homicídio, e eu seria a vítima.

Sentia minha saia subir a cada passo rápido e meu cabelo - que já não estava em seus melhores dias - bagunçar contra o vento. Dobro o corredor me surpreendendo com o olhar confuso, talvez - para minha estranha felicidade - animado de Miles ao me ver.

Ignoro todas as possibilidades e concluo que as batidas rápidas em meu peito e o frio na barriga ao vê-lo sorrir para mim são resultado de minha corrida frenética para longe do meu melhor amigo enfurecido.

Sem pensar muito, pego firme em seu braço o puxando para correr junto a mim pelos corredores.

— Vem, vamos, rápido. — Me animo quando ele não recua e apressa os passos se igualando ao meu ritmo.

Dobro outro corredor escondendo nossos corpos, colados à parede. Eu não sou muito de rezar, mas tudo que se passava em minha cabeça era a oração de Andrea Bocelli.

— De quem estamos nos escondendo? — Miles indaga intrigado. Espio discretamente de onde estávamos vendo a sombra de sua silhueta dobrar o corredor.

— Shiu! Ele está vindo. — tiro qualquer vestígio meu do alcance de James voltando a me esconder. Miles fazia o mesmo ao meu lado colando seu ombro no meu.

— Antonella! — O grito de James me deu calafrios por todo o meu corpo — Você me paga, sua merdinha.

Merda é o seu...

Suspiro controlando minha raiva.

Odiava James quando fica bravo comigo. Ele se sentia moralmente correto me xingando dessa forma. Eu não o culpava tanto assim já que confesso que sou como o próprio diabo as vezes, mas agora, ele não está me dando oportunidades de ao menos me explicar. Eu não quis fazer aquilo, eu estava muito bêbada, apesar de ter uma grande possibilidade de fazer isso mesmo estando sóbria em meus surtos de raiva.

Quando a professor de química nos salvou sem ao menos saber que nos salvou, senti meu corpo se dobrar pouco a pouco da tensão e nervosismo que senti ao ver James. Sei que não durarei muito tempo nesta escola após a aula de química terminar e James voltar a me procurar, mas espero ao menos morrer dignamente me esforçando para penetrar o conteúdo de química na cabeça enquanto estou escondida com Miles na biblioteca.

Ave Maria, mutia plena. — resmungo em italiano enquanto Miles tentava me explicar da forma mais fácil possível o assunto que estamos estudando — Eu que fiz aqueles desenhos na Lana? — indago, o fazendo tirar sua atenção dos cálculos que rabiscava em seu caderno.

— Quem é Lana? — junta as sobrancelhas.

— É o carro do James. Eu tenho certeza que escrevi a frase, mas também desenhei os rabiscos em néon? — Ele reprime os lábios tentando não rir.

— Não, fui eu. — volta aos seus cálculos.

Pego o lápis de sua mão o fazendo me olhar.

— Me diga, Miles. — olho discretamente para seus olhos esverdeados — Nem nas minhas piores brigas com James, eu faria algo assim. Por que fiz aquil...por que fizemos aquilo?

— Você me contou que ele sempre é um babaca com você, e que desejava se vingar de todas as vezes que a deixou para trás nas festas, por outras garotas. — encosta as costas contra a cadeira suavemente me observando — Eu já não estava mais com tanto medo como quando roubamos o carro, e te ajudei.

Tiro os óculos de sol em agonia me surpreendendo com a pouca luz do local que ainda incomodava minha visão.

— Ele não vai me ouvir enquanto não descontar toda a sua raiva em mim. — faço careta impaciente para a futura gritaria de James.

— Olha, Kyle. Eu fui seu cúmplice. — analiso seu rosto despreocupado. Miles não me parecia nada nervoso com as consequências de nossos atos da noite passada, e com o pouco que eu o conheço, ele não é tão corajoso como está sendo agora — Tenho tanta culpa nisso quanto você. Não irá enfrentá-lo sozinho. Talvez, nem precise escutar a gritaria dele. — ergo uma das sobrancelhas interessada no garoto corajoso e super descolado a minha frente.

Talvez a noite de ontem tenha o deixado de bem com seus medos e inseguranças. Ver Miles mais confiante o deixou mais atraente, mas ninguém, nem mesmo ele, precisa saber disso.

— O que me sugere, bad boy? — alguns segundos de suas risadas após minha pergunta foram o suficiente para querer socá-lo de tão atraente que ele está.

Ouço sua idéia atentamente gostando do jeito como segue seu raciocínio. Ele conseguiu ser tão criativo quanto as minhas várias formas de refutar os castigos que meus pais me dão ou de me desculpar, como agora.

"Isso significa que esse será o começo de uma loooonga amizade."

Lembro-me de nós no telhado.

***

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