49.

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MILES

Avisto o sol de pôr ao horizonte logo escurecendo tudo ao redor, as redes de transmissão ao longe, as árvores, o pouco do lago que se podia ver. O caminho para o resto do mundo não parecia mais tão glorioso sem as luzes amareladas da tarde entre suas folhas.

Toda a tarde foi substituída pela noite estrelada.

As estrelas.
Elas sempre voltam a aparecer. Sempre.

— Então como posso simplesmente esquecer das drogas das estrelas, se tudo o que elas fazem é me lembrar de você?! — penso alto, gritando para o nada — Todas as porras das estrelas são a prova de que podíamos ter ficado juntos!

Mas abstrusamente impossível, a possibilidade de dois adolescentes idiotas e temperamentais, com expectativas tão elevadas e sonhos tão distantes, ficarem juntos.

Inexplicável.

Minha mãe disse uma vez que existe uma palavra para coisas impossíveis de serem explicadas.

Se chama inefável.

Significa o que algo não pode ser expresso verbalmente. É um termo utilizado para identificar algo com atributos de beleza e perfeição tão superiores aos níveis terrenos que não pode ser expresso em palavras humanas. 

É essa a sensação que Kyle me traz.

Por isso, pelo fato de algo tão profundo não poder ser explicado com palavras, o que eu posso fazer pra que ela entenda que eu sou inefavelmente louco por ela?

E mesmo que fosse possível, que coragem eu tenho pra ir até aquela garota incrível e dizer tudo o que eu sinto?

Desvio o olhar do céu, avistando dois carros se aproximarem freiando bruscamente a alguns metros do meu. Logo pude ver que o gipe de Axl e Lana.

— VOCÊ NUNCA ATENDE O DESGRAÇADO DESSE CELULAR? — Mona sai do carro enfurecida.

— Mona? — indago surpreso.

— Não, é a sua mãe! — zomba, terrivelmente zangada.

— Miles, a Kyle vai pra Itália. — James diz rapidamente.

— Espera, ela vai se mudar pra Itália? De repente? — Desço, em um pulo, do capô do carro.

James demora a responder, parecendo hesitar.

— Sim! Ela vai! Pra...pra sempre! Então, é melhor se despedir logo e ao menos deixar que ela saia de Greendale sem mais alguém pra odiar além da cidade.

— C-como? Onde ela está? — me aproximo de todos.

— Deve estar chegando. — Sam responde — Ela já havia ido quando chegamos na casa dela. Pegamos um atalho até aqui para a alcançamos.

Segundos depois, o carro da família Martinelli se aproximava. Todos nos juntamos, um ao lado do outro vendo o carro diminuir a velocidade.

— Não faça uma besteira, outra vez. — Axl diz para mim.

Certo, eu disse milhares de vezes que vou me afastar de Kyle por que sei que acabaria sozinho como aconteceu com a bendita Eleanor Rigby, mas pra ser honesto, eu sou um covarde medroso de merda.

Estou agindo por medo, medo de me machucar de novo, mas talvez eu queira me machucar, talvez eu queira me machucar por ela.

Avisto o adesivo gasto dos Beatles, com "All we need is love" em letras coloridas. Eu havia tirado da parede do quarto, não consegui me desfazer, e colei no painel do carro.

Pela primeira vez aquilo não me trazia uma lembrava triste e desolada da minha antiga namorada que havia encontrado há algumas semanas atrás. O arranco sem pensar duas vezes.

Eu não sou mais o mesmo garoto antissocial e triste que chegou em Greendale no começo do ano. Eu tenho mais amigos agora, já roubei um carro com uma garota estranha e atravessamos a cidade como loucos, invadimos um  velório. – Bom, disso eu não me orgulhava (pobre, George), conhecemos a Blair e o Thomaz, o casal de idosos mais perfeitos que eu já conheci, e que nos deixaram podres de ricos de um dia para o outro.

Eu quero arriscar tudo o que Eleanor não conseguiu estragar por Kyle, e independente se ela decidir fugir ou não, eu jamais poderei queixar que não tentei.

As Estrelas e Outras DrogasOnde histórias criam vida. Descubra agora