18| O passado dele

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Preciso pensar numa solução rápida para esse problema. Voltei para meu quarto e Kimmy me aguardava.

—  Sim, a conversa durou mais do que esperava —  explico.

—  E qual era o assunto? — perguntou Kimmy, curiosa.

—  As guerras no Sul. Eu quase morri servindo de moeda para Rebecca. Ela exigiu que tirassem as crianças da guerra mas, como sempre, a Primeira Dama achou uma forma de contornar a situação. O que ela não esperava, era a astucia de Rebecca. Concluindo, quase morri e vim questioná-la sobre isso. A resposta foi bem pior do que eu esperava — conto.

Assim que mostro o corte, Kimmy fica boquiaberta.

—  Você poderia ter morrido, Joy!

—  Sim, tentativas de me matar não faltaram — digo, um pouco sarcástica.

— Estou falando sério.

— Eu também.

— E o que exatamente você falou com ela?

— Tudo. Falei das crianças, das injustiças, falei até que queria ir para as guerras — digo.

—  Você, o que?

—  Foi a única coisa que consegui pensar, além de insultos ao governo - afirmo.

Entro na banheira.

—  Joy, você está a meses aqui e ainda não percebeu como as coisas funcionam? Quando você vai entender que nós apenas obedecemos, apenas balançamos a cabeça, saímos nas capas do jornal e na televisão, vamos as festas e cumprimentamos diplomatas em nome da Primeira Dama e Pandora?! Vocês são troféus pertencentes a prateleira dela e do Estado. Nada, absolutamente nada é decidido por vocês, no máximo a roupa que usam e agradeça por poder fazer pelo menos isso — faz uma pausa, e anda de um lado para o outro.

Apenas reviro os olhos.

— Já até imagino o que deve ter falado para ela. Aposto que Carter também sentiu sua fúria. Ele não tem absolutamente nada a ver com isso, Joy — prosseguiu.

—  Mas ele é o capitão militar, óbvio que tem — discordo.

—  Não, Joy, não tem. — Ela inspira fundo, e prossegue — Carter é praticamente filho da Primeira Dama — quase sussurra.

— Como assim?

—  Os pais dele morreram muito cedo. O pai numa viagem à África; seu navio afundou perto da costa, mas poucos sobreviveram e infelizmente seu pai não foi um deles. A mãe morreu no parto. A Primeira Dama é tia materna dele, assumiu sua guarda para que o sobrinho não fosse para um orfanato. De qualquer forma, passou praticamente a vida inteira estudando num internato militar, porém antes que pudesse de fato começar a treinar para servir ao exército, participou dos jogos e até então mora aqui.

Ela despejou os sais de banho na banheira.

—  Carter tem enorme respeito por ela, e gratidão também, afinal de contas, se não fosse por ela, passaria a vida na miséria talvez. Por outro lado, ela o controla em muitos aspectos, é a cabeça do conselho mais fácil de controlar, já que é seu sobrinho. Além do mais, já que não teve filhos, Carter é o mais próximo de assumir seu lugar no conselho, e até se necessário, casar com outra herdeira de um país para fortalecer laços e aliados, evitando uma possível guerra — continuou.

—  Mas, achei que o poder fosse garantido por voto do povo — digo confusa.

—  Não, apenas caso um impeachment aconteça. O povo pode escolher que outro conselheiro assuma o poder, mas deve ser do circulo do mesmo conselheiro anterior, talvez um ministro. Agora, há um porém, caso um Primeiro Cavalheiro ou uma Primeira Dama tenham um filho, ou filha, eles podem subir no poder e assumir esses títulos mesmo se seus pais forem intimados — explica.

Por isso Carter mencionou que temos nossos "papéis" no concelho. Por isso que a Primeira Dama iria contra um relacionamento entre nós. Isso afetaria o futuro.

Inspiro fundo. Massageio as têmporas.

—  Então, ela de fato, não pode saber entre eu e Carter — pronuncio tão baixo, que parece um sussurro.

- Farei de tudo para ajudar vocês. Há tempos ninguém consegue arrancar sentimentos do Carter e você conseguiu. Você faz bem a ele, e ele a você. Consigo ver isso estampado na carinha dos dois pombinhos quando estão juntos - diz com um sorriso bobo.

- Kimmy, shhhh - jogo um pouco de água nela.

—  Fique calma, minha querida, só percebe isso quem sabe sobre isso. No dia a dia, parecem ser meros conhecidos.

Respiro aliviada.

—  Só tem uma pessoa que aparenta saber de vocês e não gosta muito — diz ela com uma cara azeda.

—  Ben — completo a frase.

—  Sim, contou para ele? — pergunta.

—  Na verdade, ele descobriu. Da pior forma possível — digo.

—  Ben realmente te admirava, ele sempre foi muito paciente com relação a você. Isso deve ter o abalado e muito.

—  Eu de fato não queria magoa-lo, amo ele mas como amigo, um melhor amigo — falo.

—  Ele vai entender isso, não se preocupe.

Paro na frente da penteadeira e Kimmy trança meu cabelo.

—  Boa noite, Jojo — diz ela sorrindo.

—  Boa noite, Kiki — digo, ainda mais melosa.

Começamos a rir e ela parte.

Encosto a porta e me jogo na cama.

Deadly Mirrors - 1° Rascunho - CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora