XVII

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— Esse lugar está abandonado. — reclamo começando a limpar os pratos dourados da bateria, intocada há muito tempo, do lugar.

— A escola não tem banda? — ele indaga tirando alguns instrumentos do lugar para serem limpos como a secretária nos ordenou.

— Tínhamos uma banda marcial para os jogos, mas simplesmente acabou. Foi como uma moda ultrapassada. Todos pararam de tocar e pediram para sair. Agora só temos as líderes de torcida nos campeonatos. — espirro ao final.

Reparo quando o garoto a minha frente observa uma guitarra abandonada em um canto. Sorrio animadamente ansiando para que soubesse tocá-la. Se isso acontecer, eu teria que socá-lo por ficar ainda mais atraente tocando alguma música dos Beatles no instrumento.

— Que tal continuamos com as perguntas? — proponho o fazendo me olhar.

— Contanto que pule a última. — volta carregar os instrumentos de um lado para o outro. Assinto lembrando-me de insistir sobre a garota por quem se apaixonou mais tarde.

— Sabe tocar algum instrumento desta sala? — volta sua atenção para a guitarra que o esperava — Eu sei que tem. — afirmo. Me dirijo até a guitarra preta com detalhes roxo nas laterais — Faça sua mágica. — lhe entrego.

Miles a pega, aceitando meu pedido em derrota. Ele deve ter reparado que sou muito insistente quando quero.

— Com uma condição. — semicerra seus olhos para mim — Que toque algo daqui também.

— Eu contei algo que não lembro à você, Miles? — desconfio.

— Nada demais, apenas... — foi até o ukulele entre a bagunça e me entregou — sobre isso.

— Tudo bem. — pego o instrumento.

Nos sentamos no chão. Me estico conectando o cabo da sua guitarra com a caixa de som. E como se lesse meu pensamento, Miles começa a tocar o início de "Something" dos Beatles. Me agito em meu lugar abraçando o ukulele em meu colo.

Miles se supera a cada dia, e antes que ele menos perceba, eu serei obrigada a beijá-lo por ser exageradamente perfeito para mim.

— Desculpe, mas eu vou ter que me casar com você. — digo assim que a canção termina.

Ele sorri timidamente curvando a cabeça para frente. Suas bochechas estão vermelhas, o que combina perfeitamente com seus lábios da mesma cor.

— Gosto de deixar você envergonhado. — solto.

— Gosto que me deixe envergonhado. — desvia o olhar ainda com o sorriso retraído nos lábios naturalmente aveludados. — Sua vez.

Mordo o lábio inferior com seu aviso. Ajeito o ukulele em meu colo.

— Não conte à ninguém sobre isso, está me ouvindo? — digo em tom de ameaça. Ele assente esperando que começasse.

Passo meus dedos pelas cordas relembrando as cifras da canção que tanto gosto. Segundo após tocar a melodia, começo a cantar timidamente vendo a boca de de Miles se entreabrir. Ele está chocado e me animei ao deixá-lo assim.

Eu quero amar um garoto
Do jeito que eu amo o oceano
Queria não ter medo
De tudo o que tenho quebrado
Eu sei que devo me comportar
Para conter toda minha emoção.

Mas eu quero amar um garoto
Do jeito que eu amo o oceano

Como uma caverna escondida
Estou sempre aberta
Eu mantenho o espaço que você fez
Estou vazio mas ainda esperando
Eu tenho uma sensação
Um terrível medo invadindo.

As Estrelas e Outras DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora